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Zero de Conduta

Zero de Conduta

18
Ago08

E nunca mais digam mal do choque tecnológico

Pedro Sales

José Sócrates regressou de férias para anunciar o “compromisso” da PT em criar 1200 postos de trabalho, para o ano que vem, num gigantesco campo de trabalhos forçados "call center" em Santo Tirso. “Postos de trabalho qualificados”, sublinha. Os trabalhadores são qualificados, o trabalho é que é desqualificante e degradante. Os “call center” não são a imagem de modernidade apresentada por José Sócrates, são o dia-a-dia da geração dos 500 euros: trabalho semi-escravo, pago a 2,5 euros à hora, que faz tábua rasa das qualificações de milhares de jovens, com horários e condições de trabalho completamente absurdas. É o salve-se quem puder com vista para o cubículo da frente e do lado. José Sócrates está contente. Encontrou a razão de ser do choque tecnológico. Pôr meio país a atender o outro.

31
Jul08

Publicidade enganosa

Pedro Sales

Primeiro foram as notícias que davam conta de uma nova fábrica da Intel em Portugal. Um sucesso, garantia-se, que já tinha 4 milhões de encomendas ainda antes de ser instalada a primeira pedra. Um investimento que iria criar 1000 postos de trabalho qualificados, na zona de Matosinhos, graças à diligência do Governo. A apresentação foi ontem. Com pompa e circunstância a imprensa andou dois dias a anunciar o “primeiro portátil português”. O Magalhães é um computador inspirado no navegador, diziam ontem as televisões em coro. Para dar credibilidade à coisa, o mais famoso relações públicas nacional e o presidente da Intel subiram ontem ao palco do Pavilhão Atlântico para a "apresentação mundial" deste computador de baixo custo.

 

Um único problema. Não só o computador não tem nada de novo como a única coisa portuguesa é a localização da fábrica e o capital investido.  A "novidade mundial" ontem apresentada, já tinha sido anunciada a 3 de Abril - no Intel Developer Forum, em Shangai - e foi analisada pela imprensa internacional vai agora fazer quatro meses. O tempo que tem a segunda geração do Classmate PC da Intel, que é o verdadeiro nome do Magalhães. De resto, o primeiro computador mundial para as crianças dos 6 aos 11 anos, características que foram etiquetadas pela imprensa lusa por ser resistente ao choque e ter um teclado resistente à agua, já está à venda na Índia e Inglaterra. No primeiro país com o nome de MiLeap X, no segundo como o JumpPC. O “nosso” Magalhães é isso mesmo, uma versão produzida  em Portugal sob  licença da Intel, uma história bem distinta da  habilmente "vendida" pelo governo para criar mais um caso de sucesso do Portugal tecnológico.

 

Fábrica da Intel nem vê-la e os tão falados 1000 novos postos de trabalho ainda menos, tudo se ficando por uma extensão da actual capacidade de produção da fábrica da JP Sá Couto. Serão 80 novos empregos, 250 se conseguirem exportar para os Palops. Os tais 4 milhões, que já estavam assegurados, lembram-se? Só que as 4 milhões encomendas não passam de wishful thinking do nosso primeiro. E muito pouco credível. Em todos os países onde o computador está à venda é produzido através de licenças com empresas locais. Como explicou o presidente da Intel, a empresa continua à procura de parceiros locais para ganhar quota de mercado com o Classmate PC, não o Magalhães.

 

A guerra de Intel é outra, como se pode perceber no relato que um dos mais reputados sites tecnológicos - a Arstechnica, do grupo editorial da New Yorker - faz da apresentação da Intel e do governo português: espetar o derradeiro prego no caixão do One Laptop for Child, o projecto de Nicholas Negroponte e do MIT para destinar um computador a cada criança dos países do terceiro mundo. É essa a importância estratégica para a Intel. O resto é fogo de vista para português ver.
 

PS: Não tenho nada contra a iniciativa em si, parecendo-me meritório um projecto para garantir um contacto precoce de milhares de alunos com a informática. Mas isso não quer dizer que aceite gato por lebre. Não seria nada mau sinal se a imprensa nacional, que andou a vender uma história ficcionada, também cumprisse o seu papel. 

04
Jul08

Crise? Eu não tenho nada a ver com isso.

Pedro Sales

foto de Tiago Petinga

Os biocombustíveis forçaram os preços dos alimentos a aumentar 75 por cento desde 2002, segundo um relatório confidencial do Banco Mundial, que os responsabiliza pela crise alimentar. O jornal britânico “The Guardian” publica hoje excertos do relatório.

 

A propósito desta notícia, vale a pena lembrar as recentes declarações do primeiro-ministro: “O senhor deputado definiu uma nova linha: contra os biocombustíveis. Eles serão a desgraça e a origem da fome no mundo. Está enganado, senhor deputado. É uma grande precipitação ligar estas duas coisas. José Sócrates, em resposta a Francisco Louçã, 11 de Abril de 2008.

 

O Governo, disse o primeiro-ministro na RTP, venceu a crise interna, mas não tem nada a ver com a crise internacional causada pelo aumento do preço dos juros, petróleo e bens alimentares. Estranho. Da última vez que reparei Portugal ainda fazia parte da União Europeia, só por acaso uma das maiores promotoras mundiais da utilização dos biocombustíveis, e o Governo Sócrates até antecipou a absurda meta europeia em 10 anos. A culpa é toda dos especuladores, está visto.

29
Jun08

O "Público" não errou, ou o spinning do governo em acção

Pedro Sales

“Segundo a notícia, apenas Espanha, Grécia, Hungria, Chipre e Bélgica declararam firme oposição à directiva, no sentido de que não venha a ser aprovada pelo PE. Perante o silêncio do governo, fica a ideia de que uma boa dose de europeísmo crítico só faria bem ao PS.” André Freire, Público, 23/6/2008

Depois de ter recebido um email do assessor de imprensa do Ministério do Trabalho, no qual este garante que “Portugal se posicionou contra esta proposta de directiva (exactamente a mesma posição adoptada pelo Governo,  espanhol)”, André Freire corrige, no Ladrões de Bicicletas, o sentido do seu artigo. Um único problema. Ao contrário do mail do prestável assessor, que segue o governo e joga com as palavras para esconder a ambiguidade da posição do Ministério do Trabalho, Portugal não votou contra e não seguiu a posição do Governo Espanhol.


O título do comunicado do Conselho de Ministros é sugestivo: “Portugal não votou favoravelmente directiva da UE sobre tempo de trabalho”. Alguém acredita que, se tivesse votado desfavoravelmente, como assegura o assessor do MST, era este o título do comunicado e não, como é normal, um mais enfático “Portugal votou contra directiva da UE sobre tempo de trabalho”? Portugal não votou favoravelmente, é verdade, mas isso é bem diferente de dizer que se “posicionou contra“. Pior, ao contrário da Espanha, Grécia, Hungria, Chipre e Bélgica, que tornaram pública a sua oposição, e garantiram que tudo iriam tentar para que a directiva fosse alterada em favor dos trabalhadores no Parlamento Europeu, o governo do PS permaneceu silencioso e nunca desfez a ambiguidade da sua não posição.


Diz André Freire, cuja honestidade é de saudar, que foi induzido em erro pela notícia do Público, de onde tirou a informação e pelo facto desta nunca ter sido desmentida. É verdade, a notícia nunca foi desmentida, e por uma razão que o prestável assessor muito bem sabe: o Governo não pode desmentir as suas próprias afirmações e as notícias de todas as agências noticiosas internacionais.


Este post do André Freire, relatando o processo pela qual - agora sim - foi induzido em erro, é um típico exemplo de como funciona o spinning dos assessores do governo Sócrates. Jogando com a ambiguidade das palavras, preferem fazer-nos passar por estúpidos. Portugal não apoiou, mas também não se opôs. Preferiu assobiar para o lado. Baixinho e calado. A mais estúpida das posições. Para não comprometer a imagem de bom aluno…ou a carreira que tanto  parece preocupar José Sócrates. 

20
Jun08

Prometemos acabar com os privilégios, as injustiças são noutra repartição

Pedro Sales

José Sócrates defendeu o aumento da idade da reforma e do número de anos de descontos com a necessidade de equiparar os regimes e acabar com os privilégios dos funcionários públicos. Ontem, o Partido Socialista chumbou um projecto do BE para atribuir a pensão de reforma por inteiro a todos aqueles que, tendo 40 anos de descontos, ainda não atingiram os 65 anos de idade. Uma proposta que pretendia defender todos aqueles que, tendo começado a trabalhar com 12 ou 13 anos, vêm as suas pensões penalizadas depois de uma vida de trabalho. Quando a proposta foi apresentada, Fernando Madrinha escreveu um artigo de opinião no Expresso dizendo que o "o país não tem moral para recusar a reforma a quem trabalha e desconta há mais de 40 anos". Estava certo. Não contava era com o PS.

18
Jun08

Sol na eira e chuva e nabal

Pedro Sales

O Governo português adoptou uma nova e original estratégia. Não se opõe às directivas mais polémicas da União Europeia, como a do retorno dos imigrantes ilegais ou a das 65 horas semanais de trabalho, mas diz que não as irá aplicar em Portugal. Alguém já devia ter explicado duas coisas ao nosso diligente Governo. As directivas comunitárias, depois de aprovadas, são transpostas para a legislação nacional. O Governo até pode passar ao lado das medidas e prazos mais polémicos, como agora garante, mas quem é que nos assegura que será essa a posição do executivo seguinte ao encontrar a porta aberta? É quase certo que Portugal não conseguiria travar estas directivas, mas uma maior firmeza nas convicções, alinhando com os  países que se opuseram à alteração do horário de trabalho, não teria ficado nada mal. Assim, parece que há um discurso para consumo interno e uma preocupação internacional em não manchar a imagem de bom aluno. Ou a carreira de José Sócrates, para usar a expressão do próprio.

06
Jun08

Que fiz eu para merecer isto?

Pedro Sales


Ontem, no Parlamento, José Sócrates voltou a insistir na tónica reiterada nas últimas semanas. O governo, pelo que fez, não merecia estar a sofrer os reflexos da crise financeira internacional, aumento dos combustíveis e dos bens alimentares. Durante três anos o Governo conduziu uma politica pró-cíclica, assente na forte diminuição do investimento público, acreditando que mais tarde ou mais cedo a economia entraria nos eixos. Agora, que a recessão está à porta e torna irrelevantes os investimentos guardados para o ano eleitoral, José Sócrates sente-se injustiçado porque descobriu que o mercado é amoral. “É a vida”, como diria outro primeiro-ministro socialista.

19
Mai08

Novas oportunidades para a precariedade

Pedro Sales

Não há como olhar para a notícia do Expresso, indicando que há salários em atraso e centenas de formadores a falsos recibos verdes no programa Novas Oportunidades, sem colocar em causa o anunciado empenho do Governo em combater a precariedade laboral. A ministra da Educação diz que "só agora há condições para acabar com esta situação, que foi herdada do passado". Extraordinário. Mais de três anos depois de ter tomado posse, o Governo ainda justifica o injustificável com o passado, mesmo quando o problema acontece num programa de formação lançado por este governo. As novas leis laborais prometem...

15
Mai08

A queda

Pedro Sales

Enquanto a oposição foi alertando o primeiro-ministro para o irrealismo das previsões económicas para 2008, José Sócrates foi respondendo que o seu governo tinha dotado a economia dos mecanismos necessários para resistir aos efeitos da crise internacional. Hoje, anunciando a revisão em trambolhão do crescimento de 2,2% para 1,5%, Teixeira dos Santos responsabilizou, veja-se lá, a crise internacional. Este resultado é a falência da política económica do governo. Porque os tais mecanismos que garantiam a vitalidade da economia eram conversa e porque, como se pode ver, a queda do crescimento económico não teve paralelo numa Zona Euro que até superou as expectativas de crescimento. 

28
Abr08

Verde é a cor do dinheiro

Pedro Sales

A junta de freguesia da Ericeira foi multada em sete mil euros utilizar óleos reciclados para mover os carros do lixo, em vez de comprar combustíveis fósseis, pelo que o Estado se considera lesado. O presidente da junta, citado pela TSF, já garantiu que não vai pagar a multa.

Lê-se e não se acredita. Em vez de apoiar, ou pelo menos deixar em paz, quem não precisou de ficar à espera dos subsídios estatais para aplicar uma medida ambientalmente correcta, o Governo multa quem está a usar combustíveis verdadeiramente ecológicos (óleos reciclados). Tudo isto para respeitar uma quota, financiada pelos nossos impostos, com o embuste dos agrocombustíveis que estão a roubar espaço agrícola a outras produções alimentares e a contribuir para a crise alimentar que está à porta. O verde tem muitas tonalidades. Mas a cor do dinheiro dos impostos continua a ser a mais apelativa.

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