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Zero de Conduta

Zero de Conduta

31
Jul08

Isto é uma injustiça

Pedro Sales

Querem obrigar-me a ouvir  a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores quando a quiser dissolver. Se o Tribunal Constitucional não se preocupa com o assunto, vou obrigar os portugueses todos a ouvir-me. Nem pensem em fazer a mesma brincadeira com a Madeira que, só de pensar em ouvir aqueles tipos, sou homem para fazer o mesmo que o James Stewart em Mr. Smith Goes to Washington.

 

Parece que em Belém desconhecem os comunicados de imprensa ou as audiências com os partidos. Dizer que foi um flop não faz justiça à irrelevância política da declaração. Principalmente depois da dramatização e da expectativa criada pelos próprios assessores de Cavaco Silva.

31
Jul08

Uma mão cheia de nada

Pedro Sales

A forma como a declaração de Cavaco Silva foi anunciada tem tudo para ser um desastre comunicacional, criando expectativas tão altas que o mais certo é voltarem-se contra o Presidente. Depois de um assessor de Cavaco Silva ter garantido ao Público “que só uma razão verdadeiramente importante levaria o Presidente a interromper as suas férias e, sobretudo, a usar a televisão para falar ao país”, é disso mesmo que se está à espera. De uma novidade. E importante. Menos do que isso e será um fracasso. A especulação desenfreada que hoje corre na imprensa e blogosfera é o melhor sinal disso mesmo. Cada um foi antecipando na declaração do PR suas próprias expectativas. Uma receita para o desastre, portanto.


Ora, o mais certo é não haver novidade nenhuma, e tudo se resumir a mais um discurso sobre a confiança nos portugueses e na sua capacidade inata para vencer a crise. Com qualificação, esforço e exigência, ultrapassaremos juntos a difícil conjuntura internacional. Esperança, portanto. Só que Cavaco não é Obama. Onde o último consegue incendiar uma multidão sem dizer nada de concreto, Cavaco nem os seus assessores consegue convencer.

 

Não há problema. Começará logo depois o trabalho dos especialistas em cavaquês, tentando construir todo um discurso sobre o discurso de Cavaco.  Esta é a parte mais engraçada da comunicação política presidencial. Cria uma expectativa desmedida antes e depois. O conteúdo em si mesmo é o menos relevante. Quase acessório. Existe para justificar o barulho e a crença num Cavaco Silva previdente e providencial. Se amanhã as massagens voltarem às praias do Algarve não faltará quem garanta que foi Cavaco Silva. O que é preciso é fé.

31
Jul08

Umas férias muito estranhas (ou como se constrói uma narrativa)

Pedro Sales

Bem sei que a história do presidente providencial, que interrompe as férias preocupado com os superiores problemas da nação, é cativante, mas também não é preciso exagerar. Principalmente quando, para desmentir uma capa, basta consultar a agenda de Cavaco Silva no site da Presidência da República...onde se pode ler que o PR esteve ontem a trabalhar e já tinha uma iniciativa marcada para hoje à noite.

31
Jul08

Publicidade enganosa

Pedro Sales

Primeiro foram as notícias que davam conta de uma nova fábrica da Intel em Portugal. Um sucesso, garantia-se, que já tinha 4 milhões de encomendas ainda antes de ser instalada a primeira pedra. Um investimento que iria criar 1000 postos de trabalho qualificados, na zona de Matosinhos, graças à diligência do Governo. A apresentação foi ontem. Com pompa e circunstância a imprensa andou dois dias a anunciar o “primeiro portátil português”. O Magalhães é um computador inspirado no navegador, diziam ontem as televisões em coro. Para dar credibilidade à coisa, o mais famoso relações públicas nacional e o presidente da Intel subiram ontem ao palco do Pavilhão Atlântico para a "apresentação mundial" deste computador de baixo custo.

 

Um único problema. Não só o computador não tem nada de novo como a única coisa portuguesa é a localização da fábrica e o capital investido.  A "novidade mundial" ontem apresentada, já tinha sido anunciada a 3 de Abril - no Intel Developer Forum, em Shangai - e foi analisada pela imprensa internacional vai agora fazer quatro meses. O tempo que tem a segunda geração do Classmate PC da Intel, que é o verdadeiro nome do Magalhães. De resto, o primeiro computador mundial para as crianças dos 6 aos 11 anos, características que foram etiquetadas pela imprensa lusa por ser resistente ao choque e ter um teclado resistente à agua, já está à venda na Índia e Inglaterra. No primeiro país com o nome de MiLeap X, no segundo como o JumpPC. O “nosso” Magalhães é isso mesmo, uma versão produzida  em Portugal sob  licença da Intel, uma história bem distinta da  habilmente "vendida" pelo governo para criar mais um caso de sucesso do Portugal tecnológico.

 

Fábrica da Intel nem vê-la e os tão falados 1000 novos postos de trabalho ainda menos, tudo se ficando por uma extensão da actual capacidade de produção da fábrica da JP Sá Couto. Serão 80 novos empregos, 250 se conseguirem exportar para os Palops. Os tais 4 milhões, que já estavam assegurados, lembram-se? Só que as 4 milhões encomendas não passam de wishful thinking do nosso primeiro. E muito pouco credível. Em todos os países onde o computador está à venda é produzido através de licenças com empresas locais. Como explicou o presidente da Intel, a empresa continua à procura de parceiros locais para ganhar quota de mercado com o Classmate PC, não o Magalhães.

 

A guerra de Intel é outra, como se pode perceber no relato que um dos mais reputados sites tecnológicos - a Arstechnica, do grupo editorial da New Yorker - faz da apresentação da Intel e do governo português: espetar o derradeiro prego no caixão do One Laptop for Child, o projecto de Nicholas Negroponte e do MIT para destinar um computador a cada criança dos países do terceiro mundo. É essa a importância estratégica para a Intel. O resto é fogo de vista para português ver.
 

PS: Não tenho nada contra a iniciativa em si, parecendo-me meritório um projecto para garantir um contacto precoce de milhares de alunos com a informática. Mas isso não quer dizer que aceite gato por lebre. Não seria nada mau sinal se a imprensa nacional, que andou a vender uma história ficcionada, também cumprisse o seu papel. 

29
Jul08

Um investimento PINtástico

Pedro Sales

Fotografia do local retirada do blogue A defesa de Faro

Segundo a edição de ontem do jornal Público(sem link), investidores russos usaram três empresas off-shore para adquirir, por 50 milhões de euros, 529 hectares no Parque Natural da Ria Formosa, numa zona onde não se pode construir qualquer projecto turístico ou imobiliário. José Apolinário, presidente da câmara de Faro (PS), fornece-nos a chave para o enigmático investimento, admitindo que “possa vir a surgir naquela zona um projecto PIN, que permita ultrapassar as actuais restrições à construção”.


Depois do governo, pela primeira vez liderado por um ex-responsável pela pasta do Ambiente, ter aprovado mais de 30 projectos PIN em zonas protegidas, a legislação de defesa do património ambiental é uma brincadeira que já ninguém leva a sério. Nem mesmo os investidores russos que não hesitam em gastar 50 milhões num terreno que, em condições normais, não permite nenhuma rentabilidade económica. Até ao dia, claro, em que o Governo reconheça o “interesse nacional” dos campos de golfe, hotéis e apartamentos do costume e junte mais um terreno à continuada privatização dos melhores recursos naturais do país. Quando nada mais restar que uma imensa mancha de betão pontuada por baldios, pode ser que alguém acorde. Mais não seja a União Europeia.

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