para acabar de vez com a tanga do turismo olímpico
A propósito dos posts que eu e o maradona fomos escrevendo sobre os críticos da prestação portuguesa nos Jogos Olímpicos, O Rodrigo Moita de Deus diz que, de repente, “todos se lembraram de dizer mal do futebol”, esse nicho de qualidade e excelência que rompeu com a mediania desportiva nacional. Comecemos pelo óbvio. Faz tanto sentido dizer que alguém que assina como maradona "anda a dizer mal do futebol", como classificar de anti-comunista o tonto que acaba de chamar José Estaline ao filho. Pela parte que me toca, e enquanto o Hugo Viana se mantiver longe de Alvalade, também nada me move contra o futebol (estando até a mentalizar-me para resistir aos 238 trocadilhos idiotas que a imprensa vai inventar com o nome do novo avançado do Porto).*
Até concordo com quase tudo o que diz o Rodrigo (**), a começar pela natural constatação de que o futebol é o ultimo a poder ser culpado pelo desinteresse generalizado que os portugueses nutrem pelas restantes modalidades, mas a verdade é que o seu post nada nos diz sobre o clima mental que se instalou no país enquanto o Nélson Évora não saltou 17 metros e 67.
Vale a pena recapitular. Partindo de uma representação nacional que em nada se distinguiu pela negativa das anteriores, a imprensa começou a dar como certo que os atletas nacionais não tinham "brio", "honra" e "ética". Depois já não eram os resultados, eram as desculpas. Pouco interessava que as "desculpas" até nem se tenham destacado face à das restantes delegações. O veredicto estava traçado. Foram fazer turismo olímpico, ainda por cima à custa dos nossos impostos, começaram a escrever uma dúzia de colunistas, apenas interessados nos resultados de Pequim para confirmar que o nacional porreirismo é um fado nacional que nos condena como povo. Foi o que fizeram, só para dar dois exemplos mais recentes, o Henrique Raposo e o Alberto Gonçalves. Este último, capaz de pérolas retóricas como “correr e saltar são exercícios de que qualquer bruto é capaz”, encontra a justificação suprema para a pequenez dos portugueses nas declarações de Gustavo Lima – que, em três olimpíadas, teve num 6.º lugar o seu pior resultado – e numa atleta que “ficou em 46.º lugar (entre 50)”. Ora, até mesmo o Alberto Gonçalves tem condições para perceber que essas 50 foram as que obtiveram os mínimos olímpicos - um rigoroso critério de selecção da elite mundial. Não é “46.º lugar (entre 50)”. É a 46.ª melhor do mundo na sua actividade.
Mas, que é isso, para o prolixo colunista? Como todos sabemos ninguém pára o Gonçalves. Ele são as palestras em Yale, Cambridge, Harvard e as constantes edições na Oxford University Press. Com tanto trabalho, de um dos 46 mais conceituados sociólogos do mundo, quem é que pode levar a mal que ele - e aos outros que se lhe juntaram na desbunda - ande para aí a criticar a preguiça nacional?
*. Hulk.
**. as restantes objecções ao texto do Rodrigo encontram a resposta nesta fotografia que o maradona colocou no seu blogue. Mas também podíamos falar no ABC, um clube que, num país sem tradição em andebol, conseguiu ir a 2 finais europeias de clubes.