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Zero de Conduta

Zero de Conduta

29
Jun08

O artigo da semana

Pedro Sales
25
Jun08

Choque tecnológico

Pedro Sales

Para justificar o aumento das propinas, o Governo de António Guterres garantiu que estas verbas serviriam apenas para “aumentar a qualidade do ensino” e nunca seriam usadas para pagar as despesas de funcionamento das faculdades. As propinas estavam indexadas ao salário mínimo, um mecanismo que caiu pouco depois com o Governo do PSD/PP. As propinas duplicaram e andam agora pelos 900 euros/ano, um dos valores mais altos em toda Europa. Pelo meio, o número de alunos no ensino superior cresceu 46% mas o investimento público diminui 12%. As propinas foram escondendo as condições miseráveis em que se vai trabalhando nas instituições do ensino superior. Quando a manta é pequena, fica-se sempre destapado. Como agora aconteceu em Aveiro, onde a Universidade vai pagar os subsídios de férias recorrendo ao dinheiro destinado à investigação científica. Deve ser isto a que o Governo chama de choque tecnológico.

26
Mai08

O excesso da praxe é a praxe

Pedro Sales

Imagem retirada daqui

 

A condenação de sete alunos da comissão de praxe do Politécnico de Santarém é uma decisão inédita entre nós e que apenas peca por tardia. Até à semana passada, a praxe constituía um ritual e um espaço académico onde a lei se encontrava suspensa. A impunidade legal de actos que, fora do espaço sem lei da praxe seriam sempre punidos, é um dos mistérios da praxe. Alunas que saltam do primeiro andar para fugir da humilhação sexual pelos “veteranos”, como já aconteceu em Lisboa, ou episódios como este em Coimbra, nunca passaram da denúncia pública, contando geralmente com o silêncio das vítimas que temem o ostracismo dos colegas. A aluna que agora ganhou o caso em tribunal teve a coragem de levar até ao fim a sua denúncia, mas pagou-a bem caro. Teve que sair da faculdade, proscrita pela instituição e pelos seus colegas, e nunca terminou o curso.

Para além da arbitrariedade, dos jogos de poder e da violência sexista, o que mais choca na praxe é ver como esta bestialidade, que ocupa várias semanas do ano académico, é apoiada ou tolerada pelas instituições do ensino superior, em nome de uma tradição que procuram mimetizar e que entendem engrandecer o nome da faculdade ou instituto. Se é certo que a maioria das praxes não acaba em episódios limite como os relatados, ou o que teve lugar em Santarém, não é menos certo que a humilhação e a violência psicológica nas praxes é mais comum do que se possa pensar e constitui a mais perversa forma de “integração”.

É da ausência de formas de receber e integrar os novos alunos que vive e se alimenta a cultura da praxe. Depois de mais de uma década de estudo, e de sonharem há vários anos com a entrada na faculdade, é normal que os estudantes queiram integrar-se o mais rapidamente possível num meio de que desconhecem as regras, métodos e, muitas vezes, a própria cidade. A praxe é o que encontram. Porque as associações de estudantes vêm no ritual a melhor forma de perpetuar o seu poder e as instituições, desde que o assunto não deteriore a sua imagem, não estão para se incomodar com o que se passa entre os estudantes e até esperam tirar proveito do assunto. Curiosamente, nem se apercebem que a praxe é a personificação, e glorificação, de uma imagem da faculdade autista, isolada da sociedade e que se entende e vê como um corpo à parte. 

Enquanto não se tornar claro que pior “excesso” da praxe é a própria praxe e esta cultura da impunidade, violência e perversa hierarquização - que promove a ignorância dos “cardeais” que se arrastam há 20 anos nas faculdades -, será difícil encontrar outras formas de integrar os novos alunos. E os estudantes continuarão a dar ao resto do país esta imagem deprimente que tanto contribui para os estereótipos da geração rasca que ainda perduram na sociedade.

21
Mai08

O pópó dos senhores juízes

Pedro Sales
14
Mai08

Vai deixar de fumar ou de inalar?

Pedro Sales

O primeiro-ministro José Sócrates pediu hoje desculpa por ter fumado no voo que transportou a comitiva governamental para a Venezuela. Em declarações aos jornalistas, na venezuela, o primeiro-ministro diz que desconhecia que estava a violar a lei. José Sócrates adiantou ainda que decidiu deixar de fumar em definitivo, na sequência da polémica.

 

Apanhado em falso, a violar uma lei apresentada pelo seu Governo, o primeiro-ministro resolveu entrar num patético espetáculo de contricção pública, prometendo aos portugueses que vai deixar de fumar. E o que é que nós temos a ver com isso?  É um assunto da sua vida privada. A questão pública é o cumprimento da lei e a igualdade dos cidadãos no seu cumprimento. Se fumou, como reconhece, paga os 750 euros previstos na lei, como deverá acontecer com qualquer cidadão. Agora, fazer uma promessa aos portugueses sobre a sua vida privada é que passa todos os limites do bom senso. E o que é que acontece se não cumprir? E quem é que vai fiscalizar o cumprimento da promessa? Razão tinha o Santana Lopes. "O país está louco".

28
Abr08

Verde é a cor do dinheiro

Pedro Sales

A junta de freguesia da Ericeira foi multada em sete mil euros utilizar óleos reciclados para mover os carros do lixo, em vez de comprar combustíveis fósseis, pelo que o Estado se considera lesado. O presidente da junta, citado pela TSF, já garantiu que não vai pagar a multa.

Lê-se e não se acredita. Em vez de apoiar, ou pelo menos deixar em paz, quem não precisou de ficar à espera dos subsídios estatais para aplicar uma medida ambientalmente correcta, o Governo multa quem está a usar combustíveis verdadeiramente ecológicos (óleos reciclados). Tudo isto para respeitar uma quota, financiada pelos nossos impostos, com o embuste dos agrocombustíveis que estão a roubar espaço agrícola a outras produções alimentares e a contribuir para a crise alimentar que está à porta. O verde tem muitas tonalidades. Mas a cor do dinheiro dos impostos continua a ser a mais apelativa.
16
Fev08

Aborto ano um

Pedro Sales
Na imprensa e blogosfera, o aniversário do referendo pela despenalização do aborto foi recebido com um coro de vozes a tentar ajustar contas com uma lei que, dizem, não está a ter resultados. Pouco interessa que a regulamentação esteja em vigor há meia dúzia de meses e que seja prematuro avaliar o seu impacto. Num país pródigo em milhares de leis, portarias e diplomas regulamentares a que ninguém liga pevide, os suspeitos do costume acordaram indignados porque, através do trágico caso de uma adolescente que abortou muito para além do prazo legal, descobriram que a lei não funciona. Daí até acusarem os defensores do SIM de mentira e de conivência com o aborto clandestino foi um passo.

Vamos lá a ver se nos entendemos. A despenalização não põe fim a todos os abortos clandestinos, e nunca ninguém disse isso, mas torna-os a excepção residual. A lei que tínhamos tornava-os a regra. A diferença é simples e até já tem números. Em seis meses, 6000 mulheres interromperam a gravidez em condições de higiene e saúde pública, evitando um sem número de situações não muito diferente da que aconteceu na Torredeita. Têm a certeza que querem regrassar ao passado?

PS: Ainda estou para perceber o que é mais lamentável. Se a conferência de imprensa convocada pelo director da escola profissional onde uma jovem aluna abortou fora do prazo, e para a qual convidou as colegas para relatarem minuciosamente o que sucedeu, se os jornalistas que não encontraram nenhuma questão ética e deontológica em expor assim uma pessoa para todo o país, num julgamento mediático que em nada dignifica a sua profissão.

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