Depois de semanas a garantir que o problema não era a política da saúde, mas a má comunicação da mesma, Sócrates cedeu à oposição e mudou de responsável pela pasta. E logo na semana em que Correia de Campos esteve por três vezes na SIC, e deu uma entrevista ao Expresso, a garantir que continuaria no seu lugar até ao fim da legislatura. Ironicamente,
foi remodelado na véspera de se deslocar ao Parlamento para apresentar já famoso plano de requalificação das urgências.
Dificilmente o timing podia ser pior para o Governo. Mudar de ministro no meio de uma barragem da oposição, do próprio partido e de uma contestação popular sem precedentes é coisa para tirar o sono a qualquer governante. Mas não havia outra solução. Há muito que o Governo tinha perdido o controlo político e
já não havia política de redução de danos que valesse a Correia de Campos. O ministro da Saúde, num certo sentido, teve azar. Porque o problema das populações não foi (só) levarem-lhe o centro de saúde. É que antes já lhe tinham tirado a escola, a GNR, os CTT e o tribunal. Correia de Campos chegou tarde à centralização dos serviços do Estado nos centros urbanos do litoral. Chegou tarde e pagou caro, talvez porque, como diz a Teresa Ribeiro,
"com a saúde não se brinca".
Culpa do ministro ou não, há muito que os dados estavam lançados e os recentes casos - como o do telefonema da operadora do INEM para os bombeiros de Alijó - apenas aceleraram o passo. Sócrates pode dizer o que quiser amanhã na sua deslocação ao Parlamento. Hoje teve uma das suas maiores derrotas. Cedeu, em toda a linha, à oposição parlamentar e à ala esquerda do PS, personificada em Manuel Alegre. Que o tenha feito a pouco mais de um ano para as eleições não é um pormenor.