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Dez07
Debate à Esquerda 3: Que Internacionalismo?
José Neves
No debate blogoesférico à esquerda, uma das divisões mais claras foi suscitada pela “questão nacional”. Pego agora nela e deixo para futuras discussões a questão do modo comum de produção política que ali prometera retomar. Sobre a “questão nacional” quero nomeadamente discordar da ideia de que a relação política da esquerda com o estado-nação (melhor talvez dizermos Estado nacional) deva ser uma relação instrumental. Esta ideia, que tem uma longa história mas que se consolidou recentemente com o debate sobre o tratado constituinte chumbado em referendo na França e na Holanda - um debate em que a discussão à esquerda, pelo menos em Portugal, se reduziu muitas vezes a uma discussão sobre o conteúdo mais ou menos neoliberal da constituição e esqueceu outras tantas vezes a questão da forma mais ou menos supranacional da constituição - tem que ser liminarmente rejeitada. Não podemos aceitar a concepção de que o Estado nacional é uma simples forma à espera de ser substanciada com os conteúdos propostos pelos diferentes agentes políticos. E não podemos desde logo porque a redução do Estado nacional a simples forma – ou melhor, uma simplificação tão rude da questão da forma – coloca dois problemas históricos muito evidentes. Por um lado, na concepção instrumentalista do Estado nacional, a figura do Estado ressurge como espaço de poder neutro, instrumentalizável, criando-se a ilusão de que basta os socialistas tomarem conta do governo e do aparelho de Estado para que o Estado se torne socialista, a polícia do Estado se torne socialista, a política externa do Estado se torne socialista, etc.. Por outro lado, a nação surge aqui como uma entidade apropriável (desejavelmente apropriável) pela esquerda, na senda de um patriotismo socialista – o famigerado “nacional na forma, socialista no conteúdo” do Stalin de 1920's – que necessariamente recusa a mundialização das lutas.