Desde que António Guterres ganhou as eleições em 1995, o PSD esteve três anos no poder, e, mesmo aí, apenas em coligação com o PP. Se atendermos a que as próximas eleições legislativas só terão lugar em 2009, são 11 anos fora de São Bento. Muito tempo para um partido cuja referência ideológica é o poder e a sua base programática o seu exercício. Sem a sua expectativa, ou mesmo ilusão, o partido dilui-se em pequenos grupos e perde as suas referências políticas.
A degradação política e ética do partido, bem patente nos sucessivos episódios das “directas”, vem daí. O partido tem pressa em chegar ao poder, os métodos pouco importam. As “bases”, essa imanação “pura” da politica, impoluta e sem interesses obscuros, ratificou o seu novo salvador. Não aguentam mais continuar a assistir às nomeações dos deputados municipais e vereadores socialistas para centros de saúde ou direcções gerais ou regionais da administração pública. Já deram muito ao partido e querem o retorno. Menezes, o homem que “ganha eleições”, foi o seu escolhido, como antes tinha sido Santana pelas mesmíssimas razões. Foi este povo que encheu a sede de candidatura de Menezes na sexta-feira à noite, com evidente consternação nos jornalistas que não encontravam ninguém “conhecido” para entrevistar nos directos que se seguiram à vitória de Menezes.
Não falta quem aponte a vitória de Menezes à omissão dos
barões, senadores, notáveis ou às
elites do PSD, terminologia distinta para designar todos os “conhecidos” que não estiveram no Sheraton. Sabendo que José Sócrates deverá ganhar em 2009, resguardaram-se e não deram a cara nas “directas”. É verdade, mas convém ter os pés assentes no chão. A sobrevalorização da influência dos “barões” na vida interna do PSD é uma das maiores construções sociais e mediáticas dos últimos tempos.
Wishful thinking de quem ainda divide o PSD entre a boa e a má moeda. Sem a ilusão da vitória nas eleições, nenhum notável arrasta as bases do partido com base no seu belo nome, valendo tanto como qualquer outro. Um voto. E votos há muitos, seja no multibanco da esquina ou nas promessas que se fazem para as próximas listas eleitorais.