De seis em seis meses, já sabemos que vamos ter que gramar com as lições de governação do Compromisso Portugal. Calhou ser hoje. Desdobrando-se em entrevistas e declarações a toda imprensa, lá aparece o inevitável Carrapatoso, armado em Marcelo, a dar notas ao Governo e a explicar-nos - como se fôssemos muitos burros - do que é que o país precisa.
“As reformas mais difíceis não foram feitas”, ameaça o porta voz deste "grupo de cidadãos". Quais são? Liberalização dos despedimentos, o Estado pagar a inscrição nas escolas privadas, continuar o caminho na diminuição das reformas e aumento da idade de aposentação.
Para quem ainda tinha dúvidas sobre a bondade da flexisegurança, versão Sócrates, recomendo vivamente a entrevista à Visão deste cavaleiro andante do neoliberalismo luso. ”Não se trata de liberalizar o despedimento. É preciso criar flexibilidade na rescisão com o empregador, mas, em dadas circunstâncias, têm que existir programas de coesão social e de protecção do individuo e da sua família”.
O discurso é igual ao de Sócrates, ponto por ponto. Não é de estranhar. Afinal, foi apenas ontem que um ministro do governo socialista apresentou aos parceiros sociais um pacote negocial para
facilitar os despedimentos, a diminuição das férias e do valor do seu subsídio, o fim do limite do horário de trabalho diário, a possibilidade de baixar os salários, novos tipos de contrato precário. Uma vergonhosa adulteração do compromisso eleitoral que o partido socialista assumiu com os portugueses há pouco mais de dois anos.
Compreende-se, por isso, o esforço sobre-humano de Carrapatoso na imprensa. Arvorado em provedor dos cidadãos que nunca lhe deram procuração para o efeito, as ideias deste “grupo de cidadãos” têm feito o seu rápido caminho no Largo do Rato. Se tem propostas para governar o país tem boa solução. Candidate-se e leve o seu programa a votos.
Só que isso, e Carrapatoso é o primeiro a sabê-lo, é tudo o que os nossos liberais não podem fazer. Num país como o nosso, tinha o insucesso como destino certo. Assim é muito mais fácil. Usam a força da sua máquina económica, e um acesso privilegiado à imprensa, para subverter, nos bastidores, o sentido do voto popular. Que o Partido Socialista alinhe no jogo, pondo o seu programa eleitoral na gaveta, diz-nos muito sobre o perfil do "nosso" engenheiro.