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Zero de Conduta

Zero de Conduta

31
Jul08

Publicidade enganosa

Pedro Sales

Primeiro foram as notícias que davam conta de uma nova fábrica da Intel em Portugal. Um sucesso, garantia-se, que já tinha 4 milhões de encomendas ainda antes de ser instalada a primeira pedra. Um investimento que iria criar 1000 postos de trabalho qualificados, na zona de Matosinhos, graças à diligência do Governo. A apresentação foi ontem. Com pompa e circunstância a imprensa andou dois dias a anunciar o “primeiro portátil português”. O Magalhães é um computador inspirado no navegador, diziam ontem as televisões em coro. Para dar credibilidade à coisa, o mais famoso relações públicas nacional e o presidente da Intel subiram ontem ao palco do Pavilhão Atlântico para a "apresentação mundial" deste computador de baixo custo.

 

Um único problema. Não só o computador não tem nada de novo como a única coisa portuguesa é a localização da fábrica e o capital investido.  A "novidade mundial" ontem apresentada, já tinha sido anunciada a 3 de Abril - no Intel Developer Forum, em Shangai - e foi analisada pela imprensa internacional vai agora fazer quatro meses. O tempo que tem a segunda geração do Classmate PC da Intel, que é o verdadeiro nome do Magalhães. De resto, o primeiro computador mundial para as crianças dos 6 aos 11 anos, características que foram etiquetadas pela imprensa lusa por ser resistente ao choque e ter um teclado resistente à agua, já está à venda na Índia e Inglaterra. No primeiro país com o nome de MiLeap X, no segundo como o JumpPC. O “nosso” Magalhães é isso mesmo, uma versão produzida  em Portugal sob  licença da Intel, uma história bem distinta da  habilmente "vendida" pelo governo para criar mais um caso de sucesso do Portugal tecnológico.

 

Fábrica da Intel nem vê-la e os tão falados 1000 novos postos de trabalho ainda menos, tudo se ficando por uma extensão da actual capacidade de produção da fábrica da JP Sá Couto. Serão 80 novos empregos, 250 se conseguirem exportar para os Palops. Os tais 4 milhões, que já estavam assegurados, lembram-se? Só que as 4 milhões encomendas não passam de wishful thinking do nosso primeiro. E muito pouco credível. Em todos os países onde o computador está à venda é produzido através de licenças com empresas locais. Como explicou o presidente da Intel, a empresa continua à procura de parceiros locais para ganhar quota de mercado com o Classmate PC, não o Magalhães.

 

A guerra de Intel é outra, como se pode perceber no relato que um dos mais reputados sites tecnológicos - a Arstechnica, do grupo editorial da New Yorker - faz da apresentação da Intel e do governo português: espetar o derradeiro prego no caixão do One Laptop for Child, o projecto de Nicholas Negroponte e do MIT para destinar um computador a cada criança dos países do terceiro mundo. É essa a importância estratégica para a Intel. O resto é fogo de vista para português ver.
 

PS: Não tenho nada contra a iniciativa em si, parecendo-me meritório um projecto para garantir um contacto precoce de milhares de alunos com a informática. Mas isso não quer dizer que aceite gato por lebre. Não seria nada mau sinal se a imprensa nacional, que andou a vender uma história ficcionada, também cumprisse o seu papel. 

10
Jul08

Aprendizes de feiticeiro

Pedro Sales

A Sedes organizou um encontro para debater o seu “documento” sobre o estado do país. Durante o debate, os oradores criticaram que todos os governos se tenham mostrado mais preocupados “com o noticiário das 8h do que com o país daqui a 20 anos”. Está certo. A mesma organização que publicou um documento sobre o estado do país nas vésperas do Estado da Nação, depois de ter negociado a sua publicação com alguma imprensa, que a manteve embargada até poucos minutos dos tais noticiários das 8 horas, vem agora denunciar a politica espectáculo e a cedência às lógicas comunicacionais. Há coisas fantásticas, não há?

29
Jun08

O "Público" não errou, ou o spinning do governo em acção

Pedro Sales

“Segundo a notícia, apenas Espanha, Grécia, Hungria, Chipre e Bélgica declararam firme oposição à directiva, no sentido de que não venha a ser aprovada pelo PE. Perante o silêncio do governo, fica a ideia de que uma boa dose de europeísmo crítico só faria bem ao PS.” André Freire, Público, 23/6/2008

Depois de ter recebido um email do assessor de imprensa do Ministério do Trabalho, no qual este garante que “Portugal se posicionou contra esta proposta de directiva (exactamente a mesma posição adoptada pelo Governo,  espanhol)”, André Freire corrige, no Ladrões de Bicicletas, o sentido do seu artigo. Um único problema. Ao contrário do mail do prestável assessor, que segue o governo e joga com as palavras para esconder a ambiguidade da posição do Ministério do Trabalho, Portugal não votou contra e não seguiu a posição do Governo Espanhol.


O título do comunicado do Conselho de Ministros é sugestivo: “Portugal não votou favoravelmente directiva da UE sobre tempo de trabalho”. Alguém acredita que, se tivesse votado desfavoravelmente, como assegura o assessor do MST, era este o título do comunicado e não, como é normal, um mais enfático “Portugal votou contra directiva da UE sobre tempo de trabalho”? Portugal não votou favoravelmente, é verdade, mas isso é bem diferente de dizer que se “posicionou contra“. Pior, ao contrário da Espanha, Grécia, Hungria, Chipre e Bélgica, que tornaram pública a sua oposição, e garantiram que tudo iriam tentar para que a directiva fosse alterada em favor dos trabalhadores no Parlamento Europeu, o governo do PS permaneceu silencioso e nunca desfez a ambiguidade da sua não posição.


Diz André Freire, cuja honestidade é de saudar, que foi induzido em erro pela notícia do Público, de onde tirou a informação e pelo facto desta nunca ter sido desmentida. É verdade, a notícia nunca foi desmentida, e por uma razão que o prestável assessor muito bem sabe: o Governo não pode desmentir as suas próprias afirmações e as notícias de todas as agências noticiosas internacionais.


Este post do André Freire, relatando o processo pela qual - agora sim - foi induzido em erro, é um típico exemplo de como funciona o spinning dos assessores do governo Sócrates. Jogando com a ambiguidade das palavras, preferem fazer-nos passar por estúpidos. Portugal não apoiou, mas também não se opôs. Preferiu assobiar para o lado. Baixinho e calado. A mais estúpida das posições. Para não comprometer a imagem de bom aluno…ou a carreira que tanto  parece preocupar José Sócrates. 

25
Jun08

Mr Rogeiro goes to Guantanamo

Pedro Sales

Nuno Rogeiro foi a Guantanamo e levou uma câmara da SIC com ele (o resultado pode ser visto aqui). Segundo este repórter acidental, “viemos ver o que é que se passa, exactamente, com os detidos da guerra contra o terrorismo”. Ver, ver, não vimos nada. Como a própria SIC confirma, todo o material foi vistoriado e censurado pelas forças armadas norte-americanas. O que vimos e ouvimos não passa de um mau remake da história da Carochinha, desta vez adaptada a um campo de concentração assepticamente transformado numa prisão como as outras. Tortura, detenção sem culpa formada durante anos e julgamentos à margem da lei?  Sim, no início pode ter havido um “tratamento cruel”, mas as coisas têm melhorado. Agora até já há umas setas viradas para Meca e os presos podem jogar basquetebol e rezar em conjunto.


Tanta condescendência tinha que dar em bandalheira, nesta “prisão” onde um assessor garante que “as regras de disciplina são mais rígidas para os soldados do que para os detidos” e a psiquiatra confirma que os presos ouvem vozes. Resultado da tortura, pensamos. Nada disso. Faz parte dos hábitos da cultura, "associada à maioria dos detidos", “ouvir génios”. Desta vez, infelizmente, parece que não conseguiram escutar o bom do Rogeiro. É pena. Sempre dava para desanuviar o ambiente enquanto esperavam pela jogatana da tarde.

30
Mai08

Este blogue avisa que só traficamos armas ao sábado e domingo

Pedro Sales

A reportagem ontem transmitida pela SIC sobre "os perigos da internet" é um dos momentos televisivos mais hilariantes dos últimos tempos. Para quem não viu - erro que rapidamente deve corrigir aqui, via 5 Dias -, Moita Flores faz o favor de alertar os portugueses, nos tons apocalípticos de quem comenta a internet com a mesma seriedade com que "analisa" o desaparecimento de uma menina inglesa, que os blogues são o espaço onde  se trafica armas, organizam terroristas e se organiza o branqueamento de capitais...


Depois de desfilar mais um sem número de lugares comuns, como o de uma disparatada noção de invasão da privacidade e de uma leitura mais que enviesada do caso Cicarelli, o jornalista que introduz a peça avisa-nos que um computador portátil é tudo quanto precisamos para começarmos a contar mentiras ao mundo todo. Ora, ora. Nem é preciso tanto. Basta esperar um minutinho e continuar ligado na SIC. Como o sentido da reportagem, e do debate que se lhe seguiu, é que um dos principais “perigos da internet” é o vazio legal que permite a impunidade da calúnia, a SIC garante que António Baldino Caldeira, o autor do blogue Portugal Profundo, nunca chegou a ser julgado por ter posto em causa as credenciais académicas do primeiro-ministro que elegeu como um “alvo".


Se o jornalista tivesse feito o seu trabalho, e não andasse à procura de casos que confirmassem a sua tese a martelo, teria percebido que António Baldino Caldeira “nunca chegou a ser julgado” porque a procuradora do MP resolveu arquivar a acusação feita por José Sócrates, entendendo que não havia «indícios de crime» nos dois textos publicados por António Caldeira. É verdade que o jornalista apresenta a reportagem com um portátil na mão. Se calhar até é capaz de ter alguma razão...

27
Mai08

As verdades feitas escondem sempre velhas mentiras

Pedro Sales

A Entidade Reguladora da Comunicação Social apresentou ontem o seu relatório relativo a 2007, incluindo desta vez a análise à programação e informação de todos os canais televisivos, público e privados. Os dados relativos à informação são muito curiosos, permitindo desmentir uma série de velhas verdades feitas;

 

1. Ao contrário do que afirmava o PSD há uns meses, e de Pacheco Pereira que apenas encontra os "momentos Chávez" na RTP, a presença do Governo nos outros canais em nada se distingue da que acontece no canal público. De resto, até é na SIC que o Governo e PS encontram mais tempo de antena, ou não tenha sido esta a estação escolhida por José Sócrates para conceder as suas duas últimas entrevistas televisivas.

 

2. Há muito tempo que a famosa conversa sobre o Bloco ser levado ao colo pelos jornalistas não tem nada a ver com a realidade. Com votações similares ao PP e PCP, o Bloco tem cinco vezes menos notícias que o PP na SIC, quatro na RTP, e três na TVI. Mesmo o PCP, sempre pronto para reclamar da sua discriminação em relação ao "mediático" Bloco, aparece mais três vezes em todos os canais.

 

3. O impacto da comunicação social (mesmo da televisão) na construção de uma percepção pública sobre os partidos é sobremaneira exagerado. Pegue-se no exemplo do Bloco que, com uma cobertura noticia ínfima em relação ao PP, continua a crescer nas sondagens, onde aparece invariavelmente com o dobro das intenções de voto do PP.

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