Um importúnio chamado realidade
O espaço de opinião nos jornais rege-se por regras bem distintas das reservadas para a informação. Mas, mesmo sendo uma interpretação subjectiva da realidade, convém não ter com esta uma relação tão distante como a hipótese do petróleo chegar aos 40 dólares na próxima semana. A crónica de hoje de Pulido Valente vai por este caminho, tendo o prolífico colunista descoberto que o “o Bloco e, em parte, o PC resolveu aproveitar o Europeu para uma campanha contra o futebol”. “O Bloco até descobriu uma conjura imensa entre a “comunicação social” e as forças do capitalismo para anestesiar os portugueses com as proezas de Ronaldo? Prova do crime? O tempo que a televisão perdeu com o campeonato.“
Um único problema. Não dei por nenhum dirigente do Bloco, ou do PCP, ter dito qualquer coisa de que se assemelhe vagamente à tese levantada por Pulido Valente, quanto mais uma campanha organizada. Aliás, talvez valha a pena reparar que VPV não só não apresenta uma única citação como não nomeia quem andou a difundir tal “campanha”. É compreensível. Para quê deixar que a realidade atrapalhe uma boa crónica? Curiosamente, que eu tenha reparado, o único político que se insistiu na tese da anestesia do Euro, “alimentado a milhões de euros pelo Governo na televisão "pública" que devia ser "diferente, foi Pacheco Pereira. Pulido Valente anda desatento. Faz umas boas décadas que Pacheco Pereira deixou o “marxismo vulgar”.
PS: Uma dúvida. Para além dos conceitos marxistas, como a alienação, a única vez que VPV usa as aspas neste delirante artigo é quando se refere à comunicação social. Como não está a citar ninguém, será que isso quer dizer que Pulido Valente encara a comunicação social como uma entidade metafórica?
PS1: Vale a pena ler o que diz Vítor Dias sobre este assunto.