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Zero de Conduta

Zero de Conduta

11
Mar08

A queda de um Anjo

Pedro Sales

Ainda há poucos meses um modelo para os conservadores de um e do outro lado do Atlântico, estrela pop da “nova direita”, Sarkozy parece ter batido no fundo de tal forma que os autarcas do seu próprio partido lhe pediram para se afastar da campanha para as eleições locais. A crueza dos números da derrota de domingo não deixa espaço para enganos sobre a erosão da sua popularidade. O que espanta não é a mutação e desgaste da imagem. É a rapidez com que tudo se passou, só possível porque a subida e queda de Sarko foi construída e gerida à frente de todos nas capas da imprensa e noticiários televisivos. Quando a imagem é a substância do projecto político, mediado exclusivamente pelo tratamento jornalístico, a volatilidade da imagem é uma das suas consequências naturais.

Os media cansam-se e cansam como nenhum outro meio, deixando patente o nervosismo de uma exploração frenética da imagem. Pensando que a exposição desenfreada da sua vida privada seria uma poderosa alavanca de uma aura de dinamismo e sucesso politico que pretendia reforçar, Sarkozy viu os franceses colarem-lhe uma imagem de imaturidade e instabilidade emocional pouco consentânea com a visão que têm do cargo. Claro que não ajuda que o mesmo presidente que pede sacrifícios e exige austeridade, nomeadamente através de um reforma da segurança social baseada na de José Sócrates, se passeie luxuosamente pelas ruínas de Petra. Sarkozy, iludido pela popularidade pop dos primeiros tempos, pensou que conseguia controlar a forma como as notícias seriam percepcionadas. Trágico engano. Aquilo que os media constroem, por eles é destruído. Depois de aberta a porta da intimidade privada, ninguém se fica por uma pequena história. Quer saber tudo. Sarkozy é apenas mais uma “vítima” da sua própria armadilha. Podia ter perguntado ao Carrilho.
07
Jan08

Se o polícia viu a casa ser assaltada, fechou os olhos, e continuou a ganhar 20 mil euros por mês, d

Pedro Sales

“Quando uma casa é assaltada não vale a pena corremos atrás do polícia, acho que devemos é correr atrás do ladrão”. Teixeira dos Santos, tentando safar Vitor Constâncio da negligência (termo simpático) com que tratou o caso BCP em 2004, mas também tentando safar o ex-presidente da CMVM, o próprio Teixeira dos Santos, da negligência (termo simpático) com que tratou o caso BCP em 2004.
05
Jan08

Cobardia é sair de uma guerra em que não se acredita

Pedro Sales
Agora que se tornou claro que foi o governo francês, liderado pelo novo ídolo das nossas direitas, que obrigou ao cancelamento do Dakar por causa de um comunicado de uma organização da Al Qaeda, estranho não encontrar nenhuma crítica à cobardia do namorado de Carla Bruni nos blogues que não pararam de zurzir na falta de coragem e no capitulacionismo de Zapatero perante os terroristas quando este retirou as tropas espanholas do Iraque. A coragem dos nossos guerreiros de sofá tem os seus dias. E as suas causas.
18
Dez07

Remorsos? Sentimento de culpa? Estava na cara que não era advogada

Pedro Sales
Giuditta Russo era uma jovem e promissora advogada italiana. Em pouco mais de 10 anos, não perdeu um único dos mais de 250 processos que defendeu. Tudo lhe corria de feição, até ao dia em que percebeu que não conseguiria obter a indemnização que o seu cliente pretendia. Decidiu pagar-lhe os 70 mil euros do seu bolso. Foi o seu penúltimo processo. Não aguentou a pressão e a mentira em que tinha vivido e confessou que nunca tinha concluído a licenciatura de Direito. Na verdade, nunca tinha sequer entrado na faculdade. Durante anos tinha fingido que frequentava Direito e estudado na época de exames. Agora tem o julgamento mais importante da sua vida. Do outro lado da barra de tribunal. Sinal dos tempos. A sua autobiografia é um sucesso de vendas e vai ser transposta para o cinema.
12
Dez07

Debate à Esquerda 2: Que Perguntas?

José Neves
A diferença entre as esquerdas não está só nas respostas diferentes que apresentam. Com efeito, as divergências começam desde logo a nível das perguntas se fazem ou que se deixam de fazer. Por isso aliás o debate à esquerda é duplamente controverso e por isso parece ser tão “trabalhoso” para todos os que nele entram. É que enquanto uns perguntam como o salário pode ganhar terreno à mais-valia, outros perguntam como o tempo sem trabalho pode ganhar terreno ao tempo de trabalho; enquanto uns perguntam como organizar um sistema universal, outros perguntam como recomunizar o público; enquanto uns perguntam como pode o Estado ganhar terreno ao Mercado, outros perguntam como ganhar terreno ao Mercado e ao Estado.
Mas há mais. É que para além das diferentes repostas que damos e das diferentes perguntas que fazemos, temos também modos diferentes de relacionar pergunta e resposta... se virmos bem, no debate à esquerda uma das principais divergências diz respeito ao modo de se articular pergunta e resposta. Enquanto a uns só interessa fazer as perguntas para às quais têm resposta, a outros só interessa fazer perguntas para as quais ainda não têm resposta. Enquanto para uns fazer perguntas é fazer perguntas para que se tem resposta e resulta um simples delírio fazer-se perguntas para que não se tem resposta, para outros fazer perguntas para que se tem resposta é dar respostas e não fazer perguntas. Isto não significa que estes últimos – nos quais me incluo, como já terá dado para perceber – se dêem por satisfeitos com o facto de fazerem perguntas para as quais não têm respostas. Significa, isso sim, que apostam na ideia de fazer as perguntas cujas respostas querem encontrar mesmo que não tenham a garantia de o conseguir.
Tratar-se-á aqui de uma simples questão de querença? Na verdade trata-se de uma querença que é indissociável da convicção de que é possível encontrar tais respostas. Quais são as condições que definem esta possibilidade? A primeira condição é entendermos que qualquer idealismo declarado tem consistência material – é imagem e é pedra – e que essa consistência material se pronuncia a montante e a jusante da própria declaração idealista. A título de exemplo, diríamos que quando Marx e Engels declararam que o espectro do comunismo pairava sobre a Europa, havia então um contexto material a facilitar a germinação de um tal “delírio” (Engels escreveria mais tarde, abusando da sorte, que o grau de industrialização de um país se poderia medir pelo número de exemplares vendidos do Manifesto Comunista); e diríamos também que, depois de uma tal declaração, passaram a existir novos contextos materiais.
A segunda condição é a certeza de que “realismo político” não é algo indiferente ao lugar de onde o calculamos, se “a partir de cima” ou se “a partir de baixo”. A este propósito, é sempre sugestivo o episódio proposto pelo historiador José Mattoso. Algures entre finais do século XIX e inícios do século XX, um rei português passeia com o seu iate, encontra uns pescadores numa pequena embarcação que deambula ao longo da costa atlântica e, quando lhes pergunta se são portugueses, recebe como resposta qualquer coisa como isto: “não senhor, nós somos da Póvoa do Varzim”.
A terceira condição de construção de respostas políticas que inexistem e que são imprevistas no momento em que fazemos uma pergunta, e esta é a condição mais importante na medida em que supera os próprios termos em que definimos a primeira e a segunda condição, é o princípio de seguirmos um modo comunista – do comum – de produção política de perguntas e de respostas.
Mas isto fica para um próximo post, que por ora já se faz tarde.
25
Nov07

O Anarcómetro ou o Delegado Zero

José Neves

Alguns comentários, nomeadamente os do Nuno Castro, perguntam-me em que é que "isto" se distingue do anarquismo. Não vou responder directamente. Não tenho nenhum Dicionário das Doutrinas à mão e temo que se fôssemos os dois consultar o dito, ainda assim, teríamos que primeiro nos entender sobre que anarquismo falamos. Entretanto, e para encurtar caminho, adianto desde já que não me faz confusão que "isto" se tome por anarquismo.

Convenhamos, ainda assim, que já aqui dei um exemplo concreto do que entendo ser um grão na engrenagem que consagra a figura de "liderança" na vida política: a primeira fase do BE, quando o partido se afirmou como uma força que falava a mais do que uma voz. Trata-se de um exemplo não muito significativo e seguramente com contradições – mas também não estamos à espera que se possa tomar partido sem elas – mas trata-se de um exemplo que se quis desviar da celebração da figura do dirigente político. A mesma renitência podia ser encontrada no partido ao lado: refiro-me à recusa da direcção do PCP, sobretudo nos anos 80, em resumir a sua vida política ao rosto do seu líder, recusa que terá sido recentemente abandonada a julgar por todo o marketing que o partido desenvolveu em torno de Jerónimo de Sousa.

Último exemplo. Este, porém, ainda actual. Se olharmos para o zapatismo, podemos ver que aí se afirma a recusa de uma heroicização da vida política. De forma algo dilemática, é certo, o delegado zero esconde o seu rosto; e isto, e ainda que todos saibamos a importância da aura romântica de Marcos na história do neo-zapatismo, tem pelo menos o condão de não elidir o problema da corrupção da democracia às mãos da representação.
08
Nov07

2-2=25

Pedro Sales
A lotaria britânica estreou um novo bingo na última segunda-feira. O objectivo de "Cool cash" é que cada uma possa fazer uma linha com temperaturas inferiores às que aparecem em cada cartão. O problema é que há temperaturas positivas e negativas e, como se viu, uma parte significativa das pessoas não percebe que abaixo de zero quando mais alto for o número mais baixa é a temperatura. Três dias depois da estreia, e com a maioria das pessoas sem perceber se tinha ou não direito ao prémio, o jogo foi retirado das ruas.

Agora pensem que era em Portugal que tinha lugar um grotesco caso de inumeracia como o revelado pelos ingleses. Quantas notícias, editoriais e colunas de opinião não ocupariam a imprensa sobre o fracasso da escola pública e do ensino da matemática? Para além da definição de uma visão mítica sobre o conhecimento das gerações anteriores, a distopia sobre a escola pública também se contrói a partir da hipervalorização dos males que nos afligem e do esquecimento selectivo sobre as debilidades reveladas nos outros países. É uma pena, mas parece que desta vez o José Manuel Fernandes e a Filomena Mónica não podem recorrer ao seu tema preferido.
25
Out07

Gaveta 9

Pedro Sales
Infografia "24 horas" (carregue na imagem para a aumentar)

No intervalo das suas preocupações com os barulhos do telemóvel, talvez não ficasse mal ao senhor procurador-geral da República verificar o que se passa na casa que dirige. O "24 Horas", na sua edição de hoje, dá o mais fiel exemplo do que foi a "investigação" do caso Casa Pia. O responsável pela coisa, o procurador João Guerra, omitiu do processo 83 diagramas que provavam que não existia nenhum registo telefónico entre os vários arguidos e entre estes e as vítimas de pedofilia. A informação ocultada punha em causa "apenas" o principal argumento da acusação, a de que os arguidos faziam parte de uma rede que combinava telefonicamente os encontros sexuais.

Sem se referir ao caso concrecto, Germano Marques da Silva não podia ser mais claro sobre o que está em causa:"A acusação não pode esconder qualquer elemento produzido no decurso de um processo, seja ele contra ou a favor do arguido, sob pena de procedimento disciplinar e até criminal (por prevaricação). Todos os elementos, favoráveis ou não, devem constar dos autos".

As mais altas figuras do Estado, e os principais partidos da oposição ao PSD/PP, eram escutados telefonicamente. As conversas, descontextualizadas (quem não se lembra da história do embaixador da Rússia) vieram todas para a imprensa. As provas eram seleccionadas de acordo com princípios que não tinham nada a ver com os critérios de interesse judicial. O juíz só queria aparecer na televisão a fazer desportos radicais. Cada procurador e inspector que apareceu no Parlamento contou uma história diferente sobre o envelope 9. E o procurador ouve barulhos no telefone. Haja paciência.
22
Out07

O politicamente correcto tem as costas largas

Pedro Sales
Anda para aí uma grande indignação porque James Watson, um dos cientistas que descobriu a estrutura do ADN, viu ser cancelada uma conferência científica depois das suas polémicas afirmações sobre a base genética para a menor inteligência dos africanos. José Manuel Fernandes (sem link) e João Miranda encontram neste caso o exemplo do condicionamento da ciência pelo “politicamente correcto”, impedindo a continuação do debate. Já Desidério Murcho considera que estamos perante o germe do “pesadelo orwelliano”.

Numa curiosa escolha de palavras, Desidério Murcho pergunta se “um cientista não tem direito a ter crenças falsas”? Depende. Do método, do rigor e da honestidade. É que, contrariamente ao que defendem os três nomes citados, não é o condicionamento politicamente correcto da ciência que está em causa, mas a sua credibilidade. A questão não são tanto as “crenças” de Watson - onde em nada se distingue do mais idiota dos racistas -, mas o facto de elas serem proclamadas com o argumento de autoridade da investigação genética e do “único compromisso com a ciência pura”. A prova “científica” usada por Watson para desmentir a igualdade racial da inteligência é a suposta burrice dos empregados negros. Ora, como foi rapidamente negado pelos seus pares, não só há nenhum estudo que comprove as teses de Watson, como o próprio já veio pedir desculpa pelas suas palavras e dizer que “não há bases científicas” para as suas afirmações. Curiosa “ciência pura”, cujas conclusões se desfazem ao fim de uma semana de moderada polémica...

James Watson, continuando o seu historial de proclamações polémicas na véspera do lançamento dos seus livros, tentou vender a banha da cobra. Escolheu uma polémica garantida. Não existe nenhum "tabu", como insinua JMF, na conclusão científica de James Watson. O problema é que ela não é científica, mas vende a ciência para se legitimar e defender o mais profundo dos estigmas racistas.

É a esta luz que devem ser encaradas as conferências canceladas. É normal que a comunidade académica se queira preservar e não se queira ver envolvida numa polémica que nada tem a ver com a ciência. Ou será que José Manuel Fernandes convidaria Jayson Blair (o jornalista do New York Times que inventou dezenas de reportagens sem nunca sair da sua secretária) para conferenciar numa palestra sobre deontologia jornalística? E a patrulha do politicamente correcto, também convidaria Floyd Landis (o ciclista a quem foi retirada a camisola amarela, de vencedor da Volta a França de 2006, por estar dopado) como principal orador num encontro sobre a ética desportiva? É tudo uma questão de credibilidade. Do cientista e de quem não perde uma oportunidade para fazer campanha contra a suposta ameaça do "politicamente correcto".

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