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Zero de Conduta

Zero de Conduta

26
Ago08

Mãe, sou uma vedeta do Youtube

Pedro Sales

Por muito genial que seja, nem Tiger Woods consegue andar na água enquanto joga golfe. Num vídeo chamado “Jesus Shot”, um utilizador do Youtube denunciou o erro numa das séries de jogos vídeo mais famosas do planeta. A Electronic Arts é que não ficou nada convencida e, no anúncio televisivo para promover a nova versão do jogo, aproveitou para dizer que nunca houve erro nenhum, Tiger Woods é que é mesmo bom. Vale a pena ver, mais não seja para constatar a crescente importância que, depois dos políticos, também as empresas começam a conferir ao carácter viral da internet.

25
Nov07

Pasta

Pedro Sales
Enzo Rossi é um empresário italiano que, durante um mês, tentou viver com os mil euros que pagava aos operários da sua fábrica de pastas alimentares. Ele a sua mulher, que também trabalha na empresa, tentaram gerir a sua vida com dois mil euros. Como o dinheiro, mesmo poupadinho, só chegou até ao dia 20, Rossi resolveu aumentar os vinte empregados em 200 euros por mês. O episódio tornou-se um caso em Itália, e já correu mundo. Quando lhe começaram a chamar "empresário comunista", respondeu que não. Que é egoísta. Quer empregados motivados e despreocupados com a ginástica mental para pagar as contas, disse. Uma evidência.

A forma como o episódio tem sido contado pela imprensa faz lembrar uma frase de Freitas do Amaral durante a contestação à invasão do Iraque. Quando questionado porque razão se foi alinhando com posições políticas mais comuns à esquerda, Freitas respondeu que nunca mudou. O panorama politico é que se desviou para a direita. De facto, vivemos tempos extraordinários. Os trabalhadores desapareceram e deram lugar aos colaboradores, as bolsas ressuscitam a cada notícia de despedimento e o que devia ser a norma, aumentar empregados que recebem bastante abaixo do salário médio, tornou-se a excepção. Dá direito a excursão de ministros, a seminários em faculdades de gestão e a dezenas de entrevistas. É uma espécie de intervalo na programação do noticiário para apresentar um “comunista” no seu habitat natural. Um freak show. Com tanto elogio, parece que ninguém perdeu tempo para fazer as contas e reparar que o generoso aumento só vai durar até ao dia 24 de cada mês.
11
Out07

Alegria no trabalho

Pedro Sales




Contrariamente aos velhos do Restelo que teimam em insistir que nos call center impera a subcontratação e os baixos salários, este anúncio é a prova definitiva sobre a sua visão distorcida do mercado. A Marta já não atende os telefonemas e tem um qualquer posto de chefia, provando como as carreiras são estáveis e valorizadas, o ambiente é espaçoso e impera a motivação no trabalho. Para além disso, os empregados são seleccionados na Elite Models e, como é regra na maioria das empresas, só usam computadores da Apple. Há o país real, o país do Governo e um país qualquer que ninguém conhece e que aparece nos anúncios.

(Actualizado)Para todos aqueles que pretendam uma ideia mais consentânea com o que se passa nestas empresas, vale a pena ver o blogue da Ferve, fartos destes recibos verdes
03
Out07

Proteja a sua filha de empresas como a nossa

Pedro Sales

Depois do estrondoso sucesso do premiado anúncio Evolution, a Dove volta a lançar uma campanha onde critica os estereótipos de beleza criados pela sociedade de consumo. Apesar de ter apenas um dia, "Onslaught" já é um sucesso mediático e no YouTube, descrevendo o cerco que as campanhas publicitárias fazem às crianças para venderem os seus padrões de beleza como modelos de vida. "Talk to your daughter before the beauty industry does", diz a mensagem final. Deviam estar a pensar na multinacional detentora da Dove, a Unilever.
29
Set07

Indie ma non troppo

Vasco Carvalho

1 2 3 4, Feist

O publicidade do novo iPod nano pegou numa obviamente cool Leslie Feist e as buscas no Yahoo e no Google dispararam. O vídeo de 1 2 3 4 no YouTube está quase nos 2,5 milhões de visitas. Na caixa de comentários alguém descreveu o fenómeno como the official "macarena" of Canada. No que é a última vaga Apple, Feist chegou ao Letterman em finais de Agosto.

Feist - classificada como 'alternative' no iTunes, ou 'indie' no seu grupo anterior, Broken Social Scene - parece ser um hit publicitário, contando já com anúncios da Lacoste, HSBC, Verizon, LG, HBO, Urban Outfitters e eBay.

Indie ma non troppo. Tal qual como a Apple, que celebra a venda do iPod número 100000000 (cem milhões) e a venda do primeiro milhão de iPhones.
04
Set07

Mais perto do que é importante

Pedro Sales
A partir de 2008, as crianças portuguesas entre os seis e os onze anos vão ter aulas de publicidade nas escolas públicas, no âmbito do programa Media Smart. De acordo com os promotores, o objectivo é ensinar temas e conceitos relacionados com a comunicação comercial e não comercial, pretendendo integrar as matérias lúdico-didácticas concebidas por este programa nos currículos do 1.º ciclo, fornecendo às crianças “ferramentas para descodificarem a publicidade e aguçarem o sentido crítico”. Daqui a três anos, dizem os organizadores, esperam estar em metade das escolas portuguesas.

Aqui chegados talvez valha a pena sabermos quem é que dá a cara pela Media Smart. Nada mais nada menos do que a Associação Portuguesa de Anunciantes. Participam no Comité de Direcção do Programa, que tem como objectivo “assegurar a correcta implementação do projecto no terreno”, todos os patrocinadores do Media Smart. À frente deste comité aparece o director-geral do Grupo Nestlé em Portugal, António Saraiva de Reffóios, e os financiadores até agora conhecidos são a Danone, Kellogg´s, Modelo/Continente e, claro, a própria Nestlé.

Nada nesta iniciativa bate certo, a começar pelo extraordinário facto do Ministério da Educação abrir as portas a empresas privadas para, nas escolas públicas, ensinarem e divulgarem conteúdos programáticos. O ME associa-se mesmo, através da Direcçção Geral da Inovação Curricular, a estas empresas para a definição dos currículos e métodos de aprendizagem. Bem sei que o Governo tem um problema com a ocupação dos tempos livres dos alunos, e fica mais barato concessionar a formação pública a generosas empresas privadas do que a entregar aos tais professores que agora ficaram de fora do concurso, mas a decência tem limites abaixo dos quais não se deve descer.

Mas a verdadeira aberração deste projecto é que estes senhores, com o apoio do Ministério da Educação, estão a tentar fazer-nos acreditar que algumas das empresas que mais milhões de euros gastam em publicidade destinada às crianças, e a encharcar os miúdos com toneladas de açúcar, vão gastar dinheiro para irem dizer ao seu público alvo para não acreditarem nos seus anúncios. Não é preciso ir a uma aula Media Smart para perceber que isso tem um nome: publicidade enganosa. Este disparate tem tanto sentido como o Ministério da Educação convidar a associação República e Laicidade para ministrar as aulas de Religião e Moral nas escolas, ou convidar a Bayer e a Roche para promover a generalização de genéricos.

Este programa já está a funcionar há muitos anos em vários países, como o Canadá e Inglaterra,  diz a Associação Portuguesa de Anunciantes. Tudo bem. Mas, lá como cá, o motivo é sempre o mesmo. Prevenir a crescente pressão que os consumidores, pais e poder legislativo tem vindo a fazer para a diminuição, ou proibição, de anúncios que estimulem o consumo de comida com elevados níveis de açucar e calorias às crianças. Juntando-se debaixo deste simpático chapéu, as empresas envolvidas lançam campanhas de charme para nos chamarem a atenção para o seu elevado sentido de responsabilidade social. Compreendo que o queiram fazer, e até acho legítimo, mas nunca nas escolas públicas, disfarçado de conteúdos programáticos e curriculares.

A obesidade infantil é o maior problema de saúde pública das sociedades modernas e ninguém quer ficar mal na fotografia. A McDonald´s começou a vender saladas e sopas. A Danone e a Nestlé pagam a formadores para tentarem incluir os seus conteúdos programáticos nas escolas do 1º ciclo. Que o Ministério da Educação suporte, e apoie, esta campanha de branqueamento da imagem é que ultrapassa todos os limites do concebível e razoável.
13
Ago07

Blair: o eterno facelift

Vasco Carvalho

Tony Blair "the man who made Britannia cool", abre a Men's Vogue de Setembro. Depois da tour mundial de despedida, Tony Blair aparece fresco, em mangas de camisa e atlético. Aliás,tão fresco que se suspeita de uso de airbrushing, onde se retoca digitalmente a fotografia para que Blair pareça mais en vogue . A práctica de airbrushing é comum nos media, mesmo depois de muitas horas de maquilhagem. Aumenta-se um seio, elimina-se um duplo queixo, desaparece uma borbulha. É um instrumento fácil e barato, uma espécie de arma de recurso ao serviço de indústrias que se dedicam, afincadamente, a produzir uma versão paralela da realidade.

Com a Vogue e os produtores americanos de posters que eliminaram os cigarros de fotografias dos Beatles, de passo em passo rumo até à Terra de Oz. Que Blair figure na história não é de estranhar: o seus mandatos foram uma interminável estrada de tijolos amarelos, chamada Cool Britannia. O spin continua numa fonte de desinformação perto de si.

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