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Zero de Conduta

Zero de Conduta

18
Jun08

Ajuste de contas

Pedro Sales

Em vez de assumir a responsabilidade pelo estado miserável em que deixou a gestão camarária da capital, o PSD insiste em usar uma maioria resultante de uma eleição sem qualquer tipo de legitimidade política para ajustar contas com o passado. Só assim se compreende que o PSD tenha feito a Assembleia Municipal de Lisboa aprovar uma moção de censura ao vereador Sá Fernandes...por causa de uma decisão do vereador Marcos Perestrello. A iniciativa, que não tem qualquer resultado prático, torna-se ainda mais caricata quando se percebe que a moção é unipessoal e não é extensível ao executivo, como manda a lei.

Mas o melhor estava guardado para o fim. Um dos motivos para a moção de censura é a presença de uma placa, alusiva ao financiador das obras de requalificação de um parque infantil, transformada pelo PSD na tentativa de “privatizar o Jardim da Estrela, entregando-o à conhecida cadeia de hipermercados Continente, mais uma vez prejudicando todos os seus utilizadores em benefício de um poderoso grupo económico”. Bem pode Ferreira Leite ganhar as directas que quiser no PSD. O seu partido provou ontem que continua agarrado a uma imagem providencial de Santana Lopes, cuja gestão ainda defende, e não hesita em usar uma maioria fraudulenta para ajustar as contas com um passado em que Sá Fernandes lhes estragou os negócios para a privatização de um espaço público que agora parecem ser os mais acérrimos defensores. Olha quem...

08
Jun08

Praça das Flores

Pedro Sales

A Praça das Flores foi transformada durante duas semanas num gigantesco condomínio privado, com um batalhão policial a garantir que, depois das 17 horas, apenas entram os moradores recenseados e os felizes portadores de um convite da Skoda. Numa câmara sem dinheiro, posta de rastos pela mesma direita que agora se tornou uma súbita defensora do espaço público, é compreensível que a gestão da CML tente arranjar formas originais de reabilitar o espaço público sem comprometer o erário público. Mas, sendo compressível que se concessione espaços como o da Praça do Comércio ou da Figueira, não há nada que explique o que passou pela cabeça dos vereadores para não perceberem que esta decisão iria tornar a vida dos moradores de um pequeno bairro, que vive à volta daquela praça, num inferno.


Ao contrário do que vem na maioria dos blogues, a autorização para esta inaceitável privatização do espaço público foi assinada pelo vereador Marcos Perestrello, tendo Sá Fernandes passado a autorização de ruído até às 22h30. A forma desajeitada como Sá Fernandes apareceu, desde o primeiro momento, a defender o indefensável, tornou-o na figura mais a jeito para desancar. É certo que não devia ter autorizado uma decisão que desliga um bairro dos seus moradores e demais habitantes de Lisboa, mas ver a forma como a PCP, Helena Roseta ou a blogosfera em peso se atira ao “Zé”, esquecendo-se do principal mentor da Skodização da Praça das Flores, é elucidativo sobre as prioridades de alguma da indignação sobre este caso. I

 

Vale a pena ler o que escreve o Daniel Oliveira, morador do bairro agora sitiado para a apresentação de um carro, para ter uma noção mais precisa do que se passa na Praça das Flores. 

15
Mai08

Interesse público?

Pedro Sales

Câmara de Lisboa suspendeu montagem da Feira do Livro e pondera cancelamento do subsídio. Alegando uma peculiar noção de interesse público a Câmara indica, num extenso comunicado, que:


"Mostrando-se intransigente em relação aos pavilhões da Leya, que representa autores como Lobo Antunes, Lídia Jorge e Saramago, a APEL corre o risco de perder o subsídio camarário: a autarquia pode vir a invocar a perda de interesse público do evento, por via da possível ausência destes autores."


Pode ser que tenha escapado a António Costa, mas os lisboetas não se têm deslocado todos os anos à Feira do Livro por causa do autor A ou Z, mas porque gostam da Feira. Há muito que os passeios no Parque Eduardo VII fazem parte da tradição anual de milhares de pessoas e transformaram a Feira num dos mais populares eventos culturais de uma cidade em que eles não abundam. Pior. Ao associar o interesse público à presença de certos autores, defendendo as pretensões de uma editora interessada em gozar de um tratamento de excepção,  a Câmara aceita a chantagem dos grandes grupos editoriais. Este ano são os pavilhões especiais que a Leya teima em montar. Mas, aberto o precedente, quem é que garante que a chantagem da Leya não vai subir de tom? E o que pensarão as outras dezenas de autores e editoras que, no entender da Câmara, não são dignos do interesse público? Se a decisão é mais do questionável, a justificação é inaceitável. Uma trapalhada, agora com a mão de António Costa.


Actualização: Através do Gabriel Silva, na caixa de comentários deste post, fiquei a saber que as afirmações citadas no site do Público não constam do comunicado da CML. Curiosamente, deixaram também de constar na notícia do Público.pt... Aguardemos, então, para ver como é que se resolverá este cada vez mais complicado imbróglio.

15
Mar08

Para quê e para quem?

Pedro Sales

Há várias décadas que a zona ribeirinha da capital é uma coutada privada do Porto de Lisboa, desprovendo a cidade de mecanismos públicos para o ordenamento e gestão desta zona nobre. É por isso difícil de compreender o veto político do Presidente da República à transferência para a autarquia da gestão da zona ribeirinha, uma das raras matérias que garantia o consenso de todas as forças partidárias.

E é ainda mais estranho porque, numa atitude inédita, o Presidente não explicita os motivos que o levaram a devolver o diploma para o Governo. O incómodo com a decisão é tão óbvio que lançou os conselheiros de Cavaco Silva num jogo de palavras de mais que questionável honestidade intelectual. Tentando negar o óbvio - a existência de um veto político -, Belém garante que se limitou a devolver o diploma. Só que, como os conselheiros do PR muito bem sabem, uma e outra coisa querem dizer o mesmo.

Fica por saber o que é que leva Cavaco Silva a pretender manter uma parte da capital nas mãos da administração do Porto de Lisboa, ainda por cima sem o explicar e sem coragem para assumir o peso político da sua decisão.
04
Dez07

Anedota com laranja

Pedro Sales
O PSD, que usou e abusou de uma maioria absoluta na Assembleia Municipal que não representa a vontade do eleitorado para criar uma crise artificial na capital, apresentou uma solução de compromisso para aceitar o empréstimo para saldar as dívidas que o próprio PSD deixou. 400 milhões de euros e não se fala mais nisso. Uma redução de 100 milhões. No final, o acordo proposto pelo PSD foi aprovado com a abstenção dos deputados...do PSD. Começa a não haver palavras para descrever as trapalhadas deste partido.
29
Nov07

É preciso topete

Pedro Sales
O mesmo partido que deixou uma dívida de 360 milhões de euros na câmara de Lisboa, depois de seis anos de desvario absoluto a que condenou a gestão da cidade, achou por bem votar contra o empréstimo para saldar as dívidas aos fornecedores que ameaçam fechar a torneira e deixar a capital ingovernável. O PSD foi a única força que votou contra o empréstimo, que tinha sido um dos principais temas da campanha, dando bem conta da irresponsabilidade que continua a tomar conta deste partido.
23
Out07

Uma melodia tão agradável que tapamos os ouvidos

Pedro Sales
No nosso Clube, o ruído dos tiros, é uma melodia comparado com o dos aviões que cruzam a cidade e com o próprio ruído produzido pelo trânsito infernal ao qual felizmente escapamos neste local. No site do Clube de Tiro de Monsanto.

Pela minha parte, que costumo andar de bicicleta em Monsanto, e ainda não me habituei à melodia do chumbo a cair no capacete, confesso que gostava de perceber que música é que os responsáveis por este clube de tiro deram ao PSD, Carmona Rodrigues e Helena Roseta - que votaram contra a remoção desta bizarria lisboeta, permitindo a perpetuação de um clube de tiro dentro de um parque florestal no centro da cidade.
10
Set07

Oh, que horror, já há chineses na baixa de Lisboa

Pedro Sales
Maria José Nogueira Pinto não quer lojas chinesas na Baixa de Lisboa, preferindo concentrá-las no Martim Moniz. Diz que é a única forma de “travar o declínio” da zona nobre da capital: “se continuam naquele território, nunca mais vai ser possível deitar mão ao pequeno comércio”.

Só que, como Nogueira Pinto deveria saber, os problemas do pequeno comércio da baixa pouco ou nada têm a ver com as lojas chinesas, mas com a mudança da geografia comercial da cidade para as grandes superfícies como o Colombo, com a desertificação do centro da cidade e com os horários, completamente desfasados da realidade, do comércio tradicional. Expulsar os chineses não tem nada a ver com a defesa dos pequenos comerciantes, é antes o mais puro reflexo do preconceito social de quem não suporta ver a baixa da cidade contaminada com produtos típicos da “loja dos 300” e que só os pobres é que parecem ter "gosto" em comprar.

O Diário de Notícias, que aplaude a iniciativa, dá eco a esse sentimento:“Quando uma câmara permite abrir tantas "lojas dos 300" e "dos chineses", em vez de lojas de qualidade, especializadas e bonitas, que dão prazer de ver a quem compra como a quem passa por elas - turistas incluídos -, está a contribuir para que a cidade se degrade”. Para que isso não aconteça, remata o centenário jornal, nada melhor do que colocar estas lojas num local específico, como fez Nova Iorque com as “bancas de quinquilharias dos chineses(sic)”. Só que, nem Chinatown são bancas de quinquilharia, nem é um amontoado de "lojas dos 300". Tem de tudo, desde o comércio mais barato até ao especializado e de luxo. (já agora, vale a pena ler qualquer coisa sobre a sua história, para perceber a legislação e o clima de xenofobia a que está associada a sua criação).

Mas nada disto é de espantar. Nogueira Pinto defende o que sempre defendeu. Uma visão do centro da cidade uniformizada e reservada às “lojas âncora”, grandes multinacionais e pequeno comércio de lojas “bonitas”. Chamar cosmopolitismo a esta visão asséptica da baixa tem quase tanta piada como tentar perceber que base legal é que Nogueira Pinto vai invocar para proibir a aquisição de um estabelecimento comercial com base na nacionalidade do seu proprietário. É mais fácil enganar um editorialista distraído do que a constituição, é o que vale.

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