Mais um "dano colateral"
A GNR parece ter percebido o clamor popular pelo “sucesso” de Campolide, abatendo uma criança de 12 anos que seguia num carro em que os alegados assaltantes de material de construção fugiam da GNR. Para todos aqueles que ainda ficam chocados com a brutal desproporcionalidade dos meios envolvidos – e já não estou certo que sejam muitos -, talvez valha a pena lembrar o que andou a escrever meio mundo depois do assalto à agência do BES.
Quando a perda da vida de um sequestrador nem chega a ser um “dano colateral”, saudada pelos mais variados comentadores como o elemento que “veio dar aos cidadãos uma réstea de esperança, um sentimento de conforto”, que faz mais pela “prevenção do crime violento do que muitas leis”, necessária para que nos possamos “sentir muito mais seguros”, é normal que as forças policiais percebam a mensagem.
No espaço de dois anos é a terceira perseguição policial que a GNR resolve, depois de disparar para os pneus do carro, com a morte dos ocupantes do carro em fuga. Desta vez foi uma criança, mas este modus operandi tem definitivamente que ser terminado. A força policial exige proporcionalidade. Que pode ter sido certeiramente utilizada em Campolide, mas que falhou rotundamente neste caso. Mais vale deixar fugir os assaltantes de um crime banal do que colocar em risco a vida dos delinquentes e, vale a pena lembrar, de todos os cidadãos que têm o azar de cruzar a estrada à hora errada. Um inquérito interno da GNR, como a própria força propõe, não é solução para este caso, exigindo-se um inquérito da Inspecção Geral da Administração Interna.