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Zero de Conduta

Zero de Conduta

21
Jun08

Um importúnio chamado realidade

Pedro Sales

O espaço de opinião nos jornais rege-se por regras bem distintas das reservadas para a informação. Mas, mesmo sendo uma interpretação subjectiva da realidade, convém não ter com esta uma relação tão distante como a hipótese do petróleo chegar aos 40 dólares na próxima semana. A crónica de hoje de Pulido Valente vai por este caminho, tendo o prolífico colunista descoberto que o “o Bloco e, em parte, o PC resolveu aproveitar o Europeu para uma campanha contra o futebol”. “O Bloco até descobriu uma conjura imensa entre a “comunicação social” e as forças do capitalismo para anestesiar os portugueses com as proezas de Ronaldo? Prova do crime? O tempo que a televisão perdeu com o campeonato.“

 

Um único problema. Não dei por nenhum dirigente do Bloco, ou do PCP, ter dito qualquer coisa de que se assemelhe vagamente à tese levantada por Pulido Valente, quanto mais uma campanha organizada. Aliás, talvez valha a pena reparar que VPV não só não apresenta uma única citação como não nomeia quem andou a difundir tal “campanha”. É compreensível. Para quê deixar que a realidade atrapalhe uma boa crónica? Curiosamente, que eu tenha reparado, o único político que se insistiu na tese da anestesia do Euro, “alimentado a milhões de euros pelo Governo na televisão "pública" que devia ser "diferente, foi Pacheco Pereira. Pulido Valente anda desatento. Faz umas boas décadas que Pacheco Pereira deixou o “marxismo vulgar”. 


PS: Uma dúvida. Para além dos conceitos marxistas, como a alienação, a única vez que VPV usa as aspas neste delirante artigo é quando se refere à comunicação social. Como não está a citar ninguém, será que isso quer dizer que Pulido Valente encara a comunicação social como uma entidade metafórica?

 

PS1: Vale a pena ler o que diz Vítor Dias sobre este assunto.
 

18
Jun08

Ajuste de contas

Pedro Sales

Em vez de assumir a responsabilidade pelo estado miserável em que deixou a gestão camarária da capital, o PSD insiste em usar uma maioria resultante de uma eleição sem qualquer tipo de legitimidade política para ajustar contas com o passado. Só assim se compreende que o PSD tenha feito a Assembleia Municipal de Lisboa aprovar uma moção de censura ao vereador Sá Fernandes...por causa de uma decisão do vereador Marcos Perestrello. A iniciativa, que não tem qualquer resultado prático, torna-se ainda mais caricata quando se percebe que a moção é unipessoal e não é extensível ao executivo, como manda a lei.

Mas o melhor estava guardado para o fim. Um dos motivos para a moção de censura é a presença de uma placa, alusiva ao financiador das obras de requalificação de um parque infantil, transformada pelo PSD na tentativa de “privatizar o Jardim da Estrela, entregando-o à conhecida cadeia de hipermercados Continente, mais uma vez prejudicando todos os seus utilizadores em benefício de um poderoso grupo económico”. Bem pode Ferreira Leite ganhar as directas que quiser no PSD. O seu partido provou ontem que continua agarrado a uma imagem providencial de Santana Lopes, cuja gestão ainda defende, e não hesita em usar uma maioria fraudulenta para ajustar as contas com um passado em que Sá Fernandes lhes estragou os negócios para a privatização de um espaço público que agora parecem ser os mais acérrimos defensores. Olha quem...

04
Jun08

O Provedor do Bloco de Esquerda

Pedro Sales

As declarações de Vitalino Canas, revelando o incómodo do PS com a participação de Manuel Alegre numa iniciativa com dirigentes do Bloco - esse partido que trava um “combate político muito intenso” com o PS -, parecem revelar mais um notório caso de conflito de interesses. Como é que é possível conciliar o cargo de porta-voz do partido socialista com o de provedor do Bloco de Esquerda? Uhm...Tratando-se de Vitalino, sempre se poderá dizer que deve acumular as tarefas em regime de part-time e trabalho de temporário. Força camarada Vitalino. É nestes momentos que se (re)conhecem os amigos.  

29
Mai08

O sinal

Pedro Sales

De tanto acreditar que as eleições se ganham ao centro, José Sócrates esqueceu-se do eleitorado de esquerda do PS. É esse o problema que Sócrates hoje enfrenta. Ter rompido os laços históricos e  simbólicos que ligavam uma parte importante do “povo de esquerda” ao Partido Socialista. Desprezado esse sector, na procura incessante por um centro politico que é cada vez mais o espaço da direita política, a maioria absoluta do PS parece uma miragem cada vez mais distante. As movimentações que se começam a sentir à sua esquerda, de que é sinal o “aviso” de Mário Soares ou a iniciativa que junta Alegre e o Bloco, são o sinal claro que é à sua esquerda que Sócrates vai perder a maioria absoluta.

10
Fev08

Sectarismo cansado e sem futuro

Pedro Sales
Líder da Autoeuropa vetado pelo PCP para o Congresso da CGTP. António Chora, coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa e militante do Bloco de Esquerda, não passou na triagem para a lista para o Conselho Nacional, a ser votada pelo congresso de 15 e 16. Controlada pelo sector mais ortodoxo do PCP, a direcção daquele sindicato excluiu o nome de Chora, quer como delegado, quer como potencial membro do Conselho Nacional. António Chora fala mesmo de "veto político" e recusou o convite para assistir ao congresso dos próximos dias 15 e 16. A Autoeuropa representa 20% dos filiados no sindicatos dos metalúrgicos, um valor que sobe para mais de metade se lhe somarmos as empresas do parque industrial de Palmela. Nenhum dos seus dirigentes conseguiu lugar nos cinco nomes do sindicato que fazem parte da lista candidata ao Conselho Nacional da CGTP.

O problema não é só António Chora ser do Bloco de Esquerda. À frente da Comissão de Trabalhadores da maior fábrica em território nacional, negociou um acordo em que aceitou trocar dias de trabalho e metas de produtividade pela garantia dos postos de trabalho e de investimento futuro na empresa. O acordo foi um sucesso e tornou-se mesmo uma referência internacional. Ninguém foi despedido e, depois de dois anos de congelamento salarial, os aumentos têm sido bem superiores à inflação. A empresa continua em Portugal e tem assegurada a produção para um par de anos, investindo mais 500 milhões de euros.

O sindicato dos metalúrgicos, e os sectores mais ortodoxos do PCP, nunca lhe perdoaram o acordo. Consideraram-no uma cedência. Ao contrário da Autoeuropa, onde sempre fizeram campanha contra a comissão de trabalhadores e contra António Chora, o seu modelo foi o que foi seguido na Opel da Azambuja. Quando a administração da GM propôs um acordo semelhante ao que vigorava em Palmela, lançaram a empresa numa série de greves inconsequentes até que, em referendo, os trabalhadores recusarem a estratégia da Comissão de Trabalhadores e aceitarem o acordo proposto pela empresa. Só que, por essa altura, alguém com maior sentido negocial já tinha aceite um acordo mais favorável à GM em Saragoça. O acordo podia não ter resultado e evitado a deslocalização da Opel, é certo, mas a casmurrice de sindicalistas que tentam combater o capitalismo globalizado do século XXI com as estratégias do século XIX, traçou inapelavelmente o destino 1200 trabalhadores.

É este o modelo sindical que não suporta exemplos como o de António Chora. Cansado e velho, acumula derrotas e acrescenta desesperança à classe trabalhadora que diz representar, enquanto continua sentado há mais de 20 anos nos gabinetes dos sindicatos. António Chora ficou de fora. Em seu lugar entrou Manuel Bravo, antigo delegado sindical da Merloni, uma empresa deslocalizada vai para mais de 3 anos. De então para cá é funcionário do sindicato dos metalúrgicos.
25
Ago07

O fado do 31

Pedro Sales
No 31 da Armada, o Francisco Mendes da Silva gostou tanto da forma como o Mário Crespo conduziu a entrevista a Francisco Louçã que até fez o favor de a resumir “para quem não viu”. Parece que ele também não, mas o que importam essas minudências quando se pode inventar que o Mário Crespo se queixou de que o seu computador estava a ser inundado de “hate mail” anónimo proveniente de computadores do Bloco de Esquerda. A entrevista pode ser vista aqui e, como se pode verificar a partir dos 14’ 35, nada disso é dito ou mesmo sugerido. Uma falsidade que, passados 4 dias, se mantém no blogue sem nenhum reparo dos autores.

Não é a primeira vez que, no espaço de uma semana, o 31 da Armada inventa declarações e sugere ligações que os seus próprios links desmentem. Não deixes que a verdade perturbe uma boa história, podia ser a máxima destes simpáticos rapazes que, apesar de passarem a vida a mandar piadas, não são para levar a sério.

Ai, ó larilólela, como este não há nenhum
Tudo bate em Portugal, o fado do 31
06
Ago07

É cada vez mais complicado ser promotor imobiliário em Havana

Pedro Sales
Para todos aqueles que passaram uma semana a sofrer com o destino dos pobres construtores e promotores imobiliários, à beira da falência por causa do acordo entre António Costa e Sá Fernandes prever a alteração do PDM para instaurar uma quota de 25% das novas construções a custos controlados, vale a pena ler esta notícia:

O Grupo Sonae tem um processo em Tribunal contra a Câmara Municipal de Lisboa, onde exige uma indemnização da ordem dos 71 milhões de euros, por lucros cessantes, em virtude de atrasos na concessão do alvará de construção das torres de escritório do Centro Comercial Colombo. Trata-se de uma questão que remonta ao período da gestão de Pedro Santana Lopes, que negou a renovação do alvará concedido na gestão de Jorge Sampaio e que já previa a construção das duas torres.

Repare-se que a SONAE não está a exigir uma indemnização choruda por lhe ter sido revogada a autorização de construção, uma vez que as duas torres até deverão estar concluídas em 2010. Não, os 71 milhões são pelo que a SONAE alega serem os lucros cessantes decorrentes dos atrasos administrativos da autorização de construção. Não são 5, nem 8, nem 17, são 71 milhões que é para ser um número redondo.

Não sei quem tem, ou não, razão neste diferendo jurídico, mas sei que pedir 71 milhões pelos lucros cessante de meia dúzia de anos dá uma ideia bastante esclarecedora sobre o rendimento do mercado imobiliário na capital. Com negócios deste valor, ainda se torna mais caricato ler as reacções dos opositores à proposta das casas a custo controlado, num escalar demagógico que começou com o espectro de Havana e já vai no “Bloco de Esquerda na Câmara é uma ameaça ao direito de propriedade” ou nas primárias acusações sobre o analfabetismo de Sá Fernandes.
05
Ago07

Sem Muros

Pedro Sales
Miguel Portas chegou à blogosfera. Sem Muros é o nome de um blogue que se concentra essencialmente na actualidade internacional. Vale a pena espreitar, mais não seja para seguir o interessante diálogo que Miguel Portas está a travar com os seus leitores a propósito do acordo entre o Bloco e o PS na Câmara de Lisboa. Um exemplo a seguir por outros políticos no activo?
02
Ago07

Ainda Lisboa

Pedro Sales
No dia seguinte às eleições intercalares de Lisboa, escrevi aqui que, face aos resultados, o cenário mais fácil para António Costa seria governar em minoria, procurando aqui e ali os votos necessários para governar. Não foi isso que aconteceu. Quis um acordo com as esquerdas, confirmando, aliás, o sentido de voto dos lisboetas que deram uma votação esmagadora a estas forças políticas. Não foi possível, soube-se ontem à noite, com a recusa de Helena Roseta. Depois de ter apelado, quando se candidatou, a uma união de todas as esquerdas, Roseta disse ontem que não aceita lugares em troca de compromissos. Curiosamente, faz essas declarações ao mesmo tempo que garante que não aceitou porque não lhe ofereceram pelouros e apenas um programa para acrescentar as alterações que entendesse e assinar. Vá-se lá saber.

Restou Sá Fernandes, que assinou um acordo com António Costa. Não garante a maioria, mas garante as condições para o que pode ser uma boa governação da capital, afastando o PS da pesca à linha com Carmona ou Negrão. Em primeiro lugar, o acordo ontem divulgado exclui a construção na frente ribeirinha da cidade e garante a implementação do Plano Verde do arquitecto Ribeiro Teles; aposta na reabilitação em vez da construção e abre as portas a uma quota de 25% das novas casas a preços controlados. Este último ponto, aliás, tem sido objecto da mais demagógica das oposições. Os construtores civis dizem que faz lembrar Havana, esquecendo-se que esta é uma proposta decalcada da legislação que vigora na Catalunha, e quotas de casas a preços controlados há muito que existem nos EUA ou Paris. Mas essas até foram as melhores notícias para António Costa. Ter os patos bravos na televisão a dizer mal de um executivo camarário, no dia em que este toma posse, dá quase tanto prestígio e apoio popular à câmara como uma greve de juízes ao governo. Aguardemos, pois, que os próximos dois anos prometem.
11
Jul07

O Zé faz mesmo falta

Pedro Sales
Domingos Névoa, administrador da Bragaparques, vai a julgamento por corrupção activa, no caso de tentativa de suborno do vereador da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes. Uma decisão sem recurso, apesar dos truques saloios dos advogados da Bragaparques. É só um julgamento, dirão, e é verdade. Mas não é um julgamento qualquer. É a primeira vez que, em democracia, alguém vai a tribunal por alegada tentativa de suborno de um autarca. Há 30 anos que toda a gente fala na necessidade de combater a corrupção nas autarquias, mas bastaram alguns meses, e um vereador íntegro e consciente dos seus deveres, para a vermos julgada onde deve ser feita justiça. Na barra do tribunal. O Zé faz mesmo falta.

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