As declarações de Vitalino Canas, revelando o incómodo do PS com a participação de Manuel Alegre numa iniciativa com dirigentes do Bloco - esse partido que trava um “combate político muito intenso” com o PS -, parecem revelar mais um notório caso de conflito de interesses. Como é que é possível conciliar o cargo de porta-voz do partido socialista com o de provedor do Bloco de Esquerda? Uhm...Tratando-se de Vitalino, sempre se poderá dizer que deve acumular as tarefas em regime de part-time e trabalho de temporário. Força camarada Vitalino. É nestes momentos que se (re)conhecem os amigos.
De tanto acreditar que as eleições se ganham ao centro, José Sócrates esqueceu-se do eleitorado de esquerda do PS. É esse o problema que Sócrates hoje enfrenta. Ter rompido os laços históricos e simbólicos que ligavam uma parte importante do “povo de esquerda” ao Partido Socialista. Desprezado esse sector, na procura incessante por um centro politico que é cada vez mais o espaço da direita política, a maioria absoluta do PS parece uma miragem cada vez mais distante. As movimentações que se começam a sentir à sua esquerda, de que é sinal o “aviso” de Mário Soares ou a iniciativa que junta Alegre e o Bloco, são o sinal claro que é à sua esquerda que Sócrates vai perder a maioria absoluta.
Depois do artigo do CAA no Correio da Manhã, as edições de hoje do DN e do Expresso também colocam a descer o secretário-geral da UGT, João Proença, por este “dirigente socialista e sindicalista ter decidido ficar caladinho na reunião da Comissão Política do partido em que se discutiu o novo Código Laboral”. O Expresso diz mesmo que Proença “não queria que se ouvisse o que tinha a dizer”. A julgar por esta notícia, que tem passado praticamente despercebida, é bem possível. No preciso momento em que o governo negoceia as novas leis laborais com as centrais sindicais, o dirigente máximo da UGT tem participado nas sessões organizadas pelo partido que suporta o Governo para “explicar o Código do Trabalho aos militantes do PS”. Dupla personalidade, como questionou um jornalista, ou embaraço com as consequências públicas da sua personalidade?
A Assembleia da República aprovou ontem dois votos de pesar pelas vítimas do ciclone na Birmânia. O primeiro, do PS, foi aprovado por unanimidade. O segundo, do Bloco de Esquerda, foi aprovado com os votos favoráveis de todas as bancadas e a abstenção do PS. Não há memoria de uma abstenção num voto de pesar pelas vítimas de uma catástrofe natural, ainda por cima quando o conteúdo dos votos é idêntico e essencialmente descritivo. Não existe nenhuma razão, que não a prepotência e a birra do líder parlamentar do PS, para o comportamento dos deputados socialistas. Como diz o primeiro-ministro, “há muito boas razões para censurar o Governo”. O sectarismo da bancada parlamentar que o suporta é uma delas.
O Tiago Barbosa Ribeiro considera que o vídeo que aqui coloquei - no qual o secretário-geral da JS declara que os falsos recibos vão continuar, só que serão mais caros – é demagógico. Porquê? Porque são apenas 10 segundos de uma "longa intervenção", na qual o deputado do PS garante que as medidas propostas pelo governo vão apertar o combate a esse flagelo social. O argumento do Tiago é curioso, porque eu, que sigo atentamente o seu blogue, tenho-o visto a citar várias notícias com declarações de políticos. Ora, uma citação é uma selecção e esta implica sempre a descontextualização de uma intervenção. O que se pretende é que, quando se selecciona uma parte de um discurso, o momento escolhido acrescente informação relevante para quem a lê ou visiona. Ora, na longa parte da intervenção que não foi escolhida, o Pedro Nuno Santos repete os argumentos que têm sido ditos e reditos pelo primeiro-ministro e ministro do trabalho. Não vale a pena repetir o que as pessoas já conhecem e estão estão em condições de avaliar por si.
Fiquemo-nos, então, pela novidade. Um deputado do PS garante, lapsus linguae ou não, que os falsos recibos verdes vão continuar, mas desta vez mais caros. Ora, e aqui é que entramos no ponto mais sério, parece-me que esta frase de Pedro Nuno Santos nos dá uma excelente indicação daquilo que, quase de certeza, virá a acontecer. Ou será que alguém acredita que é o pagamento de uma taxa de 5% que vai desincentivar o recurso aos falsos recibos verdes e que, para fugir à nova taxa, as empresas vão a correr pagar os 23% de taxa social? Mas o Tiago diz ainda que eu omiti a parte do discurso em que o Pedro Nuno Santos garante que, com as novas medidas, o Governo vai reforçar os mecanismos de combate aos falsos recibos verdes. Nesse ponto dou-lhe toda a razão. Devia tê-lo referido. Não para fugir à demagogia, mas antes para dar conta da demagogia do PS. É que esse argumento, vindo de um deputado que suporta o governo, só pode ser uma brincadeira.
Trabalham para o Estado milhares de pessoas a recibo verde. Muitos dos quais dos quais configurando situações efectivas de trabalho semelhantes às que foram regularizadas pelo governo de António Guterres, mas que o actual governo permite e instiga. Tenho em minha posse (e posso colocar on-line se o Tiago achar que também é demagógico) a cópia de 8 (oito) contratos sucessivos de uma formadora das Novas Oportunidades. Há mais de dois anos que faz o mesmo serviço para o ministério da Educação, mas já sabe que, a cada 3 ou 6 meses, lá tem que assinar novo contrato de prestação de serviços, sempre a recibos verdes. Não tem direito a subsidio de férias ou de doença e paga do seu bolso toda a segurança social. Não é um caso isolado, são milhares e milhares. Será que é para evitar a taxa de 5% que o Governo lhe vai garantir um vínculo contratual? Ou será que os mecanismos de fiscalização anunciados pelo ministro Vieira, e repetidos pelo Pedro Nuno Santos, vão incidir sobre os ministérios do governo PS? O Tiago tem razão. Devia ter feito referência ao grande combate do PS aos falsos recibos verdes. Tem sido exemplar.
Fica aqui, então, a "longa intervenção" de Pedro Nuno Santos.
"Os actuais falsos recibos verdes, quando muito, continuariam falsos depois das alterações. Com uma diferença. É que serão mais caros"... Pedro Nuno Santos, deputado do Partido Socialista.
Há dois dias que a imprensa questiona como foi possível que a direcção do Boavista tenha sido enganada pelo conto do vigário do “investidor” Sérgio Silva? Curioso, mais a mais quando este vigarista patusco não retirou um cêntimo ao clube. Bem mais interessante, e relevante, parece-me tentar perceber como é que a família Loureiro foi enganando as contas do clube durante anos, nomeadamente o presidente do conselho fiscal, obrigado a avalizar investimentos que lesaram e descapitalizaram o clube em dezenas de milhões de euros, sem que ninguém desse por nada. Essa é que é a pergunta que eu gostava de ver respondida, de preferência pelo actual presidente do conselho de administração da Assembleia da República, o deputado do PS José Lello, e presidente do Conselho fiscal do Boavista durante o consulado da família Loureiro e que agora transitou para a Mesa da Assembleia Geraldo clube. O mesmo que até fez uma auditoria às contas de 2004, quando começaram a surgir as primeiras dúvidas sobre a veracidade das finanças axadrezadas, mas nunca se apercebeu de nada. Mesmo para o habitualmente baixo nível de clarividência de José Lello, não deixa de ser comovente tanta "ingenuidade".
Vitalino Canas, deputado e porta-voz do Partido Socialista, é também o Provedor do Trabalhador Temporário, eufemismo para um cargo pago pelas empresas do sector para defender os seus interesses, incluindo no Parlamento, onde o porta-voz do Partido Socialista tem defendido as posições destas empresas. Como disse hoje o inefável Alberto Martins, deve ser porque “a lei é a ética da república”. Vídeo do Mayday.
Confirmando uma tendência dos últimos dias, as acções da Mota Engil voltaram a ser as mais valorizadas do PSI 20. Uma subida em flecha que, vá-se lá saber porquê, coincide precisamente com as notícias da contratação de Jorge Coelho. “Nome de Jorge Coelho como CEO bem recebido pelo mercado”, resume hoje o Jornal de Negócios, num artigo em que 3 dos 4 analistas contactados preferiram manter o anonimato. Está na cara que é uma contratação normal, como diz o Partido Socialista.
O período analisado pela OCDE coincide, quase integralmente, com a entrada em vigor das propinas. Para quem não está lembrado, o principal argumento dos seus defensores era o do reforço da qualidade do serviço prestado. António Guterres, garantiu mais de que uma vez que não seria gasto um escudo das receitas das propinas a pagar salários ou com as despesas de funcionamento das instituições. Dez anos depois, os resultados estão à vista. Mais alunos nas faculdades, menos dinheiros no orçamento das instituições. Agora, que pretende generalizar um sistema de empréstimos no ensino superior, José Sócrates garante que não vai diminuir a despesa pública com a acção social escolar. Ainda alguém acredita?
Aqui: mais dados sobre o desinvestimento público no ensino superior.