Clinton teria de ganhar todos os 12 Estados restantes por margens maiores que 60-40 para reequilibrar os totais de delegados. Mas ficou bastante mais perto de equilibrar o total de votos, e isso interessa para estancar a hemorragia de superdelegados, variável crucial na decisão final. E é o suficiente para a narrativa mediática das próximas semanas: de underdog a comeback kid, via Saturday Night Live, Hillary e a mudança de atitude na imprensa quebram o momentum de Obama. A América adora uma luta renhida e as audiências disparam.
O Filipe já tinha trazido o Kucinich à baila e o homem continuou a fazer sucesso aqui e aqui. Depois a febre Kucinista alastrou como fogos durante um governo PSD. Ponto por ponto, Somos todos Kucinistas (aqui e aqui). Na verdade, ninguém o aceitou: parece que toda a gente simpatiza com alternativas reais de poder, nomeadamente Obama. Na humilde opinião deste escriba, Obama tem sido uma desilusão e o seu posicionamento táctico - uma terra de ninguém entre a inicial frescura apolítica (o jovem sem nódoas de governação no seu passado, que é curto) e o actual proto-Homem-de-Estado cinzentão - tem deixado um rasto de ambiguidades. Se fosse para fazer isso, sempre preferia a Hilária.
Terça-feira no estádio da bola, com os principais candidatos democratas e uma multidão de alguns milhares de sindicalistas. Vinham todos pela AFL-CIO (federação sindical que junta 10 dos 15 milhões de trabalhadores americanos sindicalizados), que também organizou o debate. Apesar da all-mighty AFL de Nova York apelar ao voto em Hillary, o grande debate "laboral" aconteceu no Obamistão.
"At the direction of the United States Secret Service", dizia o bilhete de entrada, haveria medidas de segurança reforçadas. Quando me esquivei para um cigarro (estávamos ao ar livre), recomendaram-me as casas-de-banho por causa dos serviços secretos. Não são as mortes lentas que os preocupam e arrisquei na mesma. E cá estou para contar quando nada disto é já notícia.
Obama esteve frouxo mas escapuliu-se bem na história do Paquistão ('não aceito lições de quem autorizou o maior desastre de política externa de sempre'). Hillary saltita de plano de 3 pontos em plano de 3 pontos e teve que ouvir muito apupo. Edwards está definitivamente em esteróides e foi à boleia da única ovação da noite -- se não foi encomendado, este velhote fez-lhe um grande favor.
Bill Richardson é um panhonha que disse ao que vinha na sua primeira intervenção: 'I want to continue receiving your [AFL] financial support'. Mas Kucinich estava em casa e o comício foi dele. Usou-o bem, I'll tell ya how, para anunciar a saída da OMC e do NAFTA.
O resto é circo Rolling Stoniano de entrada gratuita e muitos lugares por preencher. Esperando por ver quem encaixa o dinheiro da AFL.
Ver a Patti Smith às voltas de carrinho de golf no exterior do recinto do Lollapaloza, enquanto segurava o chapéu com as duas mãos, não foi chamariz suficiente*: Barack estava ao lado e fazia anos. Ali para os lados do parque de estacionamento do Yearlykos, pensei eu, ainda poderia haver uma festa (helas, o barbecue é só na 3a).
Barack não era o único no YearlyKos. Estavam lá todos os candidatos presidenciais, sujeitando-se ao 'informalismo' de sessões abertas com um público 'hostil' de esquerda. Só isto dirá muito do poder do Daily Kos, de que o Pedro já aqui falou. Para quem não conhece, este 'blog' já chegou ao milhão de visitas por dia, com +600,000 visitas em média (em comparação, o público tira uma tiragem de 46,000 jornais), apoiando, pressionando ou denunciando o campo político democrata. Devo dizer que me arrepia o culto Kosiano que faz o cunho deste blog (nem a alternativa desmedida de se passar a chamar 'NetRoots Nation' a partir da próxima convenção), mas vale a pena perceber o que se tem passado por lá ao longo deste fim-de-semana.
Ontem falou-se de dinheiro e lóbis. De todos os candidatos, Hillary Clinton foi a única a admitir continuar a aceitar dinheiro de lóbiistas de Washington (e para quem viu Sicko, aí na coluna do lado, sabe que Hillary sofreu os efeitos dos lóbis farmacêuticos). Por outras: é a única a aceitar dinheiro entregue em mão nos passos perdidos local, a versão mais aberta do tráfico de influências que se passa na política americana.
Um dado interessante nestas contas é o papel de mauzona que todos atribuem à indústria farmacêutica. Pois fiquem-se com esta: de todos os contribuintes registados, a saúde aparece só em 40º lugar, com a American Hospital Association. Muito depois do lóbi da cerveja, dos carros, das comunicações, dos carpinteiros, da Fedex, NRA...e por aí fora. Vejam a tabela dos 100 maiores doadores por vocês, vale a pena.