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Zero de Conduta

Zero de Conduta

19
Mai08

Novas oportunidades para a precariedade

Pedro Sales

Não há como olhar para a notícia do Expresso, indicando que há salários em atraso e centenas de formadores a falsos recibos verdes no programa Novas Oportunidades, sem colocar em causa o anunciado empenho do Governo em combater a precariedade laboral. A ministra da Educação diz que "só agora há condições para acabar com esta situação, que foi herdada do passado". Extraordinário. Mais de três anos depois de ter tomado posse, o Governo ainda justifica o injustificável com o passado, mesmo quando o problema acontece num programa de formação lançado por este governo. As novas leis laborais prometem...

12
Mai08

"Geração rasca", take 184

Pedro Sales

Pegando no estudo que citou no seu discurso no 25 de Abril, o Presidente da República dedicou o dia de hoje a discutir o alheamento dos jovens da política. Reduzindo a política ao sistema partidário e à confiança na eficácia do sistema eleitoral, a leitura transviada e manifestamente apressada que Cavaco Silva fez do inquérito levou a imprensa e comentadores darem como certo o excepcional alheamento dos jovens. Mas essa é uma leitura simplista e que não encontra correspondência nos dados do inquérito. O problema da participação não é dos jovens. É de toda a população. De resto, os baixíssimos níveis de participação são um dos indicadores mais estáveis e constantes em todos os grupos etários.

Os jovens parecem encontrar uma reduzida eficácia no voto. Isso é verdade e até compreensível, pelas razões aqui levantadas pelo Daniel Oliveira. Mas convém não esquecer que, apesar de serem quem menos oportunidades teve para participar em qualquer actividade política, “os índices de participação social dos jovens são mais elevados” e demonstram-se mais confiantes na melhoria do funcionamento da democracia. Vale a pena destacar mais duas citações do estudo:

Da mesma forma, o recurso a modalidades de participação “não convencionais” − colaborar com organizações ou associações, chamar a atenção dos meios de comunicação ou participar em manifestações, inclusivamente ilegais − tende a ser visto mais eficaz pelos jovens do que pelos mais velhos. Contudo, o mesmo padrão não se detecta no que respeita a outras modalidades de política dita “convencional” − colaborar com partidos ou contactar políticos − onde também são os mais jovens que, tendencialmente, atribuem mais eficácia a essas acções. Por outras palavras, à excepção do voto, os jovens tendem a ver todas as formas de participação política como mais eficazes do que a restante população activa. (p.30)

Os jovens com menos de 18 anos mostram-se também particularmente indisponíveis, em comparação com o resto da população, para, futuramente, assistirem a comícios partidários e outras manifestações, assim como a estabelecer contactos com políticos ou funcionários. Mesmo assim, é interessante notar como, apesar do baixo nível de integração política e económica deste contingente, a sua indisponibilidade para participar é, em quase todos os casos, igual ou inferior ao escalão etário dos mais velhos. (p. 33)


PS: A exclusão pela presidência dos jovens do Bloco de Esquerda da reunião de hoje resume, de forma exemplar, a forma redutora como Cavaco Silva entende a participação política e democrática. Num encontro marcado para discutir as formas de participação política dos jovens, o Presidente da República entendeu por conveniente definir à partida quais são as formas de organização aceitáveis e as que são dispensáveis. Sintomático.

26
Set07

Geração à rasca

Pedro Sales
04
Set07

o síndroma do ninho cheio e outros neologismos

Vasco Carvalho
Aqui há dias o Cabral, via NYTimes, chamou a atenção para um novo epíteto: a nova geração boomerang (1) dos EUA, jovens adultos que depois da universidade são forçados a regressar a casa dos pais, endividados e sem perspectivas (ver também aqui). Fiquei curioso mas pouco convencido. Seria uma mudança de monta numa sociedade onde viver com os pais depois dos 20 anos vem com uma etiqueta pesada de looser; ou no mínimo, de indolência, objecto fácil de sátira.
% de jovens adultos em casa dos pais; EUA (fonte: CPS, tabela AD1)

Os números da Current Population Survey (CPS) indicam que este fenómeno não aparece nas estatísticas oficiais. É sempre um desafio ver tendências com pouco mais de 20 observações, mas a destacar alguma coisa seria a estabilidade destes números. Ainda pensei ver um efeito cíclico ao menos, mas nada a apontar. Talvez só mesmo o fenómeno inverso para jovens (homens) entre os 18-24 anos. (ver também aqui para a mesma conclusão)

Não sendo óbvio o tal efeito boomerang, quais são então as estratégias de sobrevivência dos jovens americanos?
Bom, deixam de ter seguro de saúde (30% dos jovens americanos - mais de 13 milhões de pessoas- não têm seguro), têm filhos mais tarde, compram a primeira casa mais tarde (ver aqui para o Reino Unido), e são cada vez mais a maioria dos working poor, trabalhando mais horas para pagar a dívida com que saem da universidade (dívida que aumentou 50% na última década, em termos reais). E isto são os sortudos: 20% dos sem-abrigo americanos têm entre 18 a 30 anos (tabela 3-5). Ver aqui para mais informação sobre as condições de vida dos jovens americanos.

Neste contexto, a tal rede de apoio familiar seria muito bem vinda. A inexistência do boomerang só piora a situação e gera outro neologismo: 'disconnected young adults' (ouvir uma reportagem aqui), sem família, sem emprego, sem comunidade de apoio.


(1): No Japão, ao que parece são apelidados de solteiros parasitas.

PS: Este post foi substancialmente alterado, na forma e no conteúdo. Isto porque o Cabral tinha razão na 'big picture', e a versão inicial estava longe de o dizer. Mea culpa.

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