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Zero de Conduta

Zero de Conduta

02
Jun08

A informação que faltava

Pedro Sales

O jornal da Noite da SIC anunciou ontem um importante exclusivo: as imagens, captadas por um telefone satélite, do interior do avião que levou a selecção à Suíça. Ver os jogadores a recostarem-se nos cadeirões da classe executiva era a informação que faltava aos portugueses para se aperceberem da grandiosidade dos feitos que esperam a equipa das quinas. Já conhecíamos todos os cantos dos quartos de hotel, os gostos pessoais de cada um e o local onde Petit compra as meias. Mas nunca os tínhamos visto no avião. Por um momento, deixou-se de lado o principal assunto do estágio. Os clubes, actuais e futuros, das vedetas lusas. Com tanta convívio com os jornalistas que mais parecem agentes dos jogadores, e com os verdadeiros agentes, talvez exista algum espaço mental para os jogadores ouvirem o que é que Scolari tem para dizer. De preferência antes de chegar o primeiro jogo.

30
Mai08

Este blogue avisa que só traficamos armas ao sábado e domingo

Pedro Sales

A reportagem ontem transmitida pela SIC sobre "os perigos da internet" é um dos momentos televisivos mais hilariantes dos últimos tempos. Para quem não viu - erro que rapidamente deve corrigir aqui, via 5 Dias -, Moita Flores faz o favor de alertar os portugueses, nos tons apocalípticos de quem comenta a internet com a mesma seriedade com que "analisa" o desaparecimento de uma menina inglesa, que os blogues são o espaço onde  se trafica armas, organizam terroristas e se organiza o branqueamento de capitais...


Depois de desfilar mais um sem número de lugares comuns, como o de uma disparatada noção de invasão da privacidade e de uma leitura mais que enviesada do caso Cicarelli, o jornalista que introduz a peça avisa-nos que um computador portátil é tudo quanto precisamos para começarmos a contar mentiras ao mundo todo. Ora, ora. Nem é preciso tanto. Basta esperar um minutinho e continuar ligado na SIC. Como o sentido da reportagem, e do debate que se lhe seguiu, é que um dos principais “perigos da internet” é o vazio legal que permite a impunidade da calúnia, a SIC garante que António Baldino Caldeira, o autor do blogue Portugal Profundo, nunca chegou a ser julgado por ter posto em causa as credenciais académicas do primeiro-ministro que elegeu como um “alvo".


Se o jornalista tivesse feito o seu trabalho, e não andasse à procura de casos que confirmassem a sua tese a martelo, teria percebido que António Baldino Caldeira “nunca chegou a ser julgado” porque a procuradora do MP resolveu arquivar a acusação feita por José Sócrates, entendendo que não havia «indícios de crime» nos dois textos publicados por António Caldeira. É verdade que o jornalista apresenta a reportagem com um portátil na mão. Se calhar até é capaz de ter alguma razão...

27
Mai08

As verdades feitas escondem sempre velhas mentiras

Pedro Sales

A Entidade Reguladora da Comunicação Social apresentou ontem o seu relatório relativo a 2007, incluindo desta vez a análise à programação e informação de todos os canais televisivos, público e privados. Os dados relativos à informação são muito curiosos, permitindo desmentir uma série de velhas verdades feitas;

 

1. Ao contrário do que afirmava o PSD há uns meses, e de Pacheco Pereira que apenas encontra os "momentos Chávez" na RTP, a presença do Governo nos outros canais em nada se distingue da que acontece no canal público. De resto, até é na SIC que o Governo e PS encontram mais tempo de antena, ou não tenha sido esta a estação escolhida por José Sócrates para conceder as suas duas últimas entrevistas televisivas.

 

2. Há muito tempo que a famosa conversa sobre o Bloco ser levado ao colo pelos jornalistas não tem nada a ver com a realidade. Com votações similares ao PP e PCP, o Bloco tem cinco vezes menos notícias que o PP na SIC, quatro na RTP, e três na TVI. Mesmo o PCP, sempre pronto para reclamar da sua discriminação em relação ao "mediático" Bloco, aparece mais três vezes em todos os canais.

 

3. O impacto da comunicação social (mesmo da televisão) na construção de uma percepção pública sobre os partidos é sobremaneira exagerado. Pegue-se no exemplo do Bloco que, com uma cobertura noticia ínfima em relação ao PP, continua a crescer nas sondagens, onde aparece invariavelmente com o dobro das intenções de voto do PP.

12
Mai08

“Todo um programa”

Pedro Sales

Pacheco Pereira entende que os grandes planos da cara de Manuela Ferreira Leite, na entrevista de Judite de Sousa, rrepresentam “todo um programa” sobre a parcialidade jornalística. O objectivo? Mostrar “uma mulher velha e cansada, com rugas, com o tempo na cara”. Só que, como se pode ver numa breve busca no Youtube, escapou a Pacheco Pereira a verdadeira dimensão da perfídia do realizador da RTP para perceber que o mesmo já tinha sido feito a Simone de Oliveira ou a Marinho Pinto - só para dar dois exemplos. O programa, que está longe de ser perfeito, anuncia na sua página que "os rostos da notícia estão na “Grande Entrevista" da RTP." O artigo de Pacheco Pereira é todo um programa, sim, mas sobre a forma enviesada como o próprio encara a imprensa e gere a sua intervenção pública e política. Quando não se vitimiza a si próprio, pela perseguição que a esquerda lhe faz pelo seu alinhamento com a guerra no Iraque ou pelos “falsos blogues pornográficos” que teimam em aparecer para retirar o Abrupto da liderança dos blogues nacionais, está a tentar a mesma táctica com aqueles que defende. Só um problema. A fragilidade da candidatura de Manuela Ferreira Leite é a candidata. Pela sua desastrada passagem pelo Governo e pela absoluta falta de tacto político, como se pode ver pelo autêntico disparate que têm sido as escassas oportunidades em que diz qualquer coisa.


PS: Já que se fala na Grande Entrevista, de Judite de Sousa, talvez valha a pena lembrar que cinco dos últimos sete entrevistados são do PSD. Os outros não são políticos. Como esta semana deverá caber a sorte a Pedro Passos Coelho, de há dois meses a esta parte que o principal programa de entrevistas da estação pública está tornado numa espécie de “Povo Livre” televisivo.

16
Abr08

O jornalismo de "causas" e os factos do jornalismo

Pedro Sales

No meio da patética perseguição movida pelo PSD a Fernanda Câncio, uma das acusações que tem permanecido quase ignorada é aquela onde este partido diz que a RTP não a pode contratar porque se trata de uma jornalista de “causas” e, portanto, parcial. Apesar das denúncias contra a injustiça, tirania e corrupção fazerem parte do melhor que a história do jornalismo tem para nos oferecer, num país em que as pessoas confundem imparcialidade com ausência de opinião a acusação tem a força de um anátema.

Sucede que o incómodo do PSD, retomado por uma parte significativa da blogosfera de direita - mesmo entre a esmagadora maioria que criticou o partido de Menezes - não é tanto com a existência de “causas”, mas mais com a natureza das mesmas. Jornalismo de “causas” tornou-se, entre nós, um eufemismo para dizer que se defende a despenalização do aborto, a separação do Estado e Igreja, ou a igualdade de direitos entre todas as pessoas, independentemente do género, opção sexual ou cor da pele. São os temas “fracturantes”, outro termo que está longe de ser inocente.

De resto, não deixa de ser curioso que, mais coisa menos coisa, a agenda que é considerada fracturante seja coincidente com as posições da esquerda. À direita, como se sabe, não existem “causas”. Existem causas e factos. E é assim que temos que assistir impavidamente às intermináveis horas de televisão e capas de jornais com o alarmismo sobre a violência escolar, misturando números de tesouras e canivetes suíços com armas de fogo para darem contra de uma realidade que os números não atestam. Isso, ou constatar a artificialidade dos cíclicos climas de insegurança agitados por alguma imprensa no país com uma das menores taxas de criminalidade de todo o mundo e com um número recorde de policias na Europa.

Aí, nada. Não há nenhuma causa nem agenda política. Só a dura neutralidade dos factos, mesmo quando estes são sistematicamente desmentidos pelos números e indicadores internacionais. Mas ai de quem diga o contrário. É porque se trata um jornalista de “causas” ou tem uma agenda escondida.

01
Abr08

Um erro de se lhe tirar o chapéu

Pedro Sales

De Toronto a Pequim, de Nova Iorque a Nova Deli a imagem de um gigantesco chapéu construído no topo de uma das maiores atracções turísticas do mundo alastrou à velocidade de um vírus informático. Um pequeno problema. Era falsa, nunca tendo existido nenhum plano para celebrar os 120 anos da Torre Eiffel construindo uma estrutura de kevlar que permitisse duplicar o número de visitantes. Um pequeno truque promocional de um atelier de arquitectos de Paris, que o Guardian e o New York Times tomaram como válido, originou uma bola de neve que enganou a metade da imprensa mundial que nunca se deu ao trabalho de fazer um telefonema para o correspondente em Paris.

Aqui: os "desenhos espontâneos" que anteciparam o 1 de Abril numa semana.
25
Mar08

Despreocupação, o novo nome para a pobreza

Pedro Sales
A SIC acaba de passar uma notícia indicando que os portugueses são o povo da Europa que menos se preocupa com a sua saúde oral. Para além dos dados estatísticos, que indicam que menos de 45% dos cidadãos vão ao dentista uma vez por ano, foram entrevistar alguns desdentados idosos numa aldeia do interior do país, inquirindo-os sobre a sua renitência em se deslocarem ao dentista. A resposta, simples e directa, não se fez esperar: o país era pobre e não tínhamos dinheiro. Perante isto, o jornalista remata a peça dizendo que demora muito tempo a mudar as mentalidades. Pois, a começar pelas de alguns jornalistas...
24
Mar08

Boas notícias

Pedro Sales
As notícias do PÚBLICO na Internet passam a ter ligação directa para os blogues que as comentam, através de uma nova ferramenta que hoje entra em funcionamento. O objectivo desta medida é ajudar “na difusão das conversas que se geram na blogosfera sobre as notícias, tranformando os níveis de participação no próprio site”, explica um comunicado da empresa.

A imprensa tradicional tem sido lenta a aproveitar as potencialidades da blogosfera, olhando-a normalmente com um misto de desconfiança e sobranceria. Até por isso, a nova funcionalidade hoje posta em funcionamento pelo Público é uma excelente notícia. Mesmo com as colunas de opinião a continuarem reservadas a assinantes e as notícias que se evaporam da net sem deixar rasto, é justo reconhecer que, juntamente com o Sol, o Público é o jornal que tem olhado de uma forma mais séria para a blogosfera e outras formas de comunicação, como o twitter.

Para se ter uma ideia da importância dos novos meios e da sua relação com as políticas editoriais da imprensa tradicional, talvez valha a pena lembrar que o  New York Times teve o seu acesso na net condicionado durante dois anos ao pagamento de uma assinatura. Desistiu há poucos meses, com uma alteração radical de política que levou o centenário jornal a disponibilizar na net todos os seus arquivos, de 1851 até aos nossos dias. A razão? Nas pesquisas efectuadas através do Google, os principais blogues e a wikipedia apareciam sistematicamente à frente do NY Times. Sem links perdem-se visitantes e sem estes não há receitas publicitárias e capacidade para “fazer” opinião. Com o crescente número de pessoas que pesquisam notícias e opinião na net, a imprensa tradicional não pode continuar a ignorar a blogosfera ou outros meios de sociabilização em linha. Com o passo hoje dado, o Público provou ter a capacidade para andar um passo à frente da sua concorrência.
21
Mar08

Ignorância e preconceito

Pedro Sales
O Estado desconfia dos privados, abomina o lucro, prefere a ineficiência “igualitária” à eficiência que pode fazer a diferença. E por isso não se importa de enviar um exercito de fiscais administrativos para garantir que um operador privado não ganhará um cêntimo a mais, mesmo quando esse operador está a prestar melhor serviço às populações. José Manuel Fernandes, Público, 20 Março 2008

Se é certo que os suspeitos do costume não se cansam de lamentar o fim da gestão privada do Amadora-Sintra, o editorial de ontem de José Manuel Fernandes é merecedor de atenção especial. Em primeiro lugar porque é extraordinário perceber como é que se consegue escrever um texto com mais de 4 mil caracteres sem apresentar nenhuma fundamentação para os seus argumento, para além do nível zero da argumentação que é dizer que estamos perante uma medida “estalinista”. Quanto ao resto, o director do Público limita-se a recorrer ao já habitual chorrilho de preconceitos sobre a gestão pública e as vantagens da privada.

José Manuel Fernandes fala de eficiência da gestão, o que é estranho num hospital em que as contas estão por validar desde 2002. Diz JMF que são cêntimos, com uma estranha bonomia quando se constata que, só em 2002, o diferendo entre o Estado e o grupo Mello ascende a 18,5 milhões de euros. Não deixam de ser cêntimos, é verdade, mas são centenas e centenas de milhões deles. Quando ao exército de burocratas, talvez valha a pena lembrar que, a existirem, é para tentar evitar situações como as detectadas pelo Tribunal de Contas - quando este organismo declarou que, entre 1995 e 2001, o Estado efectuou pagamentos indevidos no valor de 70 milhões de euros ao Grupo Mello. De resto, e sendo bastante discutível a asserção sobre o melhor serviço prestado às populações pelo único hospital que não está inscrito no programa de recuperação das listas de espera cirúrgicas, não deixa de ser comovente ver JMF defender a qualidade do serviço público, independentemente dos seus custos. Um regresso ao passado, ou o resultado de escrever apenas com base nos preconceitos ideológicos?

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