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Zero de Conduta

Zero de Conduta

21
Jul08

José Manuel Fernandes, o intelectual do jornalismo Lux

Pedro Sales

A penúltima edição da Lux garantia, à largura de toda a capa, que “Paulo Sousa não quer saber dos filhos”, pois “só tem olhos para a filha de Cristina Moller”. A acompanhar o lixo do texto, a revista colocava uma foto da filha da apresentadora de televisão e outra com o ex-jogador abraçado a Cristinina Moller. Nem é preciso discutir as questões deontológicas levantadas pelo “jornalismo” absolutamente miserável desta revista, mas não deixa de ser espantoso constatar como, num registo mais sofisticado, e sem levantar o dedo acusatório a ninguém, José Manuel Fernandes estende o anátema a todas as famílias monoparentais. Sem papá e mamã, mesmo que passem a vida a discutir à frente do(s) rebento(s), são disfuncionais. O mesmo director do Público que passa a vida a assinar editoriais contra o carácter impositivo da esquerda, e a pretensa superioridade moral daqueles a quem classifica como “bonzos”, dedica-se agora a definir quais são as famílias saudáveis e as que resultam de uma qualquer disfunção. Esta visão ahistórica da família, que não anda muito longe da de Ferreira Leite, demonstra bem o conservadorismo radical de muitos dos ideólogos liberais cá do burgo.

 

PS: Se José Manuel Fernandes quisesse saber o que é que representa um carácter verdadeiramente disfuncional na vida das pessoas, independentemente das famílias serem ou não monoparentais, talvez não fosse má ideia passar dois minutos a pensar nas consequências das propostas de desregulação e aumento do horário de trabalho pelas quais sistematicamente faz campanha. Que o CDS, auto-intitulado defensor da família, seja o único partido que, entre nós, apareceu a defender a semana de trabalho de 65 horas, diz muito sobre as verdadeiras preocupações familiares da direita.

15
Jun08

O negócio perfeito

Pedro Sales

A capa de hoje do DN dá uma ideia de como funciona o mercado em Portugal: “Os custos com as dívidas incobráveis da electricidade vão passar a ser pagos por todos os consumidores”. Apesar de ser um valor irrisório para a EDP, a empresa alega “que os incobráveis são também um custo do sistema, que não é possível eliminar totalmente”. Ora aí está. A EDP tem um negócio privado e está farta de assumir os riscos inerentes à sua actividade. A ERSE, percebendo que assim não há grande empresa monopolista que aceite fazer negócio entre nós, fez-lhe a vontade. A partir de 1 de Janeiro a EDP vai privatizar os lucros e socializar os riscos. O estratagema tem tudo para ser perfeito, apresentando apenas um pequeno risco. É que se os clientes percebem que alguém paga pelos que não pagam, então é bem capaz de ser melhor deixarmos todos de pagar. Pode ser que o Senhor Mexia, e os seus amigos da ERSE, continuem a custear a electricidade de todos nós. Isso sim, parece-me o negócio perfeito.

23
Mai08

Este país não é para pobres

Pedro Sales

Vinte anos depois da adesão à União Europeia, e mesmo contando com as centenas de milhões de euros em apoios comunitários, Portugal continua a ser o país mais desigual da Europa e aquele onde a pobreza mais se faz sentir. Como nos indica o estudo de Bruto da Costa, hoje destacado pelo Público, a pobreza é persistente e afecta principalmente as crianças, os velhos e o interior do país. Pior. Como salienta o estudo, “a sociedade portuguesa não está preparada para apoiar as medidas necessárias para um verdadeiro combate à pobreza”, tendendo a encará-la como o resultado do “enfraquecimento da responsabilidade individual” e da “preguiça” dos pobres.


Uma posição que encontra lugar na blogosfera liberal e na maioria das colunas de opinião da nossa imprensa. Lestos a exigir a demissão do Estado de todas as suas funções que não se limitem à estrita soberania do país, ignoram olimpicamente o país ilustrado na reportagem do Público, onde as pessoas que vivem nos bairros sociais deixam de saber o que é carne a meio do mês, só têm medicamentos quando alguém lhos oferece e não compram roupa e lavam-na à mão porque não há dinheiro para a energia.


É esse o país esquecido que vive dos apoios sociais que o Estado subsidia com o dinheiro dos impostos. São os pobres que vivem do Rendimento Social de Inserção, permanentemente diabolizado pelo mesmo Paulo Portas que passa os dias a falar da “tirania fiscal”. A mesma direita que, revelando maior preocupação com o “combate a fraude dos pobres do que com o combate à pobreza”, se esquece de referir que a carga fiscal nacional é inferior à média europeia.


Parece bem defender a redução do papel do Estado, mas bem mais complicado é explicar o que é que isso significa num país pobre e desigual como o nosso. Os pobres já pagam, percentualmente, muito menos impostos. Uma redução significativa da carga fiscal não traria grande impacto nas suas condições de vida. Pelo contrário, a redução do Estado, deixaria as suas marcas. Sem os apoios garantidos pela redistribuição social do dinheiro dos impostos, os mais pobres não teriam acesso à educação, saúde e aos complementos sociais que lhes permitem ir subsistindo no meio de várias provações.

 

De resto, até já são conhecidos os resultados deste programa liberal.  Ao contrário do que defendiam os seus apoiantes, os gigantescos cortes de impostos para as classes mais ricas, aprovados por Bush, não só não geraram o desenvolvimento económico defendido como fizeram aumentar as desigualdades sociais e hipotecaram as contas públicas. O liberalismo não é só um disparate económico. Num país como o nosso é uma violência social.

30
Mar08

Dom Sebastião em part-time

Pedro Sales
António Borges declarou hoje, em entrevista ao Público, que o governo cancelou todos os contratos com o banco que dirige no dia seguinte a este Dom Sebastião em part-time se ter disponibilizado para ajudar os social-democratas a fazer uma oposição mais activa ao Governo. Apesar de parecer uma desculpa esfarrapada para justificar o seu apagamento desde esse congresso do PSD, e sossegar as hostes laranjas com as costas largas da "claustrofobia democrática", não tenho, como é natural, nenhuma informação que me possa dizer quem tem razão nesta pequena polémica. Mas sei, porque isso é público, que nestes três anos ninguém deu por António Borges no PSD ou no país. O que, dando por certas as suas palavras, diz mais sobre o conceito de "oposição mais activa" das sobrevalorizadíssimas elites do PSD e dos liberais que peregrinam anualmente para o Convento do Beato para louvar a independência da sociedade civil do que sobre o eventual comportamento do Governo.
21
Mar08

Ignorância e preconceito

Pedro Sales
O Estado desconfia dos privados, abomina o lucro, prefere a ineficiência “igualitária” à eficiência que pode fazer a diferença. E por isso não se importa de enviar um exercito de fiscais administrativos para garantir que um operador privado não ganhará um cêntimo a mais, mesmo quando esse operador está a prestar melhor serviço às populações. José Manuel Fernandes, Público, 20 Março 2008

Se é certo que os suspeitos do costume não se cansam de lamentar o fim da gestão privada do Amadora-Sintra, o editorial de ontem de José Manuel Fernandes é merecedor de atenção especial. Em primeiro lugar porque é extraordinário perceber como é que se consegue escrever um texto com mais de 4 mil caracteres sem apresentar nenhuma fundamentação para os seus argumento, para além do nível zero da argumentação que é dizer que estamos perante uma medida “estalinista”. Quanto ao resto, o director do Público limita-se a recorrer ao já habitual chorrilho de preconceitos sobre a gestão pública e as vantagens da privada.

José Manuel Fernandes fala de eficiência da gestão, o que é estranho num hospital em que as contas estão por validar desde 2002. Diz JMF que são cêntimos, com uma estranha bonomia quando se constata que, só em 2002, o diferendo entre o Estado e o grupo Mello ascende a 18,5 milhões de euros. Não deixam de ser cêntimos, é verdade, mas são centenas e centenas de milhões deles. Quando ao exército de burocratas, talvez valha a pena lembrar que, a existirem, é para tentar evitar situações como as detectadas pelo Tribunal de Contas - quando este organismo declarou que, entre 1995 e 2001, o Estado efectuou pagamentos indevidos no valor de 70 milhões de euros ao Grupo Mello. De resto, e sendo bastante discutível a asserção sobre o melhor serviço prestado às populações pelo único hospital que não está inscrito no programa de recuperação das listas de espera cirúrgicas, não deixa de ser comovente ver JMF defender a qualidade do serviço público, independentemente dos seus custos. Um regresso ao passado, ou o resultado de escrever apenas com base nos preconceitos ideológicos?
21
Mar08

Reescrever a história

Pedro Sales

Na impossibilidade de defenderem o desastre em que se tornou o atoleiro iraquiano, os defensores da guerra continuam os seus exercícios imaginários. O último é a tentativa de reescrever a história. Diz o Paulo Tunhas que, à data, tudo apontava para a "racionalidade" da intervenção militar: “Saddam e as suas múltiplas guerras, as informações dos serviços secretos – não só americanos e ingleses, mas também franceses e alemães”. Ora, como todos estamos lembrados, a Alemanha e França foram justamente dois dos países que sempre defenderam na ONU a continuação das inspecções. Que o tenham feito, como o Paulo Tunhas sugere, contra as indicações dos seus serviços secretos, teria sido notícia em todo o mundo. Onde é que Paulo Tunhas descobriu essa monumental “cacha” que mais ninguém conhece?  Agradecíamos que a partilhasse connosco.
19
Mar08

Os "especialistas"

Pedro Sales


Para quem acredita nessas coisas, quis o acaso do destino que os cinco anos da invasão e ocupação do Iraque coincidissem com o início de uma gigantesca recessão económica nos EUA. Para todos os outros, talvez valha a pena lembrar que os dois acontecimentos estão longe de estar desligados. Em primeiro lugar pelos custos astronómicos da ocupação do Iraque (o Congresso dos EUA já fala em 1 ou 2 milhões de milhões de dólares), com as consequências monetárias que daí resultaram. Mas também, e de  forma nada indirecta, com o decisivo impacto da guerra na escalada do preço do petróleo.

Para quem anda esquecido, um fenómeno curiosamente recorrente por estes dias, talvez valha a pena recordar que os opositores da intervenção militar foram os primeiros a alertar para a subida do preço do petróleo causada pela instabilidade geopolítica na região onde se encontram quase 2/3 das suas reservas. Quando Fernando Rosas escreveu um artigo avançando a possibilidade do crude chegar aos 80 dólares por barril foi um fartote. Durante semanas, os grandes “especialistas” económicos da blogosfera liberal juntaram-se em peso para ridicularizar o Fernando Rosas, o Bloco e os opositores da guerra.

Lembrei-me desse momento ao ler uma notícia - destacada hoje pelo João Miranda para elogiar pela enésima vez o carácter premonitório e omnisciente do mercado -, onde se pode ler que, “desde o final de 2003, o número de contratos futuros de petróleo subiu 364 por cento enquanto o consumo real subiu oito por cento”. O João Miranda não refere, como é normal, mas foi no final de 2003 que se tornou perfeitamente claro que não existia nenhuma solução fácil para o Iraque e que, nem com a colossal fortuna que os EUA estão a enterrar no deserto, se podia garantir a estabilidade da região. O resto é história... e o petróleo que já vai nos 110 dólares.
18
Mar08

A mão invisível está com cãibras I

Pedro Sales
Estranhamente, e quando a questão já não é saber se estamos em recessão mas perceber a natureza da sua dimensão, a blogosfera liberal em peso está calada ou a assobiar para o lado. Compreende-se. Afinal, tanto latim a tentar explicar-nos os mecanismos infalíveis da mão invisível e, quando as coisas começam a dar para o torto, lá tem que ser o dinheiro público a intervir e a nacionalizar as perdas dos lucros privados. Isto tem dias que mais vale estar calado.

Só para se perceber as consequências de um mercado desregulado, e a casmurrice de andar a tentar negar a crise há mais de sete meses, vale a pena lembrar que a Reserva Federal dos EUA injectou 30 mil milhões de dólares para assumir os riscos do crédito de maior risco do Bear Strearns. No rescaldo do furacão Katrina, emprestou 10,5 mil milhões para acudir aos problemas humanitários. Prioridades...
11
Mar08

O António Costa deve ser do Benfica

Pedro Sales

Ainda ontem os blogues liberais andavam animados com um artigo de João Marques de Almeida, no Diário Económico, onde se pode ler que, “para conseguirem falar a esta geração, os partidos de centro-direita têm, antes de mais, que ser modernos, abertos e tolerantes. É o conservadorismo moral que afasta, instintivamente, esta geração da direita e a aproxima da esquerda.

Uma aspiração quimérica, como se pode ver pelo post que o Paulo Pinto Mascarenhas escreveu no mesmo dia, a propósito da participação da mulher de António Costa na manifestação dos professores. Para Paulo Pinto Mascarenhas, se uma mulher participa num acto público, mesmo que se trate de uma manifestação da sua classe profissional, é porque pediu autorização à sua “cara metade”. Ou isso, ou foi enviada pelo marido para enviar um sinal político. Esta direita, que se pretende muito moderna, revela-se nestes pequenos casos. No fundo, nunca saíram do esquema mental do chefe de família. Só que, neste caso, para além de ser do Benfica, também deve zelar pela agenda e discrição da mulher cuja autonomia desconhece.
04
Mar08

Dupond e Dupont

Pedro Sales

O Público faz 18 anos amanhã, editando um número especial que será dirigido por José Pacheco Pereira. A mais valia de convidar personalidades exteriores à redacção para editar um número do jornal é esperar que estas tragam uma visão diferente da sociedade e um alinhamento distinto do que é preconizado pela direcção do jornal. Foi assim com Bono, no Independent, ou Jorge Sampaio, no Correio da Manhã. José Manuel Fernandes, no entanto, resolveu convidar a sua meta aspiracional, numa espécie de momento em que o alter ego convida o criador. Juntos, e a cores, o original e a fotocópia. No dia em que o Público comemora a sua maioridade, este convite não pode deixar de ser encarado como um ponto simbólico na longa e penosa deriva editorial de um projecto inovador na imprensa nacional, e que começou alinhado editorialmente com projectos como o Guardian ou o El Pais, para se ver cada mais amarrado a um espaço de opinião liberal e às cruzadas políticas do seu director.

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