Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Zero de Conduta

Zero de Conduta

31
Out07

As claques são a melhor agência de comunicação

Pedro Sales
Há quem contrate uma agência de comunicação, como a LPM ou a Cunha Vaz, para lhe tratar da imagem. Luís Filipe Vieira tem mais sorte. As claques do Benfica fazem-lhe o trabalho à borla. O espectáculo da última assembleia geral do clube encarnado fez o presidente do Benfica parecer um modelo de urbanidade, ponderação e boas maneiras. Uma discussão onde entra uma claque de futebol tem sempre a vantagem de poupar trabalho aos neurotransmissores. É pavloviano, eu sei, mas concordo sempre com o outro lado mesmo sem saber o que é que está a dizer. Nem que seja o "Kadafi dos pneus".
30
Out07

A distopia liberal sobre a escola pública I

Pedro Sales
Quando acabei o 12.º ano, estive um ano sem estudar antes de me candidatar à faculdade. Durante 3 meses trabalhei para o Circulo de Leitores. Em pouco tempo, entrei na casa de centenas de pessoas do Entroncamento e Torres Novas. Quase todas tinham a História de Portugal, de José Mattoso, nas estantes ou prateleiras. Havia outra constante. Os dois primeiros volumes estavam abertos, os restante seis repousavam dentro do saco de plástico em que vinham embalados. Um sem número de pessoas chamava enciclopédia às obras completas de Júlio Diniz, Camilo ou Eça.

São famílias inteiras que nunca tiveram hábitos de estudo, de leitura, de trabalho intelectual individual. Os seus filhos irromperam pela escola pública há pouco mais de 30 anos. Para milhares de famílias, esta é a primeira geração que tem alguma escolarização. O facilitismo do sistema público de ensino, de que fala Helena Matos, fez com que, desde cedo, tivessem mais conhecimentos a matemática ou português do que os seus pais. Em casa não há ninguém para os ajudar nos trabalhos de casa. A escola secundária do Entroncamento, onde colocavam os filhos, ficou este ano em 138.º lugar no ranking dos exames nacionais do 12.º ano. É má? Pior do que o colégio São João de Brito ou do que um selecto internato de raparigas que fez 32 exames?

A massificação do ensino teve que lidar com um país que já existia antes da democracia. Nem tudo correu bem, é certo. Partindo do mesmo atraso que também tínhamos na Saúde – sector, onde hoje temos dos melhores indicadores mundiais - ainda continuamos atrás das médias de conhecimento europeias. Mas, simplificando um pouco, a educação não é só construir hospitais e formar profissionais competentes. Tem o lastro cultural que a suporta. E que os detractores da escola pública omitem totalmente, como se o sistema educativo, a iliteracia, o analfabetismo e as dificuldades económicas tivessem aparecido há seis anos com a publicação do primeiro ranking de exames do 12.º ano. É simplista e pouco sério extrapolar uma leitura depreciativa sobre a qualidade do ensino público a partir da leitura do “top ten” dos rankings. Como veremos, nas próximos entradas sobre o assunto.
30
Out07

A distopia liberal sobre a escola pública II

Pedro Sales

Na sua coluna do DN, o João Miranda alega que “[os defensores da escola pública dizem que o meio socioeconómico influencia mais os resultados que a qualidade da escola. Reconhecem, em última análise, que, ao contrário do que diz a utopia, a escola pública está muito longe de anular os efeitos do meio socioeconómico”. Nem a pública, nem a privada, já agora. Há seis anos que são publicados os rankings dos exames do 12.º ano. O colégio São João de Brito aparece sempre nas cinco primeiras posições. Uma escola com o tipo de ensino que a Helena Matos diz que os ricos escolhem porque sabem que é melhor e mais exigente. Vejamos.

O colégio São João de Brito é da Companhia de Jesus, a qual tem mais duas escolas com ensino secundário. O Instituto Nun´Álvares, em Santo Tirso, e o Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache - Coimbra. Como acontece com quase todas as escolas privadas no interior, têm um contrato de associação com o Estado. Ao contrário do São João de Brito, recebem alunos de todas as classes sociais. A Companhia de Jesus afirma que os métodos de ensino, contratação e formação de professores são idênticos. Quais são, então, os resultados? O Nun´Álvares ficou em 177.º, a Imaculada Conceição em 91.º. Há quatro anos, ficaram em 164.º e 249.º, respectivamente. O São João de Brito, com os mesmos métodos pedagógicos e de ensino, ficou este ano em 3.º no ranking e, há quatro anos, foi a"melhor" escola...

Questionado, na altura, pelo "Público" sobre essa brutal disparidade entre uma escola que recruta os seus alunos entre a elite da elite e dois colégios privados com todo o tipo de estudantes, o responsável pelo São João de Brito diz que “o Colégio de Coimbra fica num meio paupérrimo”. “é um meio rural, com fraco nível cultural. Teríamos outra posição no ranking se estivéssemos mais perto de Coimbra”. Pois é, teria a Companhia de Jesus e a escola secundária de Alpiarça ou a de Campo Maior. Mas não têm, o que não as impede de ver na comunicação social que as escolas privadas são melhores do que as públicas. Uma leitura redutora que, como se vê, tem os seus dias. Ou melhor, os seus sítios e classes sociais.

30
Out07

A distopia liberal sobre a escola pública III

Pedro Sales
A conversa sobre as virtudes da escola privada acaba, quase sempre, na desigualdade de condições entre uma, que tem que cobrar propinas, e outra que fica à borla. É preciso acabar com isso, dizem, no país em que o Estado mais apoia o ensino privado. Mais de um terço dos alunos nos colégios privados são financiados por dinheiros públicos, aos quais o Estado entraga 3343 euros por cada aluno. Não chega. A solução, dizem os defensores das virtudes privadas, é o cheque-ensino. Cada família recebe o dinheiro do Estado e escolhe a escola onde quer colocar os seus “piquenos”. Uma solução que destrói a rede pública e que traz gastos acrescidos para o Estado, que a tem que manter, e, ao mesmo tempo, financiar as escolas privadas.

Por alguma razão, apesar de toda esta campanha e pressão para a privatização do sistema educativo, essa solução não existe em quase nenhum lado, à excepção da Suécia ou do estado do Milwaukee. Os resultados são os esperados. Os alunos não alteram os seus resultados escolares por estudarem em instituições privadas, segregação dos mais pobres dos pobres, votados a uma escola pública subfinanciada e de segunda, bem como o brutal aumento das despesas públicas (a fórmula de fianciamento deve mesmo ser alterada este ano para conter a despesa). A discussão não é de hoje, basta ver o que escrevia o New York Times em editorial há quase 10 anos.

“It is absurd to argue that public education can be improved by diverting huge amounts of tax revenue into parochial and private schools. A voucher plan, such as Milwaukee’s, does not reform anything. It is a funding mechanism that forces taxpayers to underwrite religious and private education. Improving education for all students, not just the few who manage to get vouchers, requires sustained community commitment and leadership. Vouchers are a convenient political diversion from that task.” It would be far better to increase public school funding to improve education for all the students”. Editorial do New York Times, 11 de Novembro de 1998.
30
Out07

A distopia liberal sobre a escola pública IV

Pedro Sales
Helena Matos, João Miranda ou Filomena Mónica passam a vida a falar dos perigos de uma educação estatizada. Não há liberdade de escolha, o ensino é pior. Uma balda onde ninguém é avaliado. Os indicadores internacionais não existem apenas para dizer que estamos atrás dos países nórdicos ou do leste europeu. Também nos servem para pormos os olhos nos outros e vermos que há países onde não há rankings, não há retenção de alunos com piores resultados, só é possível abrir uma escola privada com aprovação do Conselho de Ministros (e estão proibidas de cobrar propinas, recebem o dinheiro do Estado). Países onde existem menos de 40 escolas privadas, mas que são, ao mesmo tempo, classificados pelo insuspeito Fórum Económico Mundial como tendo o melhor ensino secundário do mundo. O país é a Finlândia e, segundo o estudo internacional de referencia, o PISA, os seus alunos costumam ter os melhores resultados mundiais a quase todas as disciplinas.

A distopia liberal é isto. Ideologia e preconceito contra o sistema público, baseada no aproveitamento demagógico do senso comum. Não tem nenhuma base, nacional ou internacional, que a suporte. É o preconceito de classe travestido de preocupação social. Tudo em nome da liberdade da iniciativa privada que, veja-se, só é verdadeiramente livre se for o Estado a financiá-la. E diz-se esta gente liberal.
29
Out07

Sem comentários

Pedro Sales
No último sábado à noite, em Lisboa, pouco depois das 23 horas, presenciei o seguinte diálogo. Três adultos, com pouco mais de 30 anos, e duas crianças entre os cinco e os seis, saem de um restaurante italiano. Perante a insistência dos pequenos em calcorrearem o passeio a grande velocidade, a mãe vira-se para o maior e diz-lhe para vir para o pé dela "se não queres que te aconteça o mesmo que à Maddie". Perante o ar despreocupado do filho, a mãe lembrou-o novamente. "Já te esqueceste? Foi aquela criança inglesa que desapareceu e que os pais nunca mais encontraram".
28
Out07

Já que fala nisso...

Pedro Sales
Qual foi o debate mais difícil para o governo?, pergunta o JN ao ministro Santos Silva. A taxa de desemprego que não pára de aumentar? O crescimento da economia que não há maneira de atingir a média europeia? Nada disso. O momento mais embaraçoso foi quando tiveram que atirar as culpas para o seu antecessor, responde o ministro dos assuntos parlamentares, num notável exercício de cinismo político. "Foi em Maio de 2005 quando tivemos de anunciar que o défice estimado pelo Banco de Portugal para 2005 era 6,83% e que íamos proceder imediatamente a cortes de despesa e aumento de receita". Um valor desconhecido de todos, como então garantiu o Governo Sócrates. Uma história muito mal contada. Se não, reparem no que dizia Jaime Gama, no encerramento do debate orçamental, poucos meses antes do seu partido anunciar o aumento do IVA por causa do défice de 6%.

28
Out07

O Banco de Portugal supervisiona a banca, mas quem é que supervisiona o Banco de Portugal?

Pedro Sales
27
Out07

especulação numa ciência oculta

Filipe Calvão

$2,400,000,000,000. 2 milhões de 400 milhões de dólares (ou 2 triliões e 400 biliões?). É até agora a estimativa mais alta do custo da guerra. (disclosure): eu perco-me nos milhares de milhões.

Cada um dá o seu palpite. Há uns meses, o NYTimes fez as suas contas e chegou a 1.2 triliões. Há quem faça contas ao dia (300 milhões de dólares), há quem prefira a longue durée de uma semanita (2 biliões). Até agora, e em investimento aprovado pelo congresso, já se gastaram mais de 350 biliões de usd na ocupação do Iraque. Stiglitz (conselheiro Clinton I, Nobel 2001, autor de Globalization and its Discontents -- mercadoria quentinha) aposta nos 2 triliões. Certo, certo é que longe vai o tempo em que um conselheiro da Casa Branca era despedido por sugerir que o custo total da guerra andaria nos 200 biliões de usd. (NYTimes)

Mas de acordo com estas contas do congresso, e prevendo que os EUA fiquem no Iraque e Afeganistão até 2017, o governo federal Americano enterrará qualquer coisa como 1900 pontes vasco da gama (a 897 milhões de euros cada) ou o equivalente a 4.3 anos do PIB de Portugal (a 229 mil milhões de dólares/ano). Trocado por miúdos, se os EUA decidissem brindar cada cidadão português em nome da paz com soma equivalente, isso dar-nos-ia qualquer coisa como 240 mil dólares. Notem que este truque de bruxaria só inclui o investimento federal, não calculando custos indirectos como o apoio médico aos soldados feridos ou o aumento no preço do petróleo. Só por isso é que é tão optimista: a 200 biliões de dólares/ano, só para o Iraque, mais os custos da ocupação do Afeganistão, não será difícil ultrapassar os 3 biliões de dólares num espaço de 14 anos (2003-2017). Nem vale a pena tentar meter o Irão nestas contas, lá chegaremos.

Eu só sei que não me importaria com os 240 mil dólares. Em nome da paz, claro.

(Hoje houve manifs nas principais cidades americanas)
(Entrevista de Joseph Stiglitz à Rolling Stone)

Um apoio visual, tirado de Crooks&Liars:


Isto são 9 milhões de dólares, à escala humana, e juntando cada nota de dólar.E isto são 315 biliões de dólares. O pontinho preto no canto é a figura anterior. Esta figura vezes 7 e terão a massa física do dinheiro gasto na guerra.

Pág. 1/10

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

ZERO DE CONDUTA

Filipe Calvão

José Neves

Pedro Sales

Vasco Carvalho


zeroconduta [a] gmail.com

Arquivo

  1. 2008
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2007
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D