16
Nov07
O glorioso caminho para a novilíngua socialista
Pedro Sales
Vieira da Silva parece ter atingido o ponto em que o seu discurso deixou de ser inteligível, um processo também conhecido como o síndroma Manuel Pinho e Mário Lino. Hoje, reagindo às notícias que dão conta que o desemprego permaneceu nos 7,9% no último trimestre, congratulou-se com os números, dizendo que "este ano a taxa de desemprego não cresceu do segundo para o terceiro trimestre. É um bom sinal". O bom sinal perscrutado por Vieira da Silva corresponde à estabilização do desemprego no nível mais elevado de sempre e na terceira taxa mais elevada da zona euro. As suas declarações revelam um notável esforço para torturar os números até eles cederem, pelo cansaço, ao notável esforço para criar uma novilíngua socialista. Vejamos.
- "Agora há mais 100 mil postos de trabalho em termos líquidos. Temos a maior população empregue da nossa história". É verdade. Mas também temos o maior número de desempregados da nossa história e a taxa de desemprego não pára de subir. Pela primeira vez, em 28 anos, ultrapassámos a Espanha nesta pouco digna distinção.
- Só "no terceiro trimestre, foram criados mais 45 mil postos de trabalho", disse Vieira da Silva. É verdade. Mas, se foram criados 45 mil postos de trabalho e aumentou o número absoluto de desempregados, isso só quer dizer que a criação de postos de trabalho não responde à entrada de mais pessoas na população activa.
- O desemprego estabilizou, garante o ministro. Meia verdade. Do segundo para o terceiro trimestre é verdade. Mas, em relação ao mesmo período do ano passado, que é o que conta, aumentou mais 0,5%. Não é preciso ter andado numa faculdade de economia para perceber que as variações sazonais de emprego são pouco importantes. A taxa homóloga é o indicador mais relevante e esse, claro, foi um número que Vieira da Silva nunca referiu. O que importa não é a queda, mas a forma como se aterra.