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Zero de Conduta

Zero de Conduta

31
Dez07

Portugal português

Pedro Sales
Amanhã entra em vigor uma lei que afecta milhões de portugueses e milhares de estabelecimentos comerciais, que têm que fazer avultados investimentos se quiserem ter espaço para fumadores, e ninguém se entende sobre os requisitos necessários para que a fiscalização reconheça a conformidade dos estabelecimentos à nova lei. Bem pode o Governo investir milhões nuns assépticos anúncios de promoção à costa oeste da Europa e esforçar-se para construir um país sem fumo e sem rissóis feitos em casa. O país não muda por decreto e, estava na cara, que uma lei com esta complexidade nunca estaria pronta a entrar em vigor na semana a seguir ao Natal e ano novo, com o país ainda a ressacar das compras e filhoses.
31
Dez07

Estupidez gananciosa

Pedro Sales
Não contente em processar todos os adolescentes que apanha na rede a trocar música, as grandes editoras musicais resolveram ensandecer de vez e declarar, num processo contra um cidadão norte-americano, que é ilegal transferir musicas de um CD – comprado legalmente – para o computador. Só mesmo a indústria mais estúpida do mundo para tentar regular a utilização individual de um produto comprado legalmente. O processo não tem muitas pernas para andar, mas não deixa de ser mais um sinal na evidente fobia persecutória de um indústria que teima em acreditar que a solução para um modelo de negócio esgotado se encontra na barra do tribunal. O problema é outro e bem simples. Ninguém quer ouvir a música que editam. É toda igual. Dezenas de girls e boys bands que duram um semestre e já ninguém quer saber. As bandas independentes, ou as que, como os Radiohead, escolhem modelos diversos de distribuição, estão bastante bem e não se queixam. E gastando bem menos em advogados.
29
Dez07

Se não sabe porque é que pergunta?

Pedro Sales
O Banco de Portugal garantiu ontem que a mais recente contra-ordenação ao BCP reporta-se a novos casos porque “a natureza e actividade destas sociedades foram sempre ocultadas pelo BCP, nomeadamente em anteriores inspecções.” Ora aí está uma bela definição da forma como funciona a instituição presidida pelo senhor Constâncio. Se os prevaricadores não confessam a extensão das irregularidades, o Banco de Portugal arruma as malas e dá a inspecção e fiscalização por encerrada. Entre cavalheiros de bem é assim. Mais valia enviar uns formulários e dispensava-se mesmo o indizível senhor Constâncio. Bem vistas as coisas, o resultado final não deveria ser muito diferente e sempre se poupava uns cêntimos valentes ao erário público.
29
Dez07

O jogo das cadeiras

Pedro Sales
À primeira vista não se percebe muito bem o interesse que o PSD parece ter na escolha de um “dos seus” para a liderança do banco público. Se há dinâmica no nosso país que se revela mais forte do que o bloco central, é o bloco central dos interesses. E esse, como se sabe, começa e acaba no governo em exercício de funções. É o Governo que assina os cheques com os escritórios de advogados e empresas de consultoria. É o Governo que assina as lucrativas concessões que fazem andar e lucrar certo país que passa o resto da semana a criticar o Estado. Não é preciso ir muito longe para se perceber como funcionam as coisas. Fixemo-nos em António Mexia. Santanista desde pequenino, desde que foi nomeado por Sócrates para a EDP tem-se portado como o mais diligente dos socialistas. Mexias há muitos. O barulho de Menezes, que não hesita em vir pedir umas cunhas em público, não tem nada a ver com a importância de manter alguém da área da oposição na Caixa e no Banco de Portugal. Para manter o poder é preciso transmitir a imagem de que se tem algum para dividir e distribuir. Anima as hostes e mantém-nas unidas. Evita a deserção para o outro campo. Os governos vão cedendo, pontualmente. Porque é irrelevante para a sua gestão do poder e porque, no fundo, mantém a aparência e garante a estabilidadezinha com que se vão fazenda as coisas neste nosso país. E os negócios.
29
Dez07

E para o ano, se não der muito trabalho, vejam lá se acabam com o desemprego e colocam a economia a

Pedro Sales
"Se o Sol não tivesse nascido a 16 de Setembro de 2006, o concurso da Ota já se teria realizado e a localização do novo aeroporto de Lisboa seria irreversível". É desta forma que este semanário dá à estampa uma das mais delirantes notas editoriais de que há memória. "Só por isto teria valido a pena lançar este jornal", asseveram. O "só" é para enganar, claro, que não há espaço para a modéstia na capa deste semanário que nos faz o favor de adiantar os temas em que "marcou a agenda" de 2007."O Sol trouxe mais, muito mais, à imprensa portuguesa e ao país". É uma pena terem parado por aqui, porque aqui chegados já só estamos à espera de encontrar sinais indesmentíveis do contributo decisivo do semanário para a excelência do último filme dos irmãos Coen, nos avanços na pesquisa com células estaminais e para a assinatura do Tratado de Lisboa. A desmesurada imagem que José António Saraiva tem de si próprio é responsável por algumas dos mais hilariantes editoriais e crónicas de que há memória na imprensa nacional. Mas, que consiga transportar as suas idiossincrasias pessoais de uma forma tão marcada para a primeira página de um jornal com alguns excelentes profissionais, sem que ninguém tema cobrir-se de ridículo, começa a ser um caso de estudo que merece ser seguido com atenção.
27
Dez07

Para Uma História Sanitária da Academia Portuguesa

José Neves
Este post do Miguel Vale de Almeida lembrou-me um anúncio do departamento de gestão do ISCTE. Era um anúncio que se dirigia a todo aquele ou aquela que se aprestava para escolher a sua futura licenciatura. O mais importante no anúncio era uma legenda que comentava uma fotografia parecida com esta aqui em cima e que dizia: "Esta será a última cadeira da tua licenciatura em Gestão".
Perante isto, e já lá vão alguns anos, uns quantos entre nós refilámos contra a banha-da-cobra que presidia à propaganda em causa. Altas instâncias do ISCTE, no entanto, responderam que não se tratava de uma "falsa promessa", como nós acusávamos, mas que sim se tratava de um "estímulo". Acabei por aceitar o argumento e, na verdade, até acabei por fitacolar o anúncio-panfleto sobre a tampa da sanita cá de casa; se era um "estímulo" para tantos, então também poderia sê-lo para os visitantes cá de casa, ajudando-os a sentirem a nossa sanita como se fosse sua, o que é sempre complicado. Infelizmente a coisa resultou tão bem que houve algum malandro ou alguma malandra que se sentiu suficientemente à vontade para levar o panfleto-anúncio consigo. Se o virem por aí, é favor trazerem novamente. É que a malta por aqui gosta de fazer merda à grande e à francesa, como só os grandes líderes de gestão sabem fazer.
26
Dez07

Cosmopolitismo de fachada

Pedro Sales
Até há poucos dias nunca tinha ouvido falar no nome. Parece que Cristina Areia é uma das vedetas das telenovelas juvenis da TVI. Talvez por isso foi convidada pela junta de freguesia para abrilhantar a festa de Natal das escolas de Alfama. A sua tarefa era simples. Anunciar o nome das crianças à medida que iam subindo ao palco receber umas prendas. Mas a Cristina é uma rapariga sensível e tradicionalista. Há nomes que lhe fazem espécie. A Bárbara Reis, no Público do passado sábado, conta como, em pouco tempo, a menina conseguiu insultar quase todas as pessoas presentes na festa:

- Hania! Ai credo, o que é isto? Ah, é indiana...Pronto, está bem.
- João bin[qualquer coisa]. Bin?! Será primo do Bin Laden. Cuidado, se calhar é melhor irmos embora.

- Ramona! Mas o que é se passa em Alfama? Que nomes esquisitos! Dantes era só Maria de Lourdes e Anas Cristinas, não era?

- Ana! Um nome normal, viva a tradição, viva!
- Regiane. O que passou pela cabeça destes pais?

Neste último ponto teve razão. O que passou pela cabeça de dezenas de pais para não se levantarem e interromperem este espectáculo degradante? Neste país dos brandos costumes, parece que os familiares das Anas Cristinas acham normal que alguém insulte e envergonhe em público uma criança porque não se chama Maria Albertina. O que não deve ter passado pela cabeça da Cristina Areia é que muitos deles nasceram no nosso país e são tão portugueses quanto ela, mas isso para o caso até é indiferente. Mais revelador é que esta vedeta da televisão é a voz de um país que se diz tolerante mas que se conforma com estas gratuitas demonstrações de xenofobia. Uma voz que tem autoridade e impunidade porque, à sua volta, todos se calam e encolhem. Os pais das Anas ou porque tiveram vergonha ou porque até acharam piada. Os outros, os pais das Ramonas e das Regianes é que me preocupa. Porque o seu silêncio é a mais violenta demonstração de como funciona o racismo dos pequenos gestos do dia-a-dia e de como este está interiorizado pelas suas vítimas. Ninguém se levanta porque não é suposto protestarmos numa casa que não é a nossa. É assim este Portugal natalício. Andamos o ano todo a tentar vender lá fora uma imagem de cosmopolitismo e modernidade, para, cá dentro, percebermos que o cosmopolistmo que aceitamos e toleramos se esgota nos Antónios, Marias e Silvas. Já agora, alguém podia explicar à Cristina que não se deve gozar com o nome dos outros. É que alguém pode olhar para o dela e reparar que Areias é nome de camelo. O que explica alguma coisa.

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