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Zero de Conduta

Zero de Conduta

04
Set08

Os fins não justificam os meios

Pedro Sales

Vital Moreira considera “despropositadas e contraditórias as críticas às recentes operações policiais”, argumentando que “quem critica a falta de vigilância policial não pode depois criticar as demonstrações de acção policial...”. Dando de barato que, por aquilo que tenho visto e lido, as críticas ao aparato policial que tem varrido os bairros sociais não estão a ser feitas por quem reclama maior policiamento e “vende” a ideia de que estamos em Joanesburgo, não deixa de ser curioso ver Vital Moreira render-se à tese de que os fins justificam os meios.

Há sempre uma ameaça que merece que, em nome da eficácia das forças policiais ou do controlo do Estado, abdiquemos dos nossos direitos. Se é normal que a PSP se concentre, o melhor que pode e sabe, no combate à criminalidade, menos certo é considerar que a importância dessa tarefa a exime do escrutínio público dos seus actos e da leitura que a população deles faz. Porque é disso mesmo que se trata. O cerco dos bairros sociais tem muito pouco a ver com a “prevenção criminal” de que fala a PSP, e mais com a necessidade de combater o “sentimento de insegurança” que assalta os portugueses (como o próprio Vital Moreira reconhece). 

Não é aceitável suspender a presunção de inocência de todos os moradores de um bairro pelo simples facto de que, vivendo num bairro social, encaixam na percepção pública sobre a origem da criminalidade e marginalidade. Mas foi isso que aconteceu. Para sossegar a consciência de quem está a ver o noticiário da noite, milhares de pessoas têm sido impedidas de entrar ou sair do seu bairro, são revistadas, interrogadas, casas são reviradas do avesso e temos helicópteros a rasar os tectos ia a madrugada bem alta. Bairros inteiros foram conotados, perante o país, como sendo os responsáveis pelo crime violento que tem assaltados as televisões nos últimos dias. A PSP diz que escolhe os locais das suas acções com “base cientifica”. Estranha ciência que começa e acaba nos bairros sociais, onde as pessoas não têm acesso privilegiado à comunicação social, a advogados ou aos meios de defesa que abundam em qualquer condomínio ou bairro da classe média.

Mas, no que é que tem dado esta ímpar mobilização dos recursos do Estado e a convocação científica da polícia? De acordo com os números fornecidos pela própria PSP, a mobilização de mais de 1100 agentes, durante vários dias na zona de Lisboa e Porto,  conduziu à apreensão de 8 armas e fogo e 3 armas brancas... Ou seja, tem apanhado pilha galinhas. Isso e imigrantes ilegais, como se pode ouvir em cada peça televisiva. A pintura está feita. A PSP está onde é preciso, a tratar do pessoal dos bairros, e a metê-los na ordem. Pouco importa que a tal “prevenção criminal” seja uma piada e as mega-operações um fiasco. A realidade passa na TV, tudo o resto é paisagem ou ruído.

Grande parte dos homicídios em Portugal são rurais e têm origem em pequenas desavenças sobre a propriedade da terra. Por que razão não vai a GNR cercar as aldeias onde a posse de uma arma é a regra e não a excepção? Ou, o que é que a que tem impedido de vir ao meu bairro ou ao de Vital Moreira? A razão é simples. Não é essa a percepção pública que existe sobre a criminalidade. Se não é essa a ideia que a população faz do crime não é essa a preocupação da PSP. É preciso sossegar as almas.

Diz Vital Moreira que  não tem sentido criticar a PSP “com base nos seus escassos resultados”. Desculpe? Desde quando é que a utilização dos recursos e meios do Estado não devem ser escrutinados e criticados pela sua falta de produtividade? Mais a mais quando, em nome da propaganda do músculo policial, se faz tábua rasa do direito das pessoas e dos bairros à sua imagem e não se hesita em estigmatizar bairros inteiros. As imagens que passam na televisão não são neutras. Têm uma carga simbólica que não deve ser menosprezada, a começar por Vital Moreira.

25
Ago08

para acabar de vez com a tanga do turismo olímpico

Pedro Sales

A propósito dos posts que eu e o maradona fomos escrevendo sobre os críticos da prestação portuguesa nos Jogos Olímpicos, O Rodrigo Moita de Deus diz que, de repente, “todos se lembraram de dizer mal do futebol”, esse nicho de qualidade e excelência que rompeu com a mediania desportiva nacional. Comecemos pelo óbvio. Faz tanto sentido dizer que alguém que assina como maradona "anda a dizer mal do futebol", como classificar de anti-comunista o tonto que acaba de chamar José Estaline ao filho. Pela parte que me toca, e enquanto o Hugo Viana se mantiver longe de Alvalade, também nada me move contra o futebol (estando até a mentalizar-me para resistir aos 238 trocadilhos idiotas que a imprensa vai inventar com o nome do novo avançado do Porto).*

 

Até concordo com quase tudo o que diz o Rodrigo (**), a começar pela natural constatação de que o futebol é o ultimo a poder ser culpado pelo desinteresse generalizado que os portugueses nutrem pelas restantes modalidades, mas a verdade é que o seu post nada nos diz sobre o clima mental que se instalou no país enquanto o Nélson Évora não saltou 17 metros e 67.


Vale a pena recapitular. Partindo de uma representação nacional que em nada se distinguiu pela negativa das anteriores, a imprensa começou a dar como certo que os atletas nacionais não tinham "brio", "honra" e "ética". Depois já não eram os resultados, eram as desculpas. Pouco interessava que as "desculpas" até nem se tenham destacado face à das restantes delegações. O veredicto estava traçado. Foram fazer turismo olímpico, ainda por cima à custa dos nossos impostos, começaram a escrever uma dúzia de colunistas, apenas interessados nos resultados de Pequim para confirmar que o nacional porreirismo é um fado nacional que nos condena como povo. Foi o que fizeram, só para dar dois exemplos mais recentes, o Henrique Raposo e o Alberto Gonçalves. Este último, capaz de pérolas  retóricas como “correr e saltar são exercícios de que qualquer bruto é capaz”, encontra a justificação suprema para a pequenez dos portugueses nas declarações de Gustavo Lima – que, em três olimpíadas, teve num 6.º lugar o seu pior resultado – e numa atleta que “ficou em 46.º lugar (entre 50)”. Ora, até mesmo o Alberto Gonçalves tem condições para perceber que essas 50 foram as que obtiveram os mínimos olímpicos - um rigoroso critério de selecção da elite mundial. Não é “46.º lugar (entre 50)”. É a 46.ª melhor do mundo na sua actividade.

 

Mas, que é isso, para o prolixo colunista? Como todos sabemos ninguém pára o Gonçalves. Ele são as palestras em Yale, Cambridge, Harvard e as constantes edições na Oxford University Press. Com tanto trabalho, de um dos 46 mais conceituados sociólogos do mundo, quem é que pode levar a mal que ele - e aos outros que se lhe juntaram na desbunda - ande para aí a criticar a preguiça nacional?

 

*. Hulk.

**. as restantes objecções ao texto do Rodrigo encontram a resposta nesta fotografia que o maradona colocou no seu blogue. Mas também podíamos falar no ABC, um clube que, num país sem tradição em andebol, conseguiu ir a 2 finais europeias de clubes.

15
Ago08

Ainda o código deontológico dos ladrões

Pedro Sales

A Helena Matos, em resposta e este meu post, acusa-me de má fé. Parece que, estando eu entretido “com a vontade de fazer gracinha com o código deontológico dos assaltantes”, não percebi que “roubar é crime”. Confesso que fico baralhado, porque julgava ter ficado perceptível que a gracinha partia exactamente do pressuposto que eu sabia que a Helena Matos - como eu ou qualquer outra pessoa - sabe que “roubar é crime”. Logo uma atitude irresponsável. Ora, entre perder tempo a apelar ao sentido de responsabilidade de quem manifestamente não a tem ou às forças de segurança de um Estado de direito, eu prefiro concentrar-me na segunda hipótese. Porque espero que, em democracia, o escrutínio das acções de um organismo público surta efeito sobre os seus excessos. É por isso que não faz sentido colocar polícias e ladrões no mesmo plano.

 

Concentrar-mo-nos na evidente irresponsabilidade de levar uma criança para o local de um delito afasta-nos do essencial: sendo certo que roubar é crime, não deve condenar ninguém à morte. Quer se trate de uma criança de 13 anos ou do ladrão, maior de idade e vacinado. Por isso, e atendendo ao elevado número de tiros que em vez dos pneus encontram um corpo humano, é que a Inspecção Geral da Administração Interna emitiu um anota para que as forças policiais só usem as armas de fogo durante uma perseguição policial para se defender ou defender a vida de terceiros.

 

Quanto à acusação de má fé. É certo que a Helena Matos não disse que «é legitimo utilizar uma arma de fogo para parar um assalto que não coloca ninguém em risco». Mas não é menos certo que foi a Helena Matos quem, no preciso momento em que começaram a surgir declarações nos blogues e na imprensa a questionar a actuação da GNR, sentiu a necessidade de lembrar a responsabilidade dos ladrões no sucedido. É tudo uma questão de prioridades. Fazendo minhas as suas palavras: “Quando de todo em todo é impossível ignorar o crime, passa-se para a outra fase ou seja faz-se o que fez” a Helena Matos. Mesmo sabendo que apelar ao sentido de responsabilidade de delinquentes é uma discussão condenada ao insucesso.

18
Jul08

E os resultados?

Pedro Sales

Em resposta a um post de Paulo Gorjão no seu mais recente blogue, Eduardo Pitta elenca uma longa lista de medidas do Governo para justificar a sua convicção que este executivo fez “mais do que fizeram todos os governos desde 1974". Citando essas medidas, com um "variado grau estruturante", Eduardo Pitta aproveita para “lançar uma questão: “sem maioria absoluta, qual destas medidas teria sido aprovada?”.


A associação da maioria absoluta à eficácia governativa é uma das questões mais sobrevalorizadas no debate político nacional, como o próprio post de Eduardo Pitta acaba implicitamente por reconhecer. É que, ao olhar para as propostas aprovadas pelo Governo,  a questão que me parece relevante  avaliar é outra. Apesar da maioria absoluta, e do Governo Sócrates ter conseguido cumprir todas as iniciativas a que se propôs, porque é que o país continuou, durante todos os 4 anos da legislatura, a divergir economicamente da média europeia e os portugueses a perder poder de compra? A maioria absoluta não é um fim em si mesmo. Tem que ter resultados. E esses...

14
Jun08

Zero de Conduta ano II

Pedro Sales

O Zero de Conduta fez ontem um ano. Num sintomático sinal do estado em que se encontra o blogue, só hoje demos por isso. Durante este primeiro ano estivemos em duas plataformas distintas, escrevendo quase 1000 posts (foram 975) que originaram 3422 comentários. No primeiro ano o blogue foi visitado por 244 mil internautas, uma média de 668 leitores diários. A todos os que teimam em passar por cá, concordando ou não com o que aqui se vai escrevendo, a gerência da chafarica agradece a frequência e infinita benevolência.

08
Mai08

Egoísmo geracional

Pedro Sales

No Canhoto, Rui Penas Pires defende que, em nome d”as pressões para prosseguir na via da redução do défice”, os custos de financiamento do ensino superior deveriam ser integralmente suportados pelos estudantes, pagando-os de forma diferida depois da sua entrada no mercado de trabalho. Como "a exclusividade do financiamento estatal é, também, a alternativa do aumento, e significativo, dos impostos", Rui Pena Pires termina exigindo alternativas de financiamento a todos quantos discordam da sua proposta.

 

Em primeiro lugar, fica-se sem saber de que país é que Rui Pena Pires está a falar. Não pode ser de Portugal, porque, por cá, vivemos no segundo país da Europa dos 15 onde o Estado menos investe por aluno, o que não o demove de cobrar das propinas mais caras em termos absolutos. De resto, e citando a OCDE, o investimento  público no ensino superior tem vindo a diminuir desde que as propinas aumentaram, apesar do número de alunos ter aumentado 46% no mesmo período. Perante este cenário, fica-se sem perceber qual a razão que impele Rui Penas Pires para a descoberta de alternativas de financiamento.


Mas, discutamos o empréstimo. Voltando novamente aos números da OCDE, cada estudante custa qualquer coisa como 5 mil euros por ano. Mesmo num curso de 3 anos, e com as demais despesas associadas à frequência universitária, estamos a falar do quê? De um empréstimo à volta dos 30 mil euros? Se reparamos que metade da população paga cerca de 100 mil euros pela casa que leva 35 anos para pagar, dá para perceber a dimensão do fardo financeiro que este modelo de financiamento significaria para quem tenta iniciar a sua vida activa e da insuportável selectividade social que acarreta.


Nesse sentido, só por despautério é que se pode comparar o fundamentalismo liberal  desta proposta com o modelo público de financiamento da segurança social e a defesa de mecanismos de “solidariedade entre gerações de trabalhadores”, como defende Rui Pena Pires. Pelo contrário, o que este argumento revela, mesmo que isso escape ao seu proponente, é um indisfarçável egoísmo geracional. Rui Pena Pires, que pertence a uma geração em que o ensino superior era quase gratuito, mas estava reservado a uma ínfima elite que assim garantia sem dificuldades o acesso aos empregos mais bem remunerados, entende que a presente geração, que entrou na universidade para se ver atirada para empregos para de 500 euros, tem que pagar a factura integral dos seus estudos. Onde é que está a solidariedade em endividar os jovens licenciados num país em que 50 mil se encontram no desemprego, e onde outros 43 mil só encontram trabalhos desqualificados, arriscando-se a fazer parte da primeira geração do pós-guerra que vai viver pior do que os seus pais?

Não pode deixar de ser significativo que, como lembra o João Rodrigues, seja num blogue que tem vindo a defender a “actualização" da social-democracia que possamos encontrar propostas a defender a destruição dos ténues mecanismos de democratização e justiça social presentes na nossa sociedade. Para isso, sempre prefiro o discurso dos liberais. As propostas são as mesmas e estes, verdade seja dita, sempre têm a vantagem de dizer ao que vêm sem recorrerem a subterfúgios para insinuarem que o fazem para preservar o Estado social.

30
Abr08

O alarmismo, a doença infantil do sensionalismo

Pedro Sales
O João Gomes, na Câmara de Comuns, diz que eu não entendo o problema da violência, principalmente na juventude, considerando que a minha posição é um reflexo natural do “esquerdismo”, essa “doença primária”. Talvez valha a pena recordar ao João que o post em causa, sobre o alarmismo mediático a partir da agressão de um cidadão a dois policias à porta da esquadra de Beja, foi escrito dois dias depois de todos os canais noticiosos apresentarem insistentemente este caso como um sinal do aumento da violência e da necessidade de reforçar o número de agentes policiais. Sejamos sérios. Se dois polícias não são capazes de pôr na ordem uma pessoa desarmada, o que é que isso tem a ver com a necessidade de mais agentes? E quantos é que são necessários para responder a um desordeiro? Era esse o sentido do post. A forma como, depois da overdose comunicacional por causa da insubordinação de uma aluna, as televisões continuam a agarrar até à exaustão num caso que está longe de poder suportar qualquer tipo de análise de conjunto e montam uma vozearia que impede qualquer reflexão.

De resto, eu não desvalorizo a questão da insegurança, nem “olho com naturalidade” para o sucedido na esquadra de Moscavide - assunto sobre o qual nem me referi. A invasão da esquadra, essa sim, levanta questões que importa perceber. Por que é que uma esquadra com 48 polícias, divididos por três turnos, apenas tinha 5 de serviço às 17 horas? Mesmo entendendo que existem baixas e férias, 48 a dividir por 3 dá 16. Onde é que pára [o resto d]a polícia? Que modelo organizacional é que permite esta aparente anormalidade? Quanto ao resto, num país que tem dos menores índices de criminalidade violenta do mundo e uma elevadíssima média de polícias por habitante, quando é que chegamos ao número correcto de agentes? Ou temos que responder a cada safanão sencionalista, qual Pavlov, com a cassete da necessidade de contratar mais efectivos para as forças policiais, independentemente dos números da criminalidade e de agentes no activo? Só assim é que deixamos de ser um doentio esquerdista?
21
Abr08

A chantagem do voto útil, reloaded

Pedro Sales
De todos os argumentos a favor de uma solução estável e credível para o  PSD, o mais espantoso vem de Vital Moreira: “se se tornar antecipadamente certa uma folgada vitória do PS em 2009, por incapacidade do PSD, quem vai ganhar com isso são os PCP e o BE, com eleitores de esquerda desobrigados de contribuir para a derrota da direita”. Extraordinário. A melhor maneira do PS conseguir a maioria absoluta é garantir os votos dos eleitores de esquerda que não pretendem votar no partido de José Sócrates, assegurando que o PSD vai a votos com força suficiente para manter o suspense eleitoral e perpetuar a chantagem do voto útil.

A piada é que, dizendo defender um PSD credível, Vital Moreira mais não faz do que reduzir esse partido ao papel de lebre para atrair os votos que o PS necessita para repetir a maioria absoluta. Esta significativa demonstração de confiança nas capacidades na governação de José Sócrates - que precisa de uma espécie de palhaço bem comportado no papel de líder do maior partido da oposição para estancar o crescimento eleitoral do PCP e Bloco -, apresenta um pequeno problema. Não só o PSD não coloca alguma espécie de medo, como é muito duvidoso que os eleitores que queiram derrotar a direita se refugiem no partido liderado por José Sócrates.
09
Abr08

talkin' bombs at sunset

Vasco Carvalho

O último encontro oficial da era Bush-Putin, em Soschi na Rússia. (via Casa Branca, aqui)

Os cavalos de guerra cansados (são as palavras de Bush), acordaram, cordialmente, em discordar sobre o posicionamento de sistemas de defesa anti-míssil e o avanço a leste da NATO (aqui para NPR, aqui para ChinaView). Depois foram dançar.

O que é preocupante nisto tudo é que não consigo deixar de pensar numa estátua gigante de Alberto João Jardim,a dominar o  horizonte da imagem, perfil recortado pelos raios de sol (DN via 31 da Armada).

E é uma pena já não poder falar disso lá no tasco.
08
Abr08

Reflexo condicionado

Pedro Sales
O Henrique Raposo tem publicado uma série de posts sobre os “perigos do etanol”, denunciando as suas consequências ambientais, económicas e sociais. “Os ambientalistas ficaram encantados com o etanol. Era a salvação do planeta. Gasolina limpa que ia salvar os ursos polares. Mas, como sempre, os ambientalistas esqueceram as pessoas, esses seres chatos que complicam a fórmula para a salvação do Planeta”.

Como é óbvio, a “descomplicação” defendida pelo Henrique Raposo tem um problema. É que, ao contrário do que pretende fazer crer, o crescente recurso ao etanol não decorre de nenhuma motivação ambiental, mas geopolítica. Três quartos das reservas de petróleo ficam na zona mais instável do planeta, razão pela qual os EUA e União Europeia querem reduzir a dependência energética dos combustíveis fósseis. O Brasil, o outro grande defensor dos agrocombustíveis, pretende fazer negócio numa área em que detém uma considerável matéria prima e domina o know-how.

De resto, e esse é o principal problema da tese, os principais ecologistas e os seus movimentos, como a Greenpeace, sempre criticaram a utilização de produtos agrícolas para encher o tanque de combustível dos carros. É verdade que os ambientalistas querem “salvar as foquinhas e os ursinhos”, para utilizar a acintosa ironia do Henrique Raposo, mas não deixa de ser apressado retirar daí a ilação de que se estão "a lixar" para os indianos. Os reflexos condicionados têm destas coisas. Mesmo quando se tem razão, tentamos sempre ver moinhos de vento nos sítios do costume.

PS: Sobre este mesmo tema, no Zero de Conduta: Verde menos verde não há.
 

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