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Dez07
Foi um sucesso pá, não foi?
Pedro Sales
A mensagem vem repetida, a uma só voz, em toda a imprensa portuguesa. A cimeira Europa-África foi um sucesso alterando o paradigma das relações entre os dois continentes. Doravante partilhamos a “mesma agenda”. Que sentido tem isto? Como é que o continente onde se encontra a maioria dos países mais miseráveis do mundo pode ter a mesma agenda do bloco comercial mais poderoso do planeta? Qual é a agenda comum entre um operário qualificado alemão e um trabalhador agrícola moçambicano, que passa quase toda a sua a vida sem sair do latifúndio onde trabalha? E entre a economia francesa e do Chade. A "mesma agenda" não passa de um eufemismo para a liberalização e desregulação dos mercados. Foi esse o caminho para o desenvolvimento que a Europa propôs a África. Não deixa de ser irónico que os líderes de um gigante agrícola altamente subsidiado, fechado e regulado se dirijam, paternalistamente, para os países pobres ou em vias de desenvolvimento e exijam a abertura total e desregulação do seu mercado como condição para o seu interesse. O que é bom para nós nos desenvolvermos e tornarmos ricos não serve para vocês. Nós temos a receita. É o liberalismo assimétrico no seu esplendor
Que tenha sido um dos poucos líderes decentes a bater com a porta, o presidente do Senegal, ou a principal potência industrial, a África do Sul, a dizer que os acordos de parceria economia não servem é sintomático. Parece que alguns ditadores provocam dores de cabeça a Gordon Brown e demais líderes europeus. Passam a vida a falar de bom governo e governança enquanto as empresas europeias florescem com acordos leoninos assinados às claras com as piores tiranias. Mas, como sempre, as dores de cabeça e os embaraços que contam ainda têm lugar com a autonomia que só a democracia permite.
Que tenha sido um dos poucos líderes decentes a bater com a porta, o presidente do Senegal, ou a principal potência industrial, a África do Sul, a dizer que os acordos de parceria economia não servem é sintomático. Parece que alguns ditadores provocam dores de cabeça a Gordon Brown e demais líderes europeus. Passam a vida a falar de bom governo e governança enquanto as empresas europeias florescem com acordos leoninos assinados às claras com as piores tiranias. Mas, como sempre, as dores de cabeça e os embaraços que contam ainda têm lugar com a autonomia que só a democracia permite.