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Zero de Conduta

Zero de Conduta

18
Dez07

Debate à Esquerda 3: Que Internacionalismo?

José Neves
No debate blogoesférico à esquerda, uma das divisões mais claras foi suscitada pela “questão nacional”. Pego agora nela e deixo para futuras discussões a questão do modo comum de produção política que ali prometera retomar. Sobre a “questão nacional” quero nomeadamente discordar da ideia de que a relação política da esquerda com o estado-nação (melhor talvez dizermos Estado nacional) deva ser uma relação instrumental. Esta ideia, que tem uma longa história mas que se consolidou recentemente com o debate sobre o tratado constituinte chumbado em referendo na França e na Holanda - um debate em que a discussão à esquerda, pelo menos em Portugal, se reduziu muitas vezes a uma discussão sobre o conteúdo mais ou menos neoliberal da constituição e esqueceu outras tantas vezes a questão da forma mais ou menos supranacional da constituição - tem que ser liminarmente rejeitada. Não podemos aceitar a concepção de que o Estado nacional é uma simples forma à espera de ser substanciada com os conteúdos propostos pelos diferentes agentes políticos. E não podemos desde logo porque a redução do Estado nacional a simples forma – ou melhor, uma simplificação tão rude da questão da forma – coloca dois problemas históricos muito evidentes. Por um lado, na concepção instrumentalista do Estado nacional, a figura do Estado ressurge como espaço de poder neutro, instrumentalizável, criando-se a ilusão de que basta os socialistas tomarem conta do governo e do aparelho de Estado para que o Estado se torne socialista, a polícia do Estado se torne socialista, a política externa do Estado se torne socialista, etc.. Por outro lado, a nação surge aqui como uma entidade apropriável (desejavelmente apropriável) pela esquerda, na senda de um patriotismo socialista – o famigerado “nacional na forma, socialista no conteúdo” do Stalin de 1920's – que necessariamente recusa a mundialização das lutas.
25
Nov07

O Anarcómetro ou o Delegado Zero

José Neves

Alguns comentários, nomeadamente os do Nuno Castro, perguntam-me em que é que "isto" se distingue do anarquismo. Não vou responder directamente. Não tenho nenhum Dicionário das Doutrinas à mão e temo que se fôssemos os dois consultar o dito, ainda assim, teríamos que primeiro nos entender sobre que anarquismo falamos. Entretanto, e para encurtar caminho, adianto desde já que não me faz confusão que "isto" se tome por anarquismo.

Convenhamos, ainda assim, que já aqui dei um exemplo concreto do que entendo ser um grão na engrenagem que consagra a figura de "liderança" na vida política: a primeira fase do BE, quando o partido se afirmou como uma força que falava a mais do que uma voz. Trata-se de um exemplo não muito significativo e seguramente com contradições – mas também não estamos à espera que se possa tomar partido sem elas – mas trata-se de um exemplo que se quis desviar da celebração da figura do dirigente político. A mesma renitência podia ser encontrada no partido ao lado: refiro-me à recusa da direcção do PCP, sobretudo nos anos 80, em resumir a sua vida política ao rosto do seu líder, recusa que terá sido recentemente abandonada a julgar por todo o marketing que o partido desenvolveu em torno de Jerónimo de Sousa.

Último exemplo. Este, porém, ainda actual. Se olharmos para o zapatismo, podemos ver que aí se afirma a recusa de uma heroicização da vida política. De forma algo dilemática, é certo, o delegado zero esconde o seu rosto; e isto, e ainda que todos saibamos a importância da aura romântica de Marcos na história do neo-zapatismo, tem pelo menos o condão de não elidir o problema da corrupção da democracia às mãos da representação.
25
Nov07

A Democracia, Tipologia de uma História?

José Neves

Entre algumas poucas outras coisas, ali atrás procurei dizer que uma crítica de esquerda a Chavez não tem por que ser uma crítica semelhante à crítica da direita a Chavez. E procurei também dizer que falar sobre a Venezuela hoje não pode ser apenas falar sobre Chavez. Entretanto, somaram-se várias reacções ao meu artigo no Público e também ao que escrevi ali em baixo. A talhe de foice quero pegar em dois pontos, o segundo (qual o grau de anarquicidade das minhas posições) num próximo post e o primeiro (uma dúvida avançada por um peão) aqui e agora: diz o Renato do Carmo, entre uma e outra consideração especulativa sobre o que eu escrevi, que não percebe se eu critico a democracia em si mesma ou se critico o modelo liberal de democracia. Devido à minha péssima formação liberal e ao meu não menos parco conhecimento dos debates da “ciência política”, confesso que ambas as formulações – democracia em si mesmo e modelo liberal de democracia – escapam-se-me facilmente por entre os dedos. Por isso sou forçado a colocar a questão noutros termos, contando que ainda assim não escape à questão colocada pelo Renato.
Uma das coisas que me faz alguma confusão nos debates sobre “existe ou não democracia na Venezuela?” é a facilidade – e creio que ela de alguma forma se precipita nas críticas de Pedro Magalhães a Daniel Oliveira – com que tais debates se transformam em discussões tipológicas e taxonómicas, do género, e passe a caricatura: é democracia se renovar-as-licenças-a-canais-de-televisão-mesmo-que-tenham-promovido-um-golpe-de-estado, não é democracia se puser-em-causa-as-propriedades-privadas-de-uns-poucos-num-país-em-que-milhões-estão-privados-de-toda-e-qualquer-propriedade, é democracia se não-houver-possibilidade-de-renovação-ad nauseum-dos-mandatos, não é democracia se as-armas-forem-parar-às-mãos-do-povo, etc..
Esta análise tipológica terá as suas virtudes, por certo que as terá; entre elas, por exemplo, evitarmos um relativismo conceptual insuportável para qualquer debate. Mas não é só isso que a tipologia evita. Ao aprisionar a ideia de democracia na figura do sistema (ou do modelo) – uma figura que necessariamente tende a ser estática e a-histórica – este tipo de análise deixa recorrentemente de lado a necessidade, que julgo imperiosa, de se pensar a democracia enquanto movimento constituinte e enquanto forma da própria resistência. (Questão que aliás me parece estar em jogo no debate travado no dito peão a propósito das lutas estudantis em França).
A limitação higénica da ideia de democracia à figura de um sistema é um problema maior sobretudo para aqueles que se reclamem de uma tradição comunista/libertária e que necessariamente se esforçam por imaginar um estádio humano em que a vida política dispensa o Estado (e, portanto, a democracia representativa). Creio, no entanto, que a idealização da democracia deveria igualmente preocupar democratas como o próprio Renato. Não o digo apenas – ou tanto – pelo que essa idealização pode ter de afim aos projectos neoconservadores de exportação da democracia. Falo sim de algo que me parece anterior a isso: as análises tipológicas sobre a democracia correm muitas vezes o risco de só existirem “fora da história” e de só servirem num tal contexto. Neste dia 25, não queria deixar de referir que é nesse erro que uma e outra vez se incorre quando se procura abstrair a liberdade e a democracia das lutas pela libertação e contra a didatura. Lutas travadas por figuras tão impuras como o senhor da foto, alguém a quem os diagnósticos tipológicos fazem questão de interditar o acesso à condição de democrata e de homem da liberdade.

* o título deste post manipula o título de um livro de Luciano Canfora, A Democracia – História de uma Ideologia, livro que não li mas que será objecto de um interessante debate na próxima 5ª feira no ISCTE.
22
Nov07

And then there were four

Vasco Carvalho
Espera aí, espera aí, o que é que eu estou aqui a ver...eh pá, parem as máquinas, o Sales passou-se!... Não queres ver que afinal está a defender aVenezuela? Lê, continua a ler, hum-hum-right-on-the-money, dá-lhe, aaah-ganda-sales, é-mesmo-isto, ...assinado.... Posted by: Zé Neves.

Aaaaaahhhh, capisco, capisco. Boas vindas Zé!

PS: E, sim, estou em condições de confirmar que eu e o Calvão estamos vivos. Assim barely barely mas vivos.

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