Aqui há dias o Cabral, via NYTimes, chamou a atenção para um novo epíteto: a nova
geração boomerang (1) dos EUA, jovens adultos que depois da universidade são forçados a regressar a casa dos pais, endividados e sem perspectivas (ver também
aqui). Fiquei curioso mas pouco convencido. Seria uma mudança de monta numa sociedade onde viver com os pais depois dos 20 anos vem com uma etiqueta pesada de looser; ou no mínimo, de indolência, objecto fácil de
sátira.
% de jovens adultos em casa dos pais; EUA (fonte: CPS, tabela AD1)
Os números da Current Population Survey (CPS) indicam que este fenómeno não aparece nas estatísticas oficiais. É sempre um desafio ver tendências com pouco mais de 20 observações, mas a destacar alguma coisa seria a estabilidade destes números. Ainda pensei ver um efeito cíclico ao menos, mas nada a apontar. Talvez só mesmo o fenómeno inverso para jovens (homens) entre os 18-24 anos. (ver também
aqui para a mesma conclusão)
Não sendo óbvio o tal efeito boomerang, quais são então as estratégias de sobrevivência dos jovens americanos?
Bom, deixam de ter
seguro de saúde (
30% dos jovens americanos - mais de 13 milhões de pessoas- não têm seguro), têm filhos mais
tarde, compram a primeira casa
mais tarde (ver
aqui para o Reino Unido), e são cada vez mais a maioria dos
working poor, trabalhando
mais horas para pagar a dívida com que saem da universidade (
dívida que aumentou 50% na última década, em termos reais). E isto são os sortudos:
20% dos sem-abrigo americanos têm entre 18 a 30 anos (tabela 3-5). Ver aqui para
mais informação sobre as condições de vida dos jovens americanos.
Neste contexto, a tal rede de apoio familiar seria muito bem vinda. A inexistência do boomerang só piora a situação e gera outro neologismo: '
disconnected young adults' (ouvir uma reportagem
aqui), sem família, sem emprego, sem comunidade de apoio.
(1): No Japão, ao que parece são apelidados de solteiros parasitas.
PS: Este post foi substancialmente alterado, na forma e no conteúdo. Isto porque o Cabral tinha razão na 'big picture', e a versão inicial estava longe de o dizer. Mea culpa.