José Manuel Fernandes, o intelectual do jornalismo Lux
A penúltima edição da Lux garantia, à largura de toda a capa, que “Paulo Sousa não quer saber dos filhos”, pois “só tem olhos para a filha de Cristina Moller”. A acompanhar o lixo do texto, a revista colocava uma foto da filha da apresentadora de televisão e outra com o ex-jogador abraçado a Cristinina Moller. Nem é preciso discutir as questões deontológicas levantadas pelo “jornalismo” absolutamente miserável desta revista, mas não deixa de ser espantoso constatar como, num registo mais sofisticado, e sem levantar o dedo acusatório a ninguém, José Manuel Fernandes estende o anátema a todas as famílias monoparentais. Sem papá e mamã, mesmo que passem a vida a discutir à frente do(s) rebento(s), são disfuncionais. O mesmo director do Público que passa a vida a assinar editoriais contra o carácter impositivo da esquerda, e a pretensa superioridade moral daqueles a quem classifica como “bonzos”, dedica-se agora a definir quais são as famílias saudáveis e as que resultam de uma qualquer disfunção. Esta visão ahistórica da família, que não anda muito longe da de Ferreira Leite, demonstra bem o conservadorismo radical de muitos dos ideólogos liberais cá do burgo.
PS: Se José Manuel Fernandes quisesse saber o que é que representa um carácter verdadeiramente disfuncional na vida das pessoas, independentemente das famílias serem ou não monoparentais, talvez não fosse má ideia passar dois minutos a pensar nas consequências das propostas de desregulação e aumento do horário de trabalho pelas quais sistematicamente faz campanha. Que o CDS, auto-intitulado defensor da família, seja o único partido que, entre nós, apareceu a defender a semana de trabalho de 65 horas, diz muito sobre as verdadeiras preocupações familiares da direita.