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Zero de Conduta

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23
Mai08

Este país não é para pobres

Pedro Sales

Vinte anos depois da adesão à União Europeia, e mesmo contando com as centenas de milhões de euros em apoios comunitários, Portugal continua a ser o país mais desigual da Europa e aquele onde a pobreza mais se faz sentir. Como nos indica o estudo de Bruto da Costa, hoje destacado pelo Público, a pobreza é persistente e afecta principalmente as crianças, os velhos e o interior do país. Pior. Como salienta o estudo, “a sociedade portuguesa não está preparada para apoiar as medidas necessárias para um verdadeiro combate à pobreza”, tendendo a encará-la como o resultado do “enfraquecimento da responsabilidade individual” e da “preguiça” dos pobres.


Uma posição que encontra lugar na blogosfera liberal e na maioria das colunas de opinião da nossa imprensa. Lestos a exigir a demissão do Estado de todas as suas funções que não se limitem à estrita soberania do país, ignoram olimpicamente o país ilustrado na reportagem do Público, onde as pessoas que vivem nos bairros sociais deixam de saber o que é carne a meio do mês, só têm medicamentos quando alguém lhos oferece e não compram roupa e lavam-na à mão porque não há dinheiro para a energia.


É esse o país esquecido que vive dos apoios sociais que o Estado subsidia com o dinheiro dos impostos. São os pobres que vivem do Rendimento Social de Inserção, permanentemente diabolizado pelo mesmo Paulo Portas que passa os dias a falar da “tirania fiscal”. A mesma direita que, revelando maior preocupação com o “combate a fraude dos pobres do que com o combate à pobreza”, se esquece de referir que a carga fiscal nacional é inferior à média europeia.


Parece bem defender a redução do papel do Estado, mas bem mais complicado é explicar o que é que isso significa num país pobre e desigual como o nosso. Os pobres já pagam, percentualmente, muito menos impostos. Uma redução significativa da carga fiscal não traria grande impacto nas suas condições de vida. Pelo contrário, a redução do Estado, deixaria as suas marcas. Sem os apoios garantidos pela redistribuição social do dinheiro dos impostos, os mais pobres não teriam acesso à educação, saúde e aos complementos sociais que lhes permitem ir subsistindo no meio de várias provações.

 

De resto, até já são conhecidos os resultados deste programa liberal.  Ao contrário do que defendiam os seus apoiantes, os gigantescos cortes de impostos para as classes mais ricas, aprovados por Bush, não só não geraram o desenvolvimento económico defendido como fizeram aumentar as desigualdades sociais e hipotecaram as contas públicas. O liberalismo não é só um disparate económico. Num país como o nosso é uma violência social.

2 comentários

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    Pedro Sales 24.05.2008

    Luís,

    É óbvio que o dinheiro dos nossos impostos nem sempre é bem investido. Aqui mesmo já denunciei várias dessas situações, mas parece-me abusivo dizer que devemos continuar a pagar muitos impostos. Porque, não só não os pagamos à escala europeia, como, convém não esquecer, foram esses impostos que construiram o 12.º melhos sistema de saúde do mundo, (dados da OMS) que massificaram a educação (como tu próprio lembras, Portugal era um país de analfabetos há 3 ou 4 gerações) entre muitos outros apoios. O dinheiro é mal gasto. Sem dúvida. Mas não é na protecção social. Aí, se alguma coisa falta é mais investimento. Queres um exemplo? O governo anunciou um aumento no abono de família que vai custar 120 milhões de euros por ano ao OE. parece muito e vieram logo não sei quantos colunistas dizer que era dinheiro a mais para tão pouco. Agora, se pensarmos que, só para os próximos três anos, o governo vai conceder mais de 400 milhões de euros em apoios aos agrocombustíveis, já dá uma perspectiva bem diferente, não é?

    O dinheiro mal gasto, na sua maioria, é em contratos ruinosos, como a Lusoponte e outros que por aí andam. Por isso é que não temos dinheiro para verdadeiros programas de combate à pobreza, como reclama Bruto da COsta. Não vale a pena tentar deitar fora o bébé com a água do banho. Seria dramático.
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