17
Ago07
estamos cá é para isto
Filipe Calvão
Cof, cof. Ainda engasgados com tanta atenção (e com o Vasco num programa especial de protecção de testemunhas). Mas vamos por partes:
Pela mão de funcionários zelosos ou através de operações de relações públicas cozinhadas nas chefias, é agora público que da CIA à BBC, do Vaticano às grandes multinacionais americanas, todos andaram a mexer em entradas da wikipedia. Quem utiliza esta enciclopédia sabe que nada disto é novo -- alterações de utilizadores anónimos sempre foram registadas, mas um novo motor de busca tornou a tarefa mais simples. E ainda bem: disponibilizar esta informação ao público permite torná-la mais transparente, incluindo sobre quem a foi procurando alterar.
Ao contrário da notícia hoje publicada no DN, nunca se afirmou aqui ter sido "o governo" a editar o perfil de Sócrates na wikipedia. Simplesmente apontámos a evidência: um IP do CEGER, o centro que gere a rede informática do governo, eliminou as referências pouco abonatórias do caso da UNI, pouco depois de surgirem na imprensa. Terão as alterações sido feitas directamente do gabinete do primeiro-ministro? O assessor de imprensa de José Sócrates, pasme-se, admite que sim, "as mudanças possam ter sido introduzidas por pessoal do gabinete do primeiro-ministro, do seu secretariado ou até do Governo em geral." E é isto normal?
Fernanda Câncio parece achar que sim. Numa coluna de opinião no DN conta o que fez quando o seu nome surgiu na wikipedia portuguesa. Alterou o que achou incorrecto e fez muito bem. Mas as semelhanças acabam aí: nem a Fernanda Câncio trabalha no governo nem esteve o seu perfil sob escrutínio público, como foi o caso do de José Sócrates em Abril. Mas Fernanda Câncio pergunta-se também no 5 dias "por que é que um gabinete ministerial pode fazer comunicados para os jornais e rectificações e direitos de resposta e não poderá corrigir informação que considera errada num artigo da net que toda a gente pode alterar?"
A pergunta é legítima tanto mais que o CEGER existe, entre outras funções, para prestar consultoria e "apoio técnico para a utilização de redes globais externas" (decreto 116-B/2006, artigo 2, alínea l). Mas para mim a resposta é simples: um governo informa e torna a informação que lhe diga respeito disponível ao público, mas não edita conteúdos que não os da sua responsabilidade. Ou alguém espera que o governo reveja as provas de uma enciclopédia ainda no prelo, ou que coloque um vídeo de resposta a uma sátira que surja no youtube, ou um comentário num blog crítico do governo? Estes exemplos estão no mesmo plano que a wikipedia. Será sempre mais fácil rasurar a crítica na wikipedia, mas esta é a nossa vingança servida em número de IP. É preciso esperar que do bom senso dos utilizadores surjam plataformas de entendimento que informem, e a actual página do PM na wikipedia aí está para o provar. E sim, dá trabalho. Tal como ser ministro obriga a um grau de exposição pública. Mas este governo tem que, de uma vez por todas, aprender a lidar com a crítica. E nós estamos cá para isso.
Agora a silly season pode continuar.
Notícia do DN
Notícia do Público
Pela mão de funcionários zelosos ou através de operações de relações públicas cozinhadas nas chefias, é agora público que da CIA à BBC, do Vaticano às grandes multinacionais americanas, todos andaram a mexer em entradas da wikipedia. Quem utiliza esta enciclopédia sabe que nada disto é novo -- alterações de utilizadores anónimos sempre foram registadas, mas um novo motor de busca tornou a tarefa mais simples. E ainda bem: disponibilizar esta informação ao público permite torná-la mais transparente, incluindo sobre quem a foi procurando alterar.
Ao contrário da notícia hoje publicada no DN, nunca se afirmou aqui ter sido "o governo" a editar o perfil de Sócrates na wikipedia. Simplesmente apontámos a evidência: um IP do CEGER, o centro que gere a rede informática do governo, eliminou as referências pouco abonatórias do caso da UNI, pouco depois de surgirem na imprensa. Terão as alterações sido feitas directamente do gabinete do primeiro-ministro? O assessor de imprensa de José Sócrates, pasme-se, admite que sim, "as mudanças possam ter sido introduzidas por pessoal do gabinete do primeiro-ministro, do seu secretariado ou até do Governo em geral." E é isto normal?
Fernanda Câncio parece achar que sim. Numa coluna de opinião no DN conta o que fez quando o seu nome surgiu na wikipedia portuguesa. Alterou o que achou incorrecto e fez muito bem. Mas as semelhanças acabam aí: nem a Fernanda Câncio trabalha no governo nem esteve o seu perfil sob escrutínio público, como foi o caso do de José Sócrates em Abril. Mas Fernanda Câncio pergunta-se também no 5 dias "por que é que um gabinete ministerial pode fazer comunicados para os jornais e rectificações e direitos de resposta e não poderá corrigir informação que considera errada num artigo da net que toda a gente pode alterar?"
A pergunta é legítima tanto mais que o CEGER existe, entre outras funções, para prestar consultoria e "apoio técnico para a utilização de redes globais externas" (decreto 116-B/2006, artigo 2, alínea l). Mas para mim a resposta é simples: um governo informa e torna a informação que lhe diga respeito disponível ao público, mas não edita conteúdos que não os da sua responsabilidade. Ou alguém espera que o governo reveja as provas de uma enciclopédia ainda no prelo, ou que coloque um vídeo de resposta a uma sátira que surja no youtube, ou um comentário num blog crítico do governo? Estes exemplos estão no mesmo plano que a wikipedia. Será sempre mais fácil rasurar a crítica na wikipedia, mas esta é a nossa vingança servida em número de IP. É preciso esperar que do bom senso dos utilizadores surjam plataformas de entendimento que informem, e a actual página do PM na wikipedia aí está para o provar. E sim, dá trabalho. Tal como ser ministro obriga a um grau de exposição pública. Mas este governo tem que, de uma vez por todas, aprender a lidar com a crítica. E nós estamos cá para isso.
Agora a silly season pode continuar.
Notícia do DN
Notícia do Público