Num país onde ninguém gosta de desporto, todos querem medalhas (II)
O problema do desporto português não são as desculpas dos atletas, a isso obrigados pela pressão de uma imprensa que não percebe nada de desporto e que julga que se ganham medalhas olímpicas como quem vai à praia. O problema é que não existem escolas desportivas. Os russos podem ter ganho poucas medalhas na natação e os americanos podem ter levado um banho na velocidade, mas têm uma escola. Depois dos atletas que levaram a Pequim, mal ou bem sabem que terão outros de topo em Londres. Em Portugal não. Vivemos do génio e carolice de alguns malucos que, quase sempre depois do trabalho, encontram tempo e motivação para treinar. Mas num país com dez milhões de habitantes, a conjugação do génio com o espírito de sacrifício acontece com a mesma frequência que um eclipse lunar. É quando ganhamos medalhas. Tivemos uma escola. A do Sporting, no meio fundo e fundo do atletismo. Acabou em menos de uma geração, com o abandono de Moniz Pereira. O melhor saltador nacional salta menos dois metros do que Nelson Évora. Quando ele e a Naide abandonarem deixamos de ter atletas de elite mundial nos saltos do atletismo. Com sorte, pode ser que apareça um no remo ou na marcha. É a diferença entre os países em que se percebe a importância do desporto e Portugal, onde os principais protagonistas desportivos são os árbitros de futebol.