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Zero de Conduta

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25
Jun07

Jack Bauer, um herói republicano

Pedro Sales

A ficção tomou, definitivamente, conta da vida politica norte-americana. Depois de um candidato presidencial republicano ter defendido Jack Bauer, e os métodos pouco ortodoxos utilizados pelo agente anti-terrorista da série “24”, agora foi a vez de um dos todo poderosos juízes do Supremo Tribunal dos EUA provar que é um fã incondicional da tortura para combater o terrorismo.

Em tempo de crise, os agentes federais precisam de uma maior liberdade para poderem fazer o seu trabalho, defendeu Antonin Scalia num recente colóquio internacional que teve lugar no Canadá. “Jack Bauer salvou Los Angeles...salvou centenas de milhar de vidas”, justificou.

Provando ser um profundo conhecedor da série, deu como exemplo o episódio onde as brutais técnicas de interrogatório evitaram o que parecia ser um eminente ataque nuclear à Califórnia. Interpelando os seus colegas canadianos, perguntou-lhes se “condenavam Jak Bauer?”. “Diziam que a lei está contra ele?”, “que tem o direito a um julgamento?”. “Havia algum jurado que condenasse Jack Bauer? Não me parece.”

Antonim Scalia não é um juiz qualquer. É, há mais de 20 anos, um dos 9 poderosíssimos juízes do Supremo Tribunal dos EUA, a quem compete defender e interpretar a constituição da única superpotência mundial. Scalia percebe muito bem a diferença entre realidade e ficção. Se usa Jack Bauer como exemplo é porque sabe que o dramatismo das escolhas morais da série - potenciado pela aceleração do tempo de uma sucessão de crises que decorrem em 24 horas - é o caldo certo para aceitar a capitulação dos direitos civis.

É este maniqueísmo moral, imposto pela administração Bush desde o 11 de Setembro, que ajuda a perceber que Gantanamo, pese embora o seu carácter excessivo, não é uma anormalidade no sistema. É o Gulag desta administração, só possível porque o clima mental que se foi criando é o da compreensão de que, em tempos de crise, são necessárias medidas exemplares que justificam a suspensão da lei e do Direito.

A separação de poderes, assente num rigoroso sistema de checks and balances, foi a principal vítima da cruzada maniqueísta imposta pela dramatização moral organizada por Bush no pós 11 de Setembro. Em seu nome, e depois do Patriot Act, liberdades civis dadas como imutáveis há poucos anos foram sendo desmanteladas, uma a uma. De um e do outro lado do Oceano Atlântico.

Foi essa, e não a cénica destruição das torres gémeas, a maior vitória dos terroristas no dia 11 de Setembro. Que Jack Bauer se tenha tornado no seu rosto predilecto não é de admirar.

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