Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Zero de Conduta

Zero de Conduta

21
Jul08

A história mal contada dos Ho$pitais $A

Pedro Sales

No meio das referências ao descalabro da economia e às considerações de Vítor Constâncio sobre a política energética, tem passado despercebida uma das conclusões mais importantes do recente relatório do Banco de Portugal. Quatro anos passado, a empresarialização do modelo de gestão hospitalar continua sem apresentar nenhuma vantagem financeira. Em 2003, os hospitais públicos representavam 2,01% do PIB, agora são 2,00%. De resto, e para quem ainda tinha dúvidas, a transformação dos hospitais públicos em SA ou EPE nunca teve nada a ver com os ganhos de eficiência e produtividade reclamados pelos seus defensores, mas com uma forma expedita de evitar a contabilização das suas contas nos resultados do défice público. A desorçamentação, e a opacidade das suas contas, que assim escapam quase totalmente ao escrutínio da Assembleia da República, constituem o verdadeiro fascínio de um modelo que, impondo uma lógica contabilista sobre a gestão por critérios clínicos, nem assim consegue apresentar resultados quantitativos. Pelo contrário, como refere o relatório do TC relativo a 2006, o "endividamento mais significativo ocorreu no grupo dos hospitais EPE".

21
Mar08

Ignorância e preconceito

Pedro Sales
O Estado desconfia dos privados, abomina o lucro, prefere a ineficiência “igualitária” à eficiência que pode fazer a diferença. E por isso não se importa de enviar um exercito de fiscais administrativos para garantir que um operador privado não ganhará um cêntimo a mais, mesmo quando esse operador está a prestar melhor serviço às populações. José Manuel Fernandes, Público, 20 Março 2008

Se é certo que os suspeitos do costume não se cansam de lamentar o fim da gestão privada do Amadora-Sintra, o editorial de ontem de José Manuel Fernandes é merecedor de atenção especial. Em primeiro lugar porque é extraordinário perceber como é que se consegue escrever um texto com mais de 4 mil caracteres sem apresentar nenhuma fundamentação para os seus argumento, para além do nível zero da argumentação que é dizer que estamos perante uma medida “estalinista”. Quanto ao resto, o director do Público limita-se a recorrer ao já habitual chorrilho de preconceitos sobre a gestão pública e as vantagens da privada.

José Manuel Fernandes fala de eficiência da gestão, o que é estranho num hospital em que as contas estão por validar desde 2002. Diz JMF que são cêntimos, com uma estranha bonomia quando se constata que, só em 2002, o diferendo entre o Estado e o grupo Mello ascende a 18,5 milhões de euros. Não deixam de ser cêntimos, é verdade, mas são centenas e centenas de milhões deles. Quando ao exército de burocratas, talvez valha a pena lembrar que, a existirem, é para tentar evitar situações como as detectadas pelo Tribunal de Contas - quando este organismo declarou que, entre 1995 e 2001, o Estado efectuou pagamentos indevidos no valor de 70 milhões de euros ao Grupo Mello. De resto, e sendo bastante discutível a asserção sobre o melhor serviço prestado às populações pelo único hospital que não está inscrito no programa de recuperação das listas de espera cirúrgicas, não deixa de ser comovente ver JMF defender a qualidade do serviço público, independentemente dos seus custos. Um regresso ao passado, ou o resultado de escrever apenas com base nos preconceitos ideológicos?
14
Fev08

Eu cá sou bom, sou muito bom...

Pedro Sales
"Sinto-me em condições de ser julgador em causa própria. Sinto, porque eu tenho uma grande autoridade moral e tenho uma grande confiança na minha honestidade pessoal". Eduardo Barroso, Director-Geral da Autoridade para os Serviços de Sangue e Transplantação, 14 Fevereiro, no Parlamento.

Eduardo Barroso é um homem vaidoso. Este médico, que foi ontem ao Parlamento garantir que não se considera um mercenário, pagou a si mesmo 277 mil euros pela disponibilidade total para as operações que não fez e pela dedicação exclusiva para um trabalho que efectuou enquanto acumulava funções no Hospital da Cruz Vermelha. É um homem bom, muito bom.
27
Jan08

Que país é este?

Pedro Sales

Mais vale uma ambulância que leve rapidamente o paciente a uma verdadeira urgência, do que serviços que não conseguem fazê-lo com a qualidade necessária. Tem sido esta, invariavelmente, a resposta de Correia de Campos a todos quantos todos quantos têm criticado o encerramento de 30 SAP´s e urgências hospitalares. É por isso que a transcrição da conversa entre o INEM e os bombeiros de Favaios e Alijó demonstra, de uma forma destrutiva, a falência do plano do Governo: não só não se preocupou em abrir novas urgências nos centros de saúde ainda a funcionar, como continua sem garantir a ambulância.

E fica ainda o retrato de um país esquecido, abandonado e onde as ambulâncias mais próximas ficam a 60 quilómetros e demoram 1h20 a chegar. Bem pode o Governo, seguindo a moda do momento, dizer que é um problema de comunicação. Pelo contrário, há muito que os portugueses perceberam de uma forma exemplar a política do Governo para a Saúde. Não há nenhum plano de requalificação, tudo o que existe e tem sido feito tem apenas um fim: conter as despesas do Estado. Agora, como já se viu ontem no Expresso, multiplicam-se os comentadores a exigir que a oposição apresente alternativas. Não se sabe bem porquê, visto que o SNS é uma das raros matérias em que os portugueses não têm razões para temer a comparação com os indicadores internacionais de referência. Em 30 anos, o SNS catapultou um país com números do terceiro mundo para indicadores de referência que nos colocam à frente de alguns países escandinavos. Em que área da economia, ciência ou investigação é que isso acontece? Mesmo no privado. Que empresa portuguesa é que pode dizer que está entre a elite mundial na sua área?

Mas, querem uma alternativa? Não é muito difícil. O OE para 2008 consagra 380 milhões de euros para empresas de consultoria técnica e de comunicação. Uma absurda duplicação de recursos de um Governo que conta com centenas de assessores e técnicos nos ministérios, institutos, serviços centrais ou regionais. O Estado paga a assessores cuja única tarefa é adjudicar serviços a empresas externas. Podiam começar por aí e cortar mais de 90% nessa despesa de propaganda e auto-justificação das decisões políticas do Governo. Ficava mais barato do que desertificar o país e deixar as populações a mais de uma hora de um serviço de pré-emergência hospitalar. E podiam ter a certeza que os portugueses percebiam a política.
05
Jan08

As terras geladas de Anadia

Pedro Sales
O 31 da Armada e o maradona envolveram-se numa polémica a propósito do encerramento dos centros de saúde. Diz o Pedro Marques Lopes que conduz à desertificação do interior e que “sem a ocupação do território a soberania sobre este deixa de ter significado prático”, responde o maradona que “a soberania exerce-se não com pessoas mas com a aplicação das leis”. É uma boa resposta, infelizmente posta em causa pelo encerramento de tribunais e postos de GNR no interior, mas o argumento definitivo ainda estava para aparecer. Diz o maradona que, se no Canadá e na Suécia é possível fazermos milhares de quilómetros só encontrando renas* pelo caminho e sem vislumbrar vivalma e centro de saúde que se preze, porque razão não podemos fazer o mesmo no nosso país? Como é um rapaz modesto ficou-se por aqui. É pena. Podia ter lembrado ao Pedro Marques Lopes o exemplo do Brasil. Alguém imagina os quilómetros que uma pessoa tem que percorrer na Amazónia para encontrar um tribunal, posto de polícia ou centro de saúde? E na Austrália, meus amigos, a mesma coisa. É possível andar-se dias só a ver kangurus ou cobras do deserto. Se funciona com esses países, porque não podemos nós encerrar centros de atendimento que se limitam a ter 40 mil consultas por ano? O Presidente da República é que tem razão. As populações não entendem a política da saúde. Tivesse o ministro o brilho retórico do maradona e estava a questão resolvida.

* Esperamos que, depois de fechados os centros de saúde, escolas, tribunais, estações de correio, ramais da CP e postos da GNR, o Governo providencie uma renas como na Suécia. Já que o interior do país pode ser encarado como uma reserva natural, sempre era bom termos uns animais engraçados para mostrarmos aos nossos filhos nas férias.
20
Nov07

Taxas imoderadas

Pedro Sales
(clique na imagem para aumentar)
O Hospital da Senhora da Oliveira, em Guimarães, tem vindo a avisar os seus pacientes de que só serão atendidos se não tiverem "taxas moderadoras em dívida". Esta medida, claramente ilegal, persiste vai para um ano sem que o Governo tenha agido. A assumpção de que uma pessoa pode deixar de ser atendida, e não receber o tratamento médico necessário, porque tem em dívida uma taxa - que, legalmente, só tem efeitos "moderadores" - é inaceitável. E própria de um sistema em que vê encara os doentes como clientes e não como cidadãos.
08
Nov07

Engorde, pela sua saúde

Pedro Sales
Um estudo, hoje publicado no prestigiado Journal of the American Medical Association, diz que os gordos têm uma menor taxa de mortalidade porque são menos atreitos a morrer de várias infecções e doenças como Alzheimer, Parkinson e ou o cancro do pulmão. Segundo este estudo, em 2004, morreram menos 100 mil pessoas com excesso de peso do que seria expectável entre pessoas com um índice de massa corporal normal.

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

ZERO DE CONDUTA

Filipe Calvão

José Neves

Pedro Sales

Vasco Carvalho


zeroconduta [a] gmail.com

Arquivo

  1. 2008
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2007
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D