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Zero de Conduta

Zero de Conduta

04
Abr08

O apocalipse numa escola perto de si

Pedro Sales
Nas últimas três semanas, uma overdose comunicacional transformou um caso de indisciplina numa escola do Porto num problema de generalizada violência escolar e, desde as declarações de ontem do PGR, num caso de delinquência e marginalidade infantil. Por este andar, para a semana estaremos a ouvir que o centro da criminalidade organizada em Portugal tem lugar nas escolas primárias do país. Em vez de serenar e procurar soluções para um problema que existe – a indisciplina –, esta histeria não contribui um mílimetro para a resolução do caso.

A deriva securitária, que quer transformar as escolas num campo permanentemente vigiado e policiado, não só não faz nada para devolver a autoridade docente, como, pelo contrário, a dissolve ainda mais. Que confiança é que os alunos, pais e a sociedade poderão ter na capacidade de uma escola que precisa da polícia para resolver os problemas de insolência e desobediência nas salas de aula?

Curiosamente, para além do já comum espectáculo comunicacional montado por quem está mais interessado em preencher intermináveis blocos noticiosos num país pobre em novidades,  grande parte deste fogo é ateado por quem menos se esperaria: o Procurador Geral da República. Seria de supor, mais não seja pelo cargo que ocupa, que o PGR não se comportasse como um incendiário num pradaria, ateando um fogo que depois está longe de poder controlar. Como é comum no país, esta loucura em espiral durará até que alguma comunicação social encontre outro tema que “venda”. Até lá, nada será feito para perceber a única questão que verdadeiramente interessava. Saber se as escolas têm, ou não, os melhores mecanismos para resolverem os problemas de indisciplina.

De resto, esta corrida ao adjectivo mais sonoro para depreciar o sistema escolar, e o comportamento de toda uma geração, produzirá os seus resultados. É impossível que tantas dezenas de horas de exposição à premonição do apocalipse em cada escola não deixe as suas marcas na formação pessoal dos receptores. No início da semana, o Público tinha uma reportagem no regresso às aulas no Carolina Michaellis e na secundária Eça de Queiroz, em Lisboa. Nesta escola, o presidente da associação de estudantes, com 16 anos, dizia como é que resolvia o problema do telemóvel no Porto. “Se fosse minha filha partia-lhe os braços”. Mais um exemplo da irresponsabilidade da juventude? Mais devagar. Ou será que não repararam no espectáculo pouco digno que lhe estão a servir diariamente?

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